No início deste ano, o Tocantins se comoveu com o caso de desaparecimento da menina Laura Vitória de Oliveira, de 9 anos, em Palmas. Depois de várias suposições e meses de investigação, o caso segue sem resolução. O governo federal possui o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos (CNCAD), mas o Tocantins não aparece listado no campo de busca.
O número de desaparecidos no Tocantins no ano passado foi em 225, entre crianças, jovens e idosos. Já em 2014 a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) contabilizou 387. A queda é 41,86% entre os anos. A SSP não possui dados sobre casos do primeiro semestre de 2016.
De acordo com o relatório da SSP, de 2011 a 2015 1.794 pessoas foram dadas como desaparecidas no Estado. Dessas, 1.109 foram encontradas, não necessariamente com vida. Jovens e adultos, entre 18 e 64 anos de idade, ocupam a maior quantidade de casos nos anos entre 2013 e 2015. Em 2011 e 2012, 413 crianças e adolescentes entre 0 e 17 anos sumiram no Estado. Cerca de 90% dos casos foram resolvidos.
Busca
A diarista Navy Silva dos Santos é mãe de um adolescente de 14 anos e se viu em uma situação desesperadora no mês passado. Ela aguardava seu filho voltar de uma bicicletaria quando percebeu sua demora. “Ele é um menino calado, na dele. Não compartilha muito, mas muito responsável. Sempre chegava na hora combinada. Quando percebi sua demora, fui atrás dele e, depois de horas sem conseguir encontrá-lo, liguei no 190. A atendente falou que eu só poderia registrar ocorrência de desaparecimento 48 horas após o último contato com o meu filho”, indigna-se.
O adolescente foi encontrado dois dias após seu desaparecimento, no KM 10 da rodovia que liga Palmas a Lajeado, no sentido contrário da pista. “Ele já havia chegado em Lajeado e estava voltando para Palmas, mas ficou desidratado e, como não tinha comido nada nesses dias, acabou desmaiando”, conta a mãe, que lembra a sorte do filho por encontrar uma van de transporte público parada na rodovia. “O motorista ligou para a Polícia Rodoviária do Estado e eles o socorreram”, lembra com alívio.
Questionada sobre os motivos que levaram seu filho a ir de bicicleta até Lajeado, a 50 km de Palmas, ela informou que ele estava em busca do pai, que foi trabalhar em Pedro Afonso. “O pai dele está trabalhando em Pedro Afonso e eles são muito ligados”, explica. Depois desse episódio, ele foi para Pedro Afonso ficar com seu genitor.
Registros
O delegado adjunto da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic), Vinícius Mendes de Oliveira, explica que não é necessária qualquer espera para se registrar o desaparecimento. “Desde que você possua informações que confirmem o desaparecimento, como, por exemplo, uma mudança brusca de sua rotina, depoimentos de alguém que tenha visto algo suspeito, tudo isso sustenta um início de investigação. Se a pessoa foge muito desse padrão e existe informação hígida que possa confirmar o desaparecimento, aí sim pode registrar”, informa o delegado.
Casos como o do filho de Navy não são exceções. Para o delegado, crianças fantasiam um encontro com o pai para a formação de uma família perfeita e isso influi em suas decisões. “A fantasia de se ter contato com seu genitor ou até mesmo com super-heróis influem no senso da criança e acabam em locais desconhecidos”, pondera.
Mendes aponta, ainda, três motivos que levam ao desaparecimento de alguém: vontade própria, enfermidade e intervenção de terceiros. “A pessoa, por algum motivo, não quer conviver mais com os que o cercam; ou possui alguma doença, mental ou não, que faz com que ela queira sumir literalmente; e, por fim, temos os casos de sequestro, homicídio, ocultação de cadáver, tráfico de pessoas, entre outros”. Para o policial, casos de desaparecimento por enfermidade, especialmente transtorno psicológico, é o que mais faz vítimas de desaparecimentos no Tocantins.
SSP
Sobre a ausência do Tocantins na listagem de estados no CNCAD, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) informa que a Lei 12.127 que determina a criação do cadastro não indica qual órgão possui competência para inserção e acompanhamento de casos nas unidades federativas. Para tanto, foi criado o site “www.desaparecidos.gov.br” que funciona por adesão, “sendo possível a inserção de casos por qualquer pessoa”.
Fonte: Jornal do Tocantins