Ana Negreiros – Especial Gazeta do Cerrado

“O combustível que abastece seu carro, fomos nós que levamos até sua cidade”, é com essa frase que a nossa conversa com Douglas do Prado começa. Aos 46 anos, ele continua em ritmo acelerado no transporte de petróleo pelo Brasil e assegura, “o trabalho aumentou” neste período de pandemia pelo Covid-19 e vem sim, acompanhado pelo medo. “Em 2016, eu tive H1N1 na estrada, então, assusta”, revela ele que tem medo de contaminar família.

Sem poder cozinhar no seu caminhão, já que não pode mexer com fogo, Douglas é um dos caminhoneiros que dependem do funcionamento dos restaurantes, mercados e supermercados à beira das estradas. Ele conta que “está complicado viajar.

Não tem comida na estrada e tem posto que não deixa a gente parar”. Mas que está começando a “melhorar”. “A gente já encontra algumas coisas abertas, mas tem situações difíceis. Semana passada entramos em um mercado, e não sabíamos que tinha que usar máscara. Pegamos o produto e mandaram que a gente saísse porque estava sem a máscara. Falamos que tínhamos que comer, que pagaríamos, mas que só iríamos sair com o produto. Pagamos e fomos embora”, ele detalha o caso lembrando que é difícil falar em preconceito.

Douglas do Prado – Divulgação

Mudança na rotina

A vida de Douglas começou pelas estradas do Brasil aos 22 anos. Morando em São Paulo, ele já percorreu o país de Norte a Sul e conta que antes, a preocupação era com o bafômetro. “Hoje eles tiram a nossa temperatura”.

Entre as mudanças na rotina, a escala dos caminhoneiros foi mexida e segundo Douglas, eles estão tentando ficar distantes um do outro. “É difícil essa distância, mas a gente tenta. Estamos assustados. Já temos fama de baderneiro e quando chegamos aos locais que olham que somos caminhoneiros, fica pior”, explica.

O medo de voltar para casa

Morando com a esposa, uma filha e a mãe, Douglas diz que tem medo de voltar para casa e contaminar a família.

“Estamos vencendo barreira, dormindo fora de casa. Não paramos um dia sequer para não falte combustível. Tem colega meu que nem está indo para casa  caminhoneiros que estamos vencendo barreira e dormindo fora de casa, tem gente que nem ta indo para casa com medo de contaminar a família com medo de levar a doença. Aqueles que podem, comprem no mercado local, fiquem com suas famílias”, alerta.

Perguntando sobre a solidão das estradas, Douglas conta que esse vazio foi preenchido pelas redes sociais, que hoje ele conversa com a família e amigos pelos grupos de WhastApp. “Faço chamada de vídeo e converso com minha família”.

Mais trabalho

O trabalho de Douglas aumentou neste período da pandemia porque é a época da safra de cana-de-açúcar e assim, as usinas seguem a todo vapor. “Quem parou foi o pobre, o camelô. As indústrias seguem trabalhando dobrado e precisam do combustível”.

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