O Cine Belas Artes, localizado na Consolação em São Paulo, anunciou nesta semana que pode fechar as portas daqui dois meses por falta de patrocínio. A Caixa Econômica Federal, responsável pelo contrato, não renovou o apoio.

IMPORTÂNCIA HISTÓRICA
Inaugurado em 1956, o cinema foi projetado e construído pelo arquiteto modernista italiano Giancarlo Palanti entre 1952 e 1954.

Instalado em um prédio recém-construído de propriedade de Phelippe Azer Maluf, o cinema possuía uma única sala, cuja lotação de 1.400 lugares dividia-se entre o piso térreo e um grande balcão. A estreia foi com o filme “Eles Se Casam Com As Morenas”, estrelado por Jane Russell.

O Cine Belas Artes sofreu um incêndio considerado como criminoso em 1982 (Foto: Reprodução)

Em 1982, o Belas Artes sofreu um grande incêndio e isso o levou a permanecer fechado durante meses. Na ocasião do incidente as três salas do cinema exibiam “Bodas de Sangue”, de Carlos Saura; “Crônica do Amor Louco”, de Marco Ferreri”; e “A Mulher do Lado”, de François Truffaut.

No ano seguinte, o cinema foi reaberto, desta vez com seis salas que estão ativas até hoje. Cada uma homenageia um artista de renome brasileiro, são eles: Villa-Lobos e Candido Portinari no primeiro andar; Aleijadinho e Oscar Niemeyer no térreo; e Carmen Miranda e Mario de Andrade no subsolo.

Cine Belas Artes em 1983 (Foto: Reprodução)

Após constantes mudanças na administração, o cinema enfraqueceu e, em 2011, o dono do imóvel recusou-se a renovar o contrato de locação levando o cinema a fechar as portas em 17 de março 2011. Já no ano de 2014, com intermediação da prefeitura, o Belas Artes reabre com o patrocínio da Caixa e volta à ativa com uma programação mais ampla do que a dos cinemas convencionais.

No ano de 2015, a fachada do edifício e 4 metros interiores foram considerados patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT, o qual afirma no site oficial que o tombamento do Cine Belas Artes é um exemplo de articulação entre as políticas de preservação e políticas públicas de cultura.

Segundo André Sturm, diretor do cinema e ex-secretário da Cultura, o Belas Artes está em busca de uma nova parceria.

IMPORTÂNCIA ARQUITETÔNICA E CULTURAL
Para a arquiteta Aline Coelho Sanches, o prédio é uma peça cultural que ajuda a população na compreensão das transformações da cidade nos anos 1950. “O projeto desse arquiteto [Giancarlo Palanti] é importante porque podemos incluí-lo como um exemplar da coleção que fez de São Paulo um laboratório de experimentação da arquitetura moderna, mostrando a resposta dos arquitetos às demandas da cidade em metropolização”, diz Aline.

A última restauração, feita em tempos mais recentes pelo escritório Loeb Capote, inseriu a janela que mostra o interior do cinema e permite observar a cidade reforçando a relação entre o Belas Artes e São Paulo. O projeto manteve no térreo a bilheteria aberta e o piso de caco de cerâmica escuro. Além disso, a iluminação forma um sol e se reflete no espelho, solução que garante sensação de amplitude ao espaço.

Para o ator Marco Pigossi, o possível fechamento do cinema é uma perda histórica. “Cresci frequentando o Belas Artes, é triste ver que a história se repete”, afirmou. Já para Sturm, o cinema proporciona diferentes visões de mundo para o espectador. “A gente cumpre o papel de oferecer a diversidade”, conta.

 

Intervenção do movimento "Viva o Belas Artes" pela em 2002 pela preservação do prédio (Foto: Reprodução)
Fonte: Casa e Jardim