Foto – iStock
A palavra melancolia foi criada pelo grego Hipócrates, o pai da Medicina, por volta do século IV a.C. e vem da junção das palavras “mélas” (negro) e “cholé” (bílis) —ou seja, o significado primário é “bílis negra”. Na época, Hipócrates definiu a então doença a partir de um conjunto de sintomas como tristeza profunda, olhar fixo no infinito e perda de apetite. Séculos depois, o psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) definiu a melancolia como um luto sem perda, processo patológico que necessita de abordagem e tratamentos específicos.
Hoje, a melancolia é classificada como um transtorno do humor e, evidentemente, tratada como tal, mas o diagnóstico pode vir na forma de depressão melancólica. Seus indícios, inclusive, são bastante semelhantes aos da depressão, diferenciando-se, no entanto, pela presença de angústia no segundo caso.
Na melancolia há uma apatia generalizada, ausência de ânimo, inércia e tédio. A pessoa não só deixa de se interessar por atividades de que antes gostava, como parece demonstrar uma tristeza intensa sem motivo —um quadro que pode, sim, migrar para a depressão.
É importante dizer que existem ainda pessoas com um temperamento melancólico, que se caracteriza por introversão, grande sensibilidade e tendência ao isolamento. Essas características não configuram um problema, desde que não provoquem prejuízos no campo social, profissional ou afetivo. Quando associadas a pensamentos negativos e sentimentos de inferioridade frente a dificuldades ou frustrações, o estado melancólico pode evoluir para um quadro depressivo. Por isso, buscar ajuda ou seguir a recomendação de amigos e familiares diante de mudanças comportamentais é essencial.
Uma avaliação técnica feita por um psiquiatra é importante, para levantar a história clínica, pessoal, social e do desenvolvimento, bem como a avaliação do estado mental do paciente, são cruciais para o diagnóstico. Mas a identificação nem sempre é simples, justamente pela possibilidade de quadros sobrepostos, por isso os detalhes se tornam imprescindíveis.
Depressão versus melancolia
Qual a diferença entre melancolia e depressão? E entre melancolia e tristeza? Essas são algumas dúvidas comuns em relação ao tema. A melhor forma de diferenciar os três estados é utilizar parâmetros como: duração, intensidade e fatores desencadeantes.
A tristeza é um sentimento reativo natural diante de alguma perda ou adversidade e dura algumas horas ou dias. A depressão é desencadeada por fatores bioquímicos, genéticos e hereditários, com ou sem fator externo motivador. É doença que afeta o desempenho, o raciocínio e a concentração. Se não tratada, pode se prolongar por meses ou anos. A melancolia, por sua vez, também pode durar anos, mas não interfere na criatividade ou no raciocínio, por exemplo. O desempenho depende do contexto.
O envelhecimento, com a perda de conexões sociais e surgimento de doenças próprias do faixa etária, é um fator que favorece o surgimento da melancolia. Muitas pessoas têm a percepção aguçada da finitude da vida e a constatação da não realização de sonhos ou desejos do passado.
Mas frustração crônica, amores não correspondidos, problemas relacionais complexos e mesmo a perda de um familiar/ente querido, conduzindo a um quase perpétuo estado de apatia, desinteresse e inércia vital, levam à melancolia mais severa, que por sua vez pode levar à depressão.
Como lidar com a melancolia?
É importante buscar auxílio médico e psicológico. Contar, sem medo ou vergonha, o que se sente. Quanto mais compartilhar essas sensações, maior a possibilidade de adequação e de controle dos sintomas que influenciam a qualidade de vida.
O tratamento pode envolver o uso de medicação antidepressiva para estabilizar o humor, mas a psicoterapia fornece ferramentas para enfrentar a negatividade, ganhar uma visão mais otimista da vida, ajustar-se a eventos estressantes, melhorar habilidades de comunicação e elevar a autoestima.
Meditação e outras técnicas de relaxamento também podem surtir efeito positivo, assim como terapia ocupacional, participação em grupos de apoio, atividade física, tempo de qualidade com entes queridos e sono e alimentação equilibrados.
Fonte – Viva Bem via Uol Notícias