A Polícia Civil concluiu um novo inquérito sobre supostos funcionários fantasmas no governo do Estado. Desta vez o servidor Mahmoud Wadih Elkadi foi indiciado por peculato e falsidade ideológica. Além de supostamente receber sem trabalhar, ele teria acumulado dois cargos públicos durante quase 25 anos e atuado como operador de um esquema de contratações fraudulentas de servidores públicos que serviram de cabos eleitorais para as campanhas do governador Mauro Carlesse (DEM) e da deputada Valderez Castelo Branco (PP).
A secretaria de Estado da Comunicação afirmou, em nota, que a atual administração do Governo não comenta a movimentação de servidores em anos de gestões anteriores e reitera que não teve acesso ao inquérito. “Portanto, não é possível tecer qualquer comentário conclusivo acerca do caso”, diz a nota.
As investigações foram realizadas pela Delegacia Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Araguaína, norte do Tocantins. A polícia verificou que o servidor Mahmoud Wadih vem acumulando ilegalmente dois cargos públicos efetivos há quase 25 anos.
Isso porque ele é servidor da Prefeitura de Araguaína e do governo do Estado desde 1994. Ao longo desse período ele passou por diversos órgãos até que em 2016 foi lotado na extinta Secretaria-Geral de Governo do Estado do Tocantins, em Palmas.
Conforme a polícia, ele continuou morando em Araguaína e recebendo R$ 11 mil por mês. Logo após a operação Catarse, que encontrou indícios de cerca de 300 funcionários fantasmas na Secretaria-Geral, Mahmoud Wadih foi transferido para o gabinete do secretário de administração e em janeiro de 2019 pediu licença do governo estadual.
A Polícia Civil pediu a quebra do sigilo telefônico e verificou que o servidor esteve em Palmas apenas oito vezes durante o tempo que foi designado à Secretaria-Geral. Para os investigadores, ele recebeu sem trabalhar entre os meses de agosto de 2016 a janeiro de 2019.
Durante buscas na casa do suspeito, que é cunhado da deputada Valderez Castelo Branco, a polícia também apreendeu celulares e encontrou adesivos da campanha de Mauro Carlesse. A partir disto, os investigadores começaram a apurar o envolvimento dele com os políticos.
“Após a análise dos áudios interceptados durante a operação, restou evidente que o investigado funcionou como uma espécie de operador do esquema de contratações fraudulentas de servidores públicos utilizados como capital político nas campanhas eleitorais da referida parlamentar e do então candidato ao governo, Mauro Carlesse”, aponta a investigação.
Ainda segundo o inquérito enviado ao poder judiciário nesta quarta-feira (5), os diálogos deixaram claro o esquema. “Nas diversas conversas entabuladas com seus interlocutores, fica claro que Mahmoud atuava em nome da cunhada e do Governador como arregimentador de ‘cabos eleitorais’ pagos com dinheiro dos contratos de serviços temporários.”
A polícia aponta também que Mahmoud Wadih desempenhou, durante seu vínculo com a Secretaria-Geral de Governo, a função de ‘administrador financeiro’ da campanha eleitoral de 2018 da deputada estadual Valderez Castelo Branco.
Solicitamos ainda posicionamento da Prefeitura de Araguaína sobre a situação do servidor, que supostamente acumulou duas funções públicas de forma ilegal. Ainda tentamos contato com os advogados do servidor citado na reportagem.
Operação Catarse
A Operação Catarse é uma força-tarefa de várias delegacias do estado para investigar danos ao erário público. As investigações começaram após denúncias de funcionários fantasmas do governo do Estado em Araguaína, norte do Tocantins, em dezembro de 2018.
Depois, mandados foram cumpridos na Secretaria-geral de Governo, no Palácio Araguaia, onde os agentes encontraram indícios de que 300 funcionários estariam recebendo sem trabalhar. Essa fase da operação inclusive foi alvo de críticas do próprio secretário de segurança pública.
Outro desdobramento ocorreu na Câmara de Vereadores de Porto Nacional, quando foram cumpridos mandados contra fraudes em licitações. Essa fase foi chamada de Negócios de Família. A suspeita é de que o grupo teria desviado R$ 700 mil.
Gabinetes de deputados também já foram alvo da operação Catarse. Três funcionários da Assembleia Legislativa chegaram a ser presos preventivamente. Neste caso, a suspeita é de que assessores parlamentares tinham que devolver a maior parte do salário para pessoas ligadas aos parlamentares.