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Por dizer que votaria em Lula, mulher é agredida por apoiador de Bolsonaro em padaria de SP

O ódio propagado pelo pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSC-RJ) já está fazendo vítimas nas ruas. Viralizou, nesta quarta-feira (15), a postagem de uma mulher que foi agredida em uma padaria por um apoiador de Bolsonaro simplesmente por ter dito que, entre o deputado e o ex-presidente Lula, votaria em Lula nas próximas eleições.

(Reprodução/Revista Fórum)

R* contou, no relato que postou no Facebook, que parou com uma amiga na madrugada de quarta-feira para comer na padaria Bologna, na rua Augusta, em São Paulo, antes de ir para casa. No local, dois homens que comiam no mesmo balcão que ela começaram a incomodá-la e, em dado momento, um deles perguntou se em um segundo turno nas eleições de 2018 ela votaria em Lula ou Bolsonaro. Bastou ela dizer que votaria no petista para que o homem começasse a destilar uma série de ofensas de cunho racista e classista.

“Começaram a nos chamar de petistas e dizer que odiavam o PT e todos os petistas, porque o PT os havia roubado, que tinha acabado com a vida de pessoas como eles, de classe média alta. Que agora o dinheiro deles era roubado para sustentar esse monte de pobre, preto e preguiçoso, que não queria saber de estudar e sim de ganhar dinheiro de graça dos outros. E usaram mais diversos outros argumentos preconceituosos em todos os sentidos, racistas, apontando para os funcionários da padaria, como se eles fossem menos e dizendo que “ó lá, esse tipo de gente só pode ser petista também””, relatou R*.

A princípio, R* conta que ignorou as ofensas e se dirigiu ao caixa para pagar a conta e ir embora mas, diante da ofensiva dos dois homens, resolveu rebater. Um funcionário da padaria, então, teria entrado entre eles para intervir e, em um momento de distração, um dos apoiadores de Bolsonaro desferiu um soco em seu olho.

A polícia foi acionada mas os agressores fugiram de carro antes da chegada da viatura. Quando finalmente conseguiu parar uma viatura de polícia na rua, os policiais se recusaram a fazer um boletim de ocorrência pois ela não tinha nenhum dado do agressor.

“Na hora, a sensação foi de pleno abandono e impotência, já que os próprios representantes da lei me disseram que não havia nada a ser feito. Voltei para casa ferida, física e psicologicamente”, contou.

À Fórum, R* disse que depois que postou o caso no Facebook, recebeu inúmeros apoios, inclusive de uma defensora popular, que a auxiliou a registrar um boletim de ocorrência na 4ª DP. Ela também solicitou as imagens do circuito interno de segurança da padaria para tentar identificar o agressor.

Confira, abaixo, a íntegra de seu relato.

