Mulher termina mural que mostra vacina contra a Covid-19 ao lado de um rosto de máscara em Jakarta, na Indonésia, nesta segunda-feira (8). — Foto: Demy Sanjaya / AFP
As vacinas que temos hoje têm se mostrado eficazes contra as mutações e variantes do coronavírus detectadas até agora? A resposta curta é: até onde se sabe, de forma geral, sim.
A resposta mais longa é: algumas vacinas tiveram sua eficácia reduzida contra algumas dessas mudanças no Sars-CoV-2, mas ainda foram capazes de induzir uma resposta do sistema de defesa do nosso corpo contra elas. Outros imunizantes ainda não têm resultados divulgados contra essas mutações e variantes.
As vacinas vão continuar sendo, no futuro, eficazes contra essas mudanças? A ciência ainda não sabe, mas o alerta geral, de cientistas do mundo inteiro, é: precisamos acelerar a aplicação das vacinas e aumentar a quantidade de doses disponíveis.
“Ele [o coronavírus] circulando pouco, enfrenta menos o nosso sistema imune e, portanto, é menos provocado a sofrer mutação – é uma questão biológica, de sobrevivência”, explica o pesquisador Carlos Zárate-Bladés, do Laboratório de Imunorregulação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
“A vacinação rápida, com as vacinas que já temos, se torna mais fundamental ainda”, completa o cientista.
Além disso, pesquisadores concordam em um segundo ponto: é importante que tenhamos várias vacinas disponíveis – tanto no Brasil quanto no mundo –, de várias tecnologias, justamente para combater as novas variantes e ampliar a cobertura vacinal.
Nesta reportagem, você verá como está a “briga” das vacinas que temos hoje contra as variantes mais preocupantes do Sars-CoV-2, o coronavírus que causa a Covid-19.
As variantes
Modelo 3D do Sars-Cov-2, o novo coroavírus — Foto: Reprodução/Visual Science
Uma variante é uma “versão” do coronavírus, em outras palavras.Quando uma mutação (uma mudança) começa a aparecer muitas vezes no vírus, em sequenciamentos genéticos, isso significa que ela se “fixou”. Isso configura uma variante em relação à “versão” anterior do vírus, a ancestral. (Entenda mais aqui).
Na tabela abaixo, você pode ver as principais variantes que vêm causando preocupações em cientistas do mundo inteiro.
Principais variantes do coronavírus
VARIANTE | LOCAL DE ORIGEM | PRINCIPAIS MUTAÇÕES | POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS |
B.1.1.7 | Reino Unido | N501Y | Mais transmissível |
B.1351 ou 501Y.V2 | África do Sul | N501Y e E484K | Mais transmissível (N501Y) e com possível enfraquecimento da ação dos anticorpos humanos contra o vírus (E484K) |
P.1 | Brasil (Amazonas) | N501Y, E484K e K417T | Mais transmissível (N501Y) e com possível enfraquecimento da ação dos anticorpos humanos contra o vírus (E484K e K417T) |
P.2 | Brasil (Amazonas) | E484K | Possível enfraquecimento da ação dos anticorpos humanos contra o vírus |
Ao menos um caso de reinfecção pelo coronavírus foi associado à variante P.1 e outros dois à P.2.
No caso da P.1, ao menos três outros estados além do Amazonas já registraram casos: Pará, Bahia e São Paulo. Ela também já foi detectada em ao menos 13 países além do Brasil, segundo um monitoramento internacional de linhagens do vírus que inclui pesquisