Passados 13 anos da implantação da Lei Seca (Lei nº 11.705/2008), o Brasil ainda enfrenta desafios em sua política de álcool zero para condução de veículos. Apesar de avanços, como a redução do índice de óbitos atribuíveis ao álcool por sinistro de trânsito entre 2010 e 2018 (de 22% para 16,4%), dirigir após a ingestão de álcool impacta a vida de cerca de 83 mil brasileiros por ano, entre internações e óbitos. Isso significa que a cada hora, o país registra cerca de 8 internações e 1 morte em razão dessa combinação perigosa. Os dados fazem parte de análise inédita do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, referência nacional no tema, a partir da publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2021.

“A direção de veículos após a ingestão de bebidas alcoólicas é um grave problema de saúde pública. Tivemos avanços importantes e precisamos trabalhar para que a população entenda que os efeitos do álcool são complexos e variam de pessoa para pessoa. Por isso, a melhor recomendação quando falamos em preservação de vidas é abster-se totalmente de bebida alcoólica se for dirigir, porque mesmo em pouca quantidade, o álcool pode afetar a capacidade de direção. É preciso que fique claro: álcool e direção, nem com moderação”, analisa Arthur Guerra, psiquiatra e presidente executivo do CISA.

No Brasil, os sinistros de trânsito são a principal causa de internação e a segunda de óbitos atribuíveis ao álcool, sendo responsáveis, respectivamente, por 20% e 16,4% dos casos. Com relação às hospitalizações, a taxa é de 34/100 mil habitantes, enquanto o índice de mortes é de 5,3/100 mil habitantes.

As maiores vítimas são homens (84% das internações e 88,3% dos óbitos) e a faixa etária dos 18 a 34 anos (44,4% das hospitalizações e 37% das mortes). No entanto, quatro capitais avançaram na redução da condução pós-álcool por homens e registraram tendência de queda expressiva nesse índice para o período de 2011 a 2019, Recife (-10,8%*), Vitória (-9,7%*), Natal (-6,4%*) e Salvador (-5,5%*).

Em relação às mulheres que dirigem após beberem, quatro capitais apresentaram tendência de aumento importante: Manaus (+15%*), Palmas (+9,5%*), Belo Horizonte (+6,6%*) e Florianópolis (+4,5%*). Somente em Natal a tendência é de queda com variação média anual de -10,9%.

“O Brasil se destaca como um dos 15 países no mundo que estabeleceram a tolerância zero para o consumo de álcool por motoristas. Porém, não basta legislação se não houver fiscalização e punição exemplar. Também precisamos de um olhar a longo prazo e nessa direção é fundamental a realização de campanhas educativas, sobretudo voltadas para os mais jovens”, defende Guerra.

Álcool e direção: O consumo de álcool está diretamente relacionado a maior risco de envolvimento em acidentes de trânsito. No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde, o uso nocivo de álcool é responsável por 36,7% dos acidentes de trânsito envolvendo homens e 23% com mulheres. A destreza e outras habilidades necessárias para a direção, como o tempo de reação e os reflexos, são prejudicadas muito antes dos sinais físicos da embriaguez começarem a aparecer. Isso porque, já nos primeiros goles, as inibições e a capacidade de julgamento são rapidamente afetadas, aumentando a probabilidade de tomadas de decisão equivocadas e de comportamentos de alto risco, como excesso de velocidade e falta do uso de cinto de segurança. Em altas doses, a bebida alcoólica pode também causar sonolência ou até mesmo ocasionar a perda da consciência ao volante.

*Variação média anual.

Sobre o CISA

O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) é uma das principais referências no Brasil sobre este tema e desde sua fundação, em 2004, vem contribuindo para a conscientização, prevenção e redução do uso nocivo de bebidas alcoólicas. Qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), a instituição dedica-se ao avanço do conhecimento na área, atuando na divulgação de pesquisas e dados científicos com linguagem acessível, na produção de materiais e conteúdos educativos e no desenvolvimento de outros projetos, como a publicação “Álcool e a Saúde dos Brasileiros”, um levantamento inédito que anualmente traz análises exclusivas sobre o uso de álcool no Brasil e seu impacto na saúde da população. Acesse nossos canais no YouTubeInstagramFacebook e Twitter e junte-se a nós na missão de reduzir o uso nocivo de álcool!