Foto: Marco Jacob

Maju Cotrim

Uma comunidade perto da cidade mas com problemas crônicos para cerca de 200 moradores. Pertencente a São Miguel do Tocantins, o Povoado Sete Barracas foi um dos visitados pela caravana #gazetanaestrada na região do Bico do Papagaio neste final de semana.

Quando entramos na comunidade crianças brincando nas calçadas, num pequeno bar no centro do vilarejo homens se reúnem para conversar.

Numa casa rosa muitas lembranças daquela que foi considerada uma das maiores líderes populares da história do Tocantins, a Dona Raimunda quebradeira, falecida em 2018. Com a morte da líder que amplificou a luta das quebradeiras, a comunidade busca meios de fortalecer a luta.

Na casa que Dona Raimunda, mora agora um dos netos que vai se instalar com a esposa e os filhos, um desejo da própria líder . Seguindo em frente chegamos na casa de dona Emília Gomes, representante da região do Bico do Papagaio do movimento interestadual das quebradeiras de coco.

A líder nos recebe com um sorriso e relata que se recupera de um problema no braço e por isso não quebra mais coco, porém, se transformou na nova representante da categoria no Estado do Tocantins.

No quintal da sua casa, embaixo dos pés de jaca ela começa com os olhos marejados a relembrar a trajetória da amiga Dona Raimunda.

Brinco com Dona Emília perguntando se ela se considera sucessora da dona Raimunda e no papel de líder ela orgulhosa disse que preferia que a amiga ainda estivesse ao lado delas fortalecendo a luta como sempre fez, porém, jamais abriria mão de seguir na luta por dias melhores e pela visibilidade da causa das quebradeiras coco.

À vontade e muito orgulhosa da profissão que representa, dona Emília conta detalhes das dificuldades que as quebradeiras vem passando. Após sete meses de pandemia falta perspectiva de renda, as feiras para comercializar o óleo do coco de babaçu e acima de tudo atenção dos poderes públicos para a situação dessa categoria que tem mais de 400 trabalhadoras só no estado do Tocantins.

Foto: Marco Jacob

São mulheres que criaram os filhos e ajudaram a criar os netos a partir deste ofício, no trabalho árduo de muitas horas por dia quebrando coco para sobreviver numa renda que ainda está longe de suprir até mesmo as necessidades básicas.

A vontade de Dona Emília conta que elas tiveram que se adaptar através de reuniões virtuais no entanto poucas delas tem condições de ter internet e conseguir participar para que elas possam juntas se fortalecer em torno das demandas e ajudar umas às outras de acordo com as necessidades de cada povoado.

Ela nos leva para seu quintal onde a sua filha é que faz uma demonstração de como quebrar o Coco.

Foto: Marco Jacob

Falta de água

Uma das grandes demandas do povo é a falta de água. Dona Emília conta que já chegou a ficar o dia inteiro sem água até para a subsistência básica, tudo isso pela falta de um poço artesiano, demanda antiga da comunidade que até hoje não teve uma resolução ou atenção por parte dos representantes da região, segundo elas.

Um novo poço artesiano é necessário e para isso é preciso mobilização institucional.

Uma comunidade calma que vem buscando superar também os efeitos indiretos da pandemia mostra união, calma porém consciência das necessidades.

Em meio a um período eleitoral as quebradeiras demonstram desânimo com as eleições após meses difíceis.

O auxílio emergencial foi um alívio importante. segundo conta Dona Emília. Algumas cestas básicas foram encaminhadas pelo governo do Tocantins mas ela conta que ainda há comunidade com necessidade de itens básicos como álcool gel e outros mantimentos.

Dona Emília nos acompanhou até o memorial da Dona Raimunda feito com carinho com fotos históricas e lembranças da quebradeiras de coco. Ele está fechado e no momento sem acesso. Ali jaz elementos de uma história que permanece viva e impulsionando aquela comunidade a continuar na luta por dias melhores.

Passamos também pelo cemitério onde está Dona Raimunda está enterrada. Lá as sepultura são padronizadas, e além das necessidades básicas a comunidade diz que a falta de água impede até mesmo de manter a grama verde no local.

Cemitério onde Dona Raimunda Quebradeira de Coco está enterrada – Foto: Marco Jacob

O cenário é muito diferente dos grandes centros. Lá crianças jogam bola outros procuram manga ou caju numa infância diferente no estilo interiorano, mas não pouco importante que se desenvolve naquele povoado.

A pandemia mudou também os modos de sustentabilidade das pequenas comunidades.

Poucas quebradeiras voltaram ao trabalho sem perspectivas ainda de outras rendas. Elas se reinventam para driblar as necessidades que ainda são as mesmas de anos atrás: o do olhar institucional!