Superando toda forma de preconceito, casais homoafetivos estão cada vez mais
dispostos à adoção. Outra quebra de tabu é a adoção tardia (adoção após os
três anos de idade). Em geral, os casais escolhem adotar somente
recém-nascidos, brancos, meninas e sem irmãos. Uma história especial em
Gurupi, teve dupla conquista – a adoção por um casal homoafetivo e tardia. O
presente de Natal antecipado veio para o adolescente J.R.S., 13 anos, na tarde
de sexta-feira, 2, que vivia na Casa de Passagem Criança Cidadã. Com
orientação do defensor público Kita Maciel, da Defensoria Pública de Gurupi,
um casal homoafetivo de Maringá (PR) ingressou com Ação de Adoção, onde a
guarda provisória foi deferida, com o estágio de convivência por quatro meses.

Casado com Christian Sebastian há dois anos, Natalino Ferreira afirma que vive
a realização de um sonho, pois o casal sempre teve o sonho de adotar um filho,
independentemente da faixa etária, pois desejavam propiciar a alguém, que não
tinha amparo de uma família, condições para tornar-se um ser humano feliz e
realizado. “Ser pai é um sonho realizado. Quero poder dedicar muito amor ao
meu filho, que foi muito desejado”, expressa. Para o adolescente, que agora
tem dois pais, a adoção foi um presente de Natal. “Ganhei uma família e me
tornei filho de alguém, é tudo que eu mais queria”, relata.

Ainda no domingo, 4, a nova família mudou-se para a cidade de Maringá (PR),
onde a nova família vai passar o estágio de convivência. J.R.S. foi recebido
na cidade pelos familiares e amigos de Christian e Natalino com festa. A
comemoração contou com uma decoração especial com balões, cartazes que
expressavam boas vindas ao adolescente e até copos personalizados que traziam
o texto “minha família existe”.

História

Com apenas sete anos de idade, J.R.S foi encontrado perambulando pelo Parque
de Exposições Agropecuárias de Gurupi por membros da Polícia Militar, que
acionaram o Conselho Tutelar. Na época, o Conselho Tutelar verificou que a mãe
estava cumprindo pena privativa de liberdade na Cadeia Feminina de
Figueirópolis e expunha o filho à situações de risco e maus tratos. Diante
disso, foi instaurada Ação de Destituição do Poder Familiar e J.R.S. foi
encaminhado para o abrigo, em 05 de junho de 2010. Desde então, nenhum membro
da família, nem mesmo a mãe, se dispôs a reaver a guarda do menor, que ficou
aguardando por mais de seis anos no abrigo, pois não houve nenhum interessado
no Cadastro Nacional de Adoção para adotá-lo.

Christian e Natalino tomaram conhecimento da disponibilidade de J.R.S. para
adoção por meio de um grupo de apoiadores de adoção no Whatsapp. A servidora
do Tribunal de Justiça do Tocantins, Eliandra Souza produziu um trabalho de
conclusão de curso do Mestrado sobre adoção tardia, ficou sabendo da história
de J.R.S. e o indicou no grupo do Whatsapp para o casal, além de contribuir
com uma campanha de arrecadação para as despesas da viagem da família.

Natalino conta que, desde que souberam da situação de J.R.S., ele e o marido
já demonstraram interesse em adotá-lo. Imediatamente, o casal procurou a
Defensoria Pública de Gurupi e recebeu a devida orientação jurídica do
defensor Kita Maciel. “Sentimos na hora em nossos corações que se tratava do
filho que sempre sonhamos. Tenho certeza de que Deus fez o nosso filho para
nós. Pois, se eu pudesse escolher dez vezes, nas dez eu escolheria ele”,
descreve.

A coordenadora do abrigo, Licemara Cardoso conta que J.R.S. sofria muito por
não ter uma família. “Ele sempre via as outras crianças sendo adotadas e se
sentia rejeitado”, lembra. Ela conta que ele não foge à regra da maioria dos
adolescentes e enfrentou revoltas internas que refletem no comportamento,
chegando a cometer até um ato infracional, aplicada medida socioeducativa de
liberdade assistida. Contudo, saber do histórico de J.R.S. não desmotivou o
casal, que seguiu firme na adoção. Segundo Licemara, desde que soube do
interesse do casal, o jovem mudou totalmente. “Ele ficou mais alegre, aberto
ao diálogo, se dedicando aos estudos”, comemora, acrescentando que, desde que
se iniciaram os trâmites judiciais, os adotantes mantinham contato telefônico
com o adolescente, o que trazia muita felicidade ao cotidiano do jovem.

unnamedAdoção

Atualmente, a maioria dos pretendentes à adoção só aceitam adotar crianças com
até dois anos de idade. Enquanto isto, a maioria das crianças disponíveis para
adoção tem mais de seis anos de idade. Segundo o Cadastro Nacional de Crianças
Abrigadas, existem 27.262 crianças com idade entre sete e 17 anos vivendo em
um dos 3.872 abrigos espalhados pelo País.

A coordenadora do Nudis – Núcleo da Diversidade Sexual da DPE-TO, a defensora
pública Valdete Cordeiro conta que a adoção por casais homoafetivos segue os
mesmos parâmetros da adoção por casais heterossexuais. Segundo ela, o primeiro
passo é procurar uma Vara da Infância e Juventude para preencher um
formulário. Nele, os pretendentes colocam se aceitam qualquer criança ou quais
são as exigências. “Os candidatos são convocados para um curso de adoção, com
psicólogos e assistentes sociais e também passam por entrevistas com o
assistente social para conhecer o futuro lar da criança e saber se ele está
habilitado para recebê-la”, ressalta, acrescentando que, diante do relatório,
o Ministério Público dá o parecer e a juíza da Vara homologa a decisão.

Fonte: Defensoria Pública