Uma surpresa inesperada tomou conta de uma família em Araguaína, no norte do Tocantins: ao revirar pertences guardados após o falecimento do pai, os irmãos descobriram uma mala contendo quase 32 milhões em cédulas e moedas do século passado, todas do Cruzado – moeda vigente no Brasil entre 1986 e 1989. O técnico de manutenção Waloar Pereira Magalhães conta que, ao encontrarem a mala, a primeira reação foi de espanto e excitação: “Quando ele faleceu, nós evitamos mexer nas coisas dele. Mas um dia, ao abrir a mala, nos deparamos com uma quantidade imensa de dinheiro”, relatou Waloar.
Ao analisar a descoberta, no entanto, a empolgação deu lugar à realidade: a fortuna encontrada não possui valor comercial atualmente. O Cruzado foi substituído ao longo dos anos por outras moedas, como o Cruzado Novo, Cruzeiro e Cruzeiro Real, até chegar ao Real, moeda vigente desde 1994. Assim, as cédulas, com imagens de figuras políticas e culturais da década de 1980, já não têm valor monetário.
André Luiz Padilha, presidente do Clube Numismático do Rio de Janeiro, explica que o estado de conservação das cédulas também afeta seu valor para colecionadores. “Essas cédulas foram guardadas dobradas, unidas e apresentam manchas e marcas de desgaste, o que reduz muito seu valor numismático. Cédulas bem preservadas ou raras poderiam ter um preço de mercado mais elevado, mas neste caso, não há praticamente nenhum valor financeiro para as cédulas encontradas pelos irmãos”, detalha Padilha.
A numismática, que é o estudo das moedas, cédulas, medalhas e outros objetos relacionados ao dinheiro, pode trazer à tona valores históricos ou de mercado, especialmente quando se tratam de itens em perfeito estado de conservação e baixa circulação. No entanto, com o desgaste das cédulas encontradas, a possibilidade de vendê-las com lucro é remota.
Diante dessa realidade, Waloar e os irmãos esperam ainda encontrar uma maneira de tirar algum proveito do achado. “A esperança é que possamos, de alguma forma, transformar esse dinheiro. Talvez algum banco aceite fazer a conversão. Se fosse possível, poderíamos iniciar uma nova fase”, diz Waloar, embora os especialistas indiquem que essa troca é improvável.
André Padilha sugere um destino alternativo para as cédulas: a preservação da história. “Essas cédulas podem ser doadas para instituições educacionais ou museus. Elas contam uma parte importante da história econômica brasileira e podem ser uma ferramenta educativa para as novas gerações”, recomenda.