Já se perguntou o que aconteceria se todo o gelo da Antártica derretesse? A resposta é tenebrosa: o nível médio dos oceanos subiria 58 metros, altura equivalente a de um prédio de 20 andares. Para nossa sorte, o continente gelado localizado no Polo Sul não vai desaparecer da noite para o dia, mas alterações recentes na sua cobertura mostram que essa ameaça, embora distante, já se anuncia.

Desde 1992, a Antártica perdeu cerca de 3 trilhões de toneladas de gelo, o que se traduziu em um aumento de 7,6 milímetros no nível do mar. Dois terços dessa alta ocorreram nos últimos cinco anos. A conta vem da mais ampla avaliação já realizada sobre as mudanças em curso no continente gelado, em grande medida associadas às alterações climáticas.

O estudo é fruto de um esforço conjunto de 84 cientistas de 44 organizações de pesquisa, liderados pelo Jet Propulsion Laboratory, da Nasa, com apoio da Agência Espacial Europeia (ESA). Coletivamente, os pesquisadores revisaram 24 registros de satélites da perda de gelo na região e publicaram os resultados — reunidos sob o título “Ice Sheet Mass Balance Inter- Comparison Exercise” (IMBIE) — na revista Nature.

A principal constatação dos cientistas é de que o degelo na Antártica passou por dois momentos distintos. Até 2012, a região perdia cerca de 76 bilhões de toneladas de gelo por ano, volume suficiente para aumentar em 0,2 milímetros o nível do mar no mesmo período.

Porém, essa taxa triplicou daquele ano para cá. Entre 2012 e 2017, o continente perdeu impressionantes 219 bilhões de toneladas ao ano, responsáveis por uma alta de 0,6 milímetros no nível do mar a cada ano. É o ritmo de degelo mais acelerado já verificado na Antártica em 25 anos, segundo os cientistas.

Pelos cálculos, o continente está derretendo tão rápido que, se continuar assim, poderá elevar em 15 milímetros o nível dos oceanos até 2100. Para colocar esse número em perspectiva, o principal autor do estudo, o professor Andrew Shepherd, da Universidade de Leeds, explica ao New York Times que por ano o distrito americano do Brooklyn (o mais populoso de Nova York) sofre em média uma grande enchente por ano e que um aumento dessa magnitude poderia gerar até 20 episódios semelhantes a cada ano na localidade.

Os resultados também sugerem que o mundo tem apenas uma curta janela temporal, provavelmente de não mais do que uma década, para reduzir a emissões de gases efeito estufa a fim de evitar as piores consequências das mudanças climáticas. Se o ritmo do degelo não for reduzido, cidades e comunidades costeiras inteiras teriam menos tempo para se adaptar e responder adequadamente à ameaça.

Ainda segundo o estudo, o ritmo de perdas no continente gelado varia. Por ora, a principal preocupação dos cientistas é com a parte ocidental da Antártica, que perdeu 159 bilhões de toneladas ao ano entre 2012 e 2017, bem acima das 65 bilhões de toneladas anualmente perdidas no período de 2002 a 2007.

Na região encontram-se os colossais Pine Island e Thwaites, os dois glaciares com o maior nível de perdas de gelo do mundo, e que, por tabela, mais contribuem para a subida do nível do mar. Menos problemática é a parte oriental da Antártica, que nos últimos anos experimentou tanto perdas quanto ganhos de massa, mantendo-re relativamente equilibrada.

A península Antártica é um dos lugares de aquecimento mais rápido no planeta. As temperaturas na costa oeste subiram cerca de 2,9 graus Celsius (ºC) nos últimos 60 anos, cerca de três vezes a média global, enquanto as temperaturas da superfície do mar subiram mais de 1ºC.

Por Vanessa Barbosa, do site Exame