Hoje, por volta das 3:30, estava descendo a rua Augusta com uma amiga para ir para casa, quando decidimos parar na Bologna Rotisserie para comer alguma coisa. Passamos pelo balcão, escolhemos um pedaço de pizza para cada uma, e minha amiga foi ao banheiro enquanto eu pegava os nossos pratos. Escolhi dois assentos perto de onde peguei as pizzas para não ter que andar muito com os dois pratos, em um balcão daqueles compartilhados, onde estavam sentados três homens, por volta dos seus 30 e poucos, 40 anos, já comendo. Quando me aproximei com os pratos, um deles estendeu a mão dizendo que estava com fome e que eu deveria dar metade da minha pizza para ele, ache bem rude já que ele e seus amigos estavam muito bem arrumados e eles mesmos poderiam ter pedido o mesmo pedaço como eu fiz, mas mesmo assim, como fui educada a não negar comida a ninguém fiz questão de oferecer o meu pedaço a ele, que não pegou, e logo na sequência um garçom veio servi-lo com o que ele havia pedido, uma grande e bem servida coxinha creme. Mesmo assim, ele continuou a comentar sobre a minha pizza dizendo que parecia estar muito gostosa, etc. Percebi que ele queria mesmo era puxar assunto. Entre os comentários sobre o meu pedaço de pizza, eles começaram a perguntar onde eu estava com a minha amiga, onde eu morava etc. E eu dando respostas curtas, pois não queria estender a conversa.
Quando a minha amiga voltou do banheiro, decidiram entrar em assunto político, perguntando se houvesse um segundo turno entre Bolsonaro e Lula, em quem votaríamos. Respondemos que votaríamos no Lula porque o Bolsonaro não tem condições. Foi quando começaram as ofensas. Começaram a nos chamar de petistas e dizer que odiavam o PT e todos os petistas, porque o PT os havia roubado, que tinha acabado com a vida de pessoas como eles, de classe média alta. Que agora o dinheiro deles era roubado para sustentar esse monte de pobre, preto e preguiçoso, que não queria saber de estudar e sim de ganhar dinheiro de graça dos outros. E usaram mais diversos outros argumentos preconceituosos em todos os sentidos, racistas, apontando para os funcionários da padaria, como se eles fossem menos e dizendo que “ó lá, esse tipo de gente só pode ser petista também”
Tentamos cortar o assunto, desviar o assunto, encerrar a conversa de diversas maneiras tudo para não ter que argumentar a respeito desse tipo de atitude preconceituosa que estávamos presenciando, e cada vez que tentamos, os argumentos foram ficando mais pesados e preconceituosos.
Foi então que decidi me levantar e dizer “Desculpa, vocês estão falando muito absurdo, vou pagar a minha comanda pois não quero mais participar dessa conversa”
Nisso, um deles começou a gritar em alto e bom som “É, VAI LÁ MESMO, POBRE TEM MESMO QUE PAGAR. VAI TOMAR NO CU”
Eu já estava no caixa e voltei para dizer que já tinha escutado ofensas suficientes, e que se ele continuasse me mandando tomar no cu, iria acabar reagindo, e me dirigi novamente ao caixa, porém as provocações continuaram, cada vez mais alto. Então, perdi a cabeça e fui pra cima desse homem, na intenção de que ele se calasse e me deixasse em paz. Ele não se calou, muito menos me deixou em paz, ao contrário, esperou um funcionário do local intervir, para me pegar desprevenida e acertar um soco no meu olho com toda a sua força. Esse soco resultou em um sangramento imediato e então o funcionário pediu que parasse porque ele não tinha o direito de agredir uma mulher.
Enquanto isso eu peguei imediatamente o meu celular e comecei a ligar para a Polícia e enquanto ligava pedi que não o deixassem sair, porque eu estava chamando a polícia e iria fazer um boletim de ocorrência contra ele.Claro que o deixaram sair e ele disse que não iria embora. E claro que mais que depressa, os três entraram no carro em que estavam e fugiram. O funcionário do local disse que tentou anotar a placa,mas voltou com um número que não tinha certeza se estava certo, e ao ligar para a polícia para confirmar se a placa batia com o veículo que ele viu arrancar com os três sujeitos dentro, foi constatado que não.
fiquei parada do lado de fora da padaria aguardando a viatura por mais de 40 minutos e nada. Tentei ir à delegacia que era a menos de cem metros do local e a mesma estava fechada. Tentei parar uma viatura da GCM que passou pelo local e eles disseram que eu tinha mesmo que aguardar a viatura que eu havia chamado. Então passou uma viatura da PM e nós a paramos relatando o que havia acontecido. Os policiais nem sequer desceram da viatura, não quiseram ouvir o funcionário da padaria. Simplesmente se negaram a registrar um b.o.porque eu não tinha os dados do cidadão a quem eu queria acusar.
Na hora, a sensação foi de pleno abandono e impotência, já que os próprios representantes da lei me disseram que não havia nada a ser feito.
Voltei para casa ferida, física e psicologicamente e aqui no Facebook recebi o apoio para não deixar isso passar em branco, para que mais um agressor não saia impune e satisfeito, pensando que pode fazer o que quer por aí que nada vai lhe acontecer.
Telefonei na padaria para tentar pedir as imagens, porém me disseram que a responsável por isso só estará no estabelecimento amanhã, devido ao feriado.
Agora conto com o apoio de todos para tentar localizar esse cidadão e fazê-lo responder perante a lei pelo que ele fez.
agradeço imensamente a todos que estão sentindo a minha dor e minha revolta junto comigo.
Não vamos deixar passar em branco!

Não passarão!

*O nome da vítima foi preservado por questões de segurança

Fonte: Revista Fórum

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