Os problemas diários nos hospitais públicos do Estado, em especial no Hospital geral de Palmas – HGP causam polêmica. De um lado órgãos de controle criticam e apontam falhas graves bem como falta de insumos e do outro o governo justifica que tem tomado medidas que possibilitam controlar a situação.
Nesta sexta-feira, 10, o Conselho Regional de Medicina repudiou a situação dos hospitais. “O CRM-TO repudia a falta de atitude e compromisso da gestão da saúde com a população, médicos e demais profissionais de saúde. O Conselho entende que estes que estão na linha de frente do atendimento já não sabem o que fazer. Com tudo isso cabe a nós lembrar e reforçar que o médico é tão vitima da escassez e do desrespeito quanto o paciente.O CRM-TO e o médico desejam tão somente, condições éticas e dignas de trabalho para atender seu paciente e assim contribuir com a melhoria do quadro da saúde no Tocantins”, afirmou o conselho.
Governo alega medidas
Conforme o governo informou o Hospital Geral de Palmas conta, atualmente, com abastecimento de cerca de 80% de todos os medicamentos e insumos necessários para atender os pacientes, conforme afirmou na tarde desta quinta-feira, 9, o diretor do HGP, Daniel Hiramatsu. “Os outros 20% são medicamentos especiais que faltam em nível mundial ou são específicos e dependem de uma solicitação de compra emergencial ou de uma licitação própria”, complementou.
Para chegar nesse patamar, Daniel Hiramatsu explicou que várias medidas de gestão estão sendo executadas dentro do HGP, visando retomar o foco principal do hospital que são atendimentos de alta complexidade. “O sistema de saúde pública funciona em rede e é hierarquizado. Ele possui o nível básico, o nível intermediário e o nível mais alto, caso do HGP, que atende as demandas de alta complexidade como as cirurgias neurológicas, transplantes e cirurgia cardíaca”, disse.
Segundo o diretor do hospital, o problema é que vários pacientes, que necessitam apenas de atendimentos básicos, são encaminhados pelos municípios e outros estados ao HGP. “Quando temos uma cirurgia de alta complexidade muitas vezes faltam medicamentos e insumos porque eles foram utilizados em pacientes que poderiam ter sido tratados em outros locais. Então não dá para jogar a culpa no HGP e nem no sistema estadual de saúde. Existem três níveis de atendimento. Se um deixar de cumprir o seu papel, com certeza vai pesar para o outro”, explicou.
Cerca de 4,6 milhões de atendimentos foram realizados no ano de 2016 em toda a rede pública de saúde do Tocantins, sendo que a maioria ocorreu no HGP, que atende, além dos tocantinenses, pacientes de outros estados. “Recebemos não apenas pessoas que vem do interior, mas também do Piauí, Maranhão, Bahia e Pará”, relatou.
Medidas de Gestão
Para Daniel Hiramatsu, as medidas que estão sendo executadas no HGP, sob orientação do governador Marcelo Miranda, já começaram a surtir efeito. Segundo o gestor, as ações reduziram cerca de 80% dos pacientes que se encontravam fora dos leitos.
“Nós estamos atuando em duas frentes. Na demanda espontânea, que ocorre quando o paciente procura diretamente a unidade, estamos fazendo uma triagem mais rigorosa. Agora, há um médico designado para fazer a classificação de risco, filtrando os casos que realmente precisam ser atendidos no HGP. Com essa ação, estamos reduzindo gradativamente o número de pacientes que ficavam internados no hospital sem necessidade. O segundo passo foi criar o NIR (Núcleo Interno de Regulação), onde o médico que está encaminhando o paciente passa o caso para o médico do HGP por meio de um sistema e eles discutem a viabilidade desse paciente ser transferido para o hospital ou para outra instituição”, frisou o diretor.
Além das medidas internas de gestão, segundo o governo, há também a reforma e ampliação pelas quais estão passando as instalações do HGP. A obra possibilitará a entrega de mais 200 novos leitos, além da ampliação do centro cirúrgico que contará com mais quatro salas cirúrgicas, sendo duas de grande porte, quatro de médio porte e quatro de pequeno porte, totalizando dez salas; e o espaço do pronto-socorro, que será aumentado mais 2.300 m². “Se continuarmos assim, vamos vencer essa luta. Isso é questão de tempo”, previu Daniel Hiramatsu.
Arrecadação de remédios de amostras grátis
O diretor do HGP defendeu o projeto voluntário de parceria com as clínicas e consultórios particulares para doação de remédios amostra grátis. Segundo ele, mais de 20 médicos já aderiram à ideia. “Essa é uma ação social que visa ajudar as pessoas mais pobres que precisam dar continuidade ao seu tratamento, mas não possuem condição financeira para adquirir os medicamentos. É preciso esclarecer também que nem todos os remédios são oferecidos pela rede pública de Saúde”, explicou Daniel Hiramatsu, informando ainda que essa ação é realizada em Londrina no Paraná e teve grande adesão dos médicos e apoio da população.
De acordo com Daniel Hiramatsu, os medicamentos serão distribuídos aos pacientes que forem atendidos no ambulatório do hospital ou que tiverem alta hospitalar. “O destino de muitas dessas amostras grátis é o lixo. É desumano imaginar que alguém vai deixar de se tratar por causa da sua condição financeira, enquanto remédios, dentro da data de validade, ficarão guardados até vencer ou serão descartados. Por meio de um termo de doação, os médicos podem doar os medicamentos ao HGP e nós iremos repassá-los para a população mais carente”, justificou.
Para a servidora pública e moradora do município de Dianópolis, Sandra Pereira, essa ação encabeçada pelo Hospital Geral de Palmas vai beneficiar a população mais carente. “Precisamos de mais ações como essas, se existem os medicamentos nos consultórios e eles podem ser doados, por que não fazer a doação?”, questionou.
“Essa prática do médico levar medicamentos amostras grátis para o consultório é comum nos hospitais públicos. O que estamos fazendo com esse projeto é apenas oficializando isso, podendo assim seguir o que o diz a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e ampliando o número de pessoas que podem ser beneficiadas”, disse Daniel Hiramatsu, complementando que a Saúde do Tocantins está passando por grandes mudanças, se aperfeiçoando e que para que este processo continue é necessário a união de força de todos os setores da sociedade.