Foram sinais claros que fizeram soar o alarme da polícia americana e do FBI: um casal no estado da Flórida informou que sua filha estava desaparecida. Colegas de classe disseram que a jovem de 18 anos contava sobre sua “fascinação” com o massacre na Escola Secundária Columbine, em Littleton, Colorado.

E então descobriu-se que ela havia comprado três passagens aéreas de ida para o Colorado, e estivera numa loja de armas lá. Tudo isso apenas alguns dias antes de se completarem 20 anos desde a carnificina que deixou 13 mortos.

Como precaução, as autoridades do Colorado fecharam as escolas do estado. O mistério chegou ao fim na quarta-feira (17/04), quando os policiais encontraram um corpo da desaparecida numa área remota do estado montanhoso: a jovem aparentemente se suicidara.

Esse pequeno episódio, que tirou o sono de muitos no Colorado, ilustra o enorme impacto que o massacre em 20 de abril de 1999 tem até hoje. Bill Clinton, então presidente dos EUA, falou de um “dia que mudou todos nós”, no décimo aniversário da chacina.

Columbine tornou-se um símbolo do horror quando estudantes disparam com armas contra seus colegas. Desde então, o número e a frequência de tiroteios em escolas aumentaram dramaticamente.

O legado deixado pelos dois perpetradores, ambos alunos de Columbine, também atribuiu uma nova qualidade aos massacres: eles detalharam em mensagens de vídeo o que pretendiam fazer.

Em suas curtas vidas, eram solitários, postumamente foram glorificados por seus atos. Assim, aparentemente inspiraram a estudante da Flórida, que nem havia nascido na época do massacre.

Planejamento meticuloso

Eric Harris e Dylan Klebold haviam planejado meticulosamente a ação, com meses de antecedência: eles pretendiam detonar bombas em sua escola, a Columbine High School, e atirar no estacionamento contra quem tentasse escapar. Em seus delírios, 250 deveriam morrer.

Em 20 de abril de 1999 – coincidentemente o 110º aniversário de Hitler –, começaram a realizar seu plano: entraram na escola armados até os dentes e depositaram no refeitório duas bolsas esportivas com bombas de gás propano. No entanto, os temporizadores não funcionaram. Quando os criminosos de 17 e 18 anos perceberam isso, começaram a atirar, de forma aparentemente aleatória, contra crianças em idade escolar.

A maioria de suas vítimas foi atingida na biblioteca da escola. Lá, uma professora conseguiu ligar para o telefone de emergência. Até hoje não se tem uma explicação por que os dois atiradores percorreram novamente a escola sem disparar. Por fim, Harris e Klebold recuaram para dentro da biblioteca e se suicidaram lado a lado.

O tiroteio já havia terminado, quando forças especiais fortemente armadas invadiram a escola. Os jovens desequilibrados mataram 12 estudantes e deixaram 25 gravemente feridos. O 13ª morto foi um professor da escola.

Quando as balas pararam de soar, uma pergunta soou, ensurdecedora: por quê? De particular importância para os investigadores foi toda uma série de vídeos próprios, com os quais os assassinos quiseram controlar como a posteridade deveria perceber tanto a eles quanto seus motivos.

Eric Harris (esq.) e Dylan Klebold em vídeo feito durante o massacre de ColumbineImagens indeléveis: Eric Harris (esq.) e Dylan Klebold em vídeo feito durante o massacre de Columbine

A maioria desses vídeos foi gravada no porão da casa dos pais de Harris, por isso as imagens ficaram conhecidas como “basement tapes” ou “fitas do porão”. Como as autoridades não queriam arriscar que servissem de inspiração para imitadores, as fitas foram destruídas após uma avaliação completa.

Anteriormente, os repórteres da revista Time  puderam ver trechos delas. Em sua reportagem, escreveram que a primeira fita era “quase insuportável de assistir”. Citando uma declaração de Harris do vídeo, a revista resumiu a mensagem central: “Não pense que estávamos tentando imitar alguém”. Eles diziam ter se inspirado em outros assassinos em escolas, e que seu plano seria melhor, “não como aqueles idiotas de Kentucky […] que só tentaram ser aceitos pelos outros”.

Mais tarde, psicólogos e especialistas expressaram diferentes teorias sobre o que motivou Harris e Klebold. O consenso é que seriam dois estranhos no tecido social da escola e queriam se vingar dos que não os aceitavam. Klebold havia escrito anteriormente numa redação escolar: “Três tiros atingiram o maior puxa-saco na cabeça.”

Os pais dos dois assassinos ficaram particularmente no foco do público. Como os dois monstros podem ter crescido sob sua educação? Os Klebolds afirmaram mais tarde que o filho não se perdera por causa, mas apesar de sua criação.

Num dos vídeos, Harris citou A tempestade, de Shakespeare: “Good wombs hath borne bad sons” – “Bons ventres geraram filhos maus”. O cineasta Michael Moore abordou o massacre no documentário Tiros em Columbine, pelo qual recebeu um Oscar em 2003.

Vinte anos cheios de massacres

Embora Columbine tenha sido um massacre escolar especialmente terrível, não foi o primeiro e nem de longe, o último. Também ficou gravado na memória o horror de Sandy Hook em 2012, quando um homem matou 20 alunos do ensino fundamental e sete adultos. Ou na faculdade técnica Virginia Tech, onde um atirador assassinou 32 pessoas em 2007.

Depois desses dois, e também depois de muitos outros massacres, houve pedidos nos EUA para que se restringisse mais o acesso às armas de fogo em geral, ou pelo menos a pistolas e metralhadoras. Mas até agora a perspectiva de mudanças verdadeiras esbarrou no poder do lobby da associação americana de armas NRA.

Os EUA têm um problema enorme com a violência armada. Nos primeiros três meses e meio de 2019, pelo menos 112 pessoas morreram em “tiroteios em massa” – de acordo com dados da organização Gun Violence Archive (Arquivo de Violência Armada).

Há cerca de um ano ocorreu o massacre de Parkland, na Flórida, em que um ex-aluno da Escola Secundária Marjory Stoneman Douglas matou a tiros 14 estudantes e três adultos.

Liderados pela sobrevivente Emma González, de 19 anos, os alunos de Parkland lançaram grandes campanhas para o endurecimento da legislação de armas. Um destaque foi a “Marcha pelas nossas vidas”, com manifestações em centenas de cidades.

A “geração Columbine”, dos estudantes nascidos após o massacre de 1999, mostrou que não quer mais tolerar o perigo de estar constantemente sujeita à violência armada em suas escolas.

Fonte: Deutsche Welle

______________________________________________________________________

Acompanhe as redes da Gazeta do Cerrado24 horas por dia:
Twitter - Gazeta do CerradoTwitter: (@Gazetadocerrado): https://twitter.com/Gazetadocerrado?s=09
YouTube - Gazeta do CerradoYouTube vídeo reportagens e transmissões 🔴 AO VIVO🔴: https://www.youtube.com/c/GazetadoCerrado-TVG
Aproveite e siga agora mesmo cada uma de nossas redes, pois cada uma delas possui características próprias e são complementares. Estamos sempre a disposição.
Para denúncias ou coberturas: (63) 983-631-319
Anunciar na Gazeta ou em suas redes sociais (63) 981-159-796