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Crônica: O Evangelho da Paçoca

Foto Divulgação

Por Alessandre Acampora

Peguei o ônibus para Taquaruçú cedo. Ali pelas nove da manhã.

O sistema de transporte coletivo em Palmas é muito eficiente. Ônibus passam em horários regulares, sem erro. Quiçá é um dos mais civilizados do brasil. A frota com grande maioria de carros com ar condicionado. Motoristas bem educados mantém uma velocidade limite e constante em todos os trajetos. Só nos horários de pico, entre as horas de chegada e saída do trabalho, ficam um pouco desconfortáveis.

O evangelho da paçoca começou logo aos primeiros quilômetros da viagem. Levantou-se em nome de algum deus, um pateta pastor reverberando o nome desse deus a todo momento. E ligou uma caixa de som com músicas evangélicas, tirou um violão da cartola e cantou hinos carregados de um melodramatismo pesado. Após a cantoria, que tomou todo o ambiente do ônibus e toda a paciência dos passageiros, anunciou que numa daquelas viagens de pregação, que realizava nos ônibus, havia curado uma mulher cancerosa.

Ela recebeu a graça através de sua oração durante o trajeto Palmas – Taquaralto. Depois rezou uma pai nosso e uma ave maria e bradou aleluia repetidamente. Ao final da pregação – e ninguém podia escapar dela senão o agredindo – leu mal um trecho ruim do velho testamento. Concluindo a parábola, afirmou que para sobreviver precisava da ajuda de todos comprando seus sacos de paçoquinhas.

Pensei nas empresas de rede e coachs que os evangélicos estão criando. Escolas de alienados. As técnicas de coach, roubadas à psicanálise estão servindo a doutrinação religiosa com a ideologia da prosperidade. As empresas de rede escravizam consumidores crentes, crentes(?) que com o dinheiro de seu consumo estão colaborando com ideais nobres como a distribuição de renda e de cestas básicas. Dízimo de consumo e formação de uma horda de tarados por dinheiro.

É o evangelho da paçoca que se estende agora pelo antes calmo e civilizado trajeto dos ônibus na cidade de Palmas. O pastor das paçoquinhas disse ao descer do ônibus – eu não sou comerciante, sou um servo de deus. Aleluia!

*Alexandre Acampora é jornalista e morador de Taquaruçu
Divulgação autorizada pelo autor

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