O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) anunciou nesta quarta-feira (17) que a área de floresta desmatada da Amazônia Legal em 2022 foi a maior dos últimos 15 anos.

De agosto de 2021 a julho de 2022, foram derrubados 10.781 km² de floresta, o que equivale a sete vezes a cidade de São Paulo.

Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do instituto, que diferem da metodologia do Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que também divulgou números na última sexta-feira (12). Segundo o Imazon, os satélites usados são mais refinados que os dos sistemas do governo e são capazes de detectar áreas devastadas a partir de 1 hectare, enquanto os alertas do Inpe levam em conta áreas maiores que 3 hectares (entenda mais abaixo).

Ainda de acordo com os novos dados do Imazon, essa foi a segunda vez consecutiva em que o desmatamento passou dos 10 mil km² no período.

Somadas, as áreas destruídas nos últimos dois calendários chegaram a 21.257 km², quase o tamanho do estado de Sergipe. Os dados do instituto também apontam que essa foi a quarta vez seguida em que a devastação atingiu o maior patamar desde 2008, quando o Imazon iniciou o monitoramento com o SAD.

Imazon x Inpe

 

O sistema do Imazon detecta áreas desmatadas em imagens de satélites de toda a Amazônia Legal (região que corresponde a 59% do território brasileiro e que engloba a área de 9 estados – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranhão) e leva em conta degradações florestais ou desmatamentos que ocorreram em áreas a partir de 1 hectare, o que equivale a aproximadamente 1 campo de futebol.

Assim como o Deter, do Inpe, o calendário de monitoramento do SAD começa em agosto de um ano e termina em julho do ano seguinte por causa da menor frequência de nuvens na Amazônia. Os sistemas também são semelhantes porque servem como um alerta, mas não representam um dado oficial de desmatamento.

A medição oficial do desmatamento é feita pelo sistema Prodes (também do Inpe) e costuma superar os alertas sinalizados tanto pelo Deter como pelo Imazon. Segundo o Inpe, o nível de precisão do Prodes é de aproximadamente 95%.

Estabilidade das altas taxas de desmate

 

Na última sexta-feira (12), dados do sistema Deter, que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), apontaram também que o acumulado de alertas de desmatamento em 2022 na Amazônia foi de 8.590 km², o terceiro ano consecutivo da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) que os alertam ficaram acima da marca de 8 mil.

Embora o índice indique uma queda de cerca de 2% no acumulado de alertas em comparação ao ano passado, segundo especialistas, o número, porém, continua bastante elevado e não aponta um retrocesso no desmatamento, e sim uma estabilidade das altas taxas de supressão da vegetação nativa.

“O aumento do desmatamento ameaça diretamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazônia”, afirma Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

 

“Além de contribuir para a maior emissão de carbono em um período de crise climática. Relatórios da ONU já alertaram que, se não reduzirmos as emissões, fenômenos extremos como ondas de calor, secas e tempestades ficarão ainda mais frequentes e intensos. Isso causará graves perdas tanto no campo, gerando prejuízos para o agronegócio, quanto para as cidades”, diz.

Amazonas, Acre e Rondônia lideram

 

Ainda de acordo com os novos dados divulgados pelo Imazon, nos últimos 12 meses, 36% do desmatamento ocorreu na divisa Amazonas-Acre-Rondônia, região conhecida como Amacro, onde grandes áreas desmatadas têm ocupado florestas públicas não destinadas e áreas protegidas.

Na área, a alta nos números de desmate em relação ao ano passado foi de 29%, enquanto a devastação cresceu 3% na região amazônica como um todo.

“Isso indica que a Amacro precisa de ações urgentes de proteção, principalmente para evitar que as florestas públicas ainda não destinadas virem alvo de grilagem. E, também, para impedir que a destruição avance pelas áreas protegidas da região, como as terras indígenas e as unidades de conservação”, afirma Bianca.

Fonte: G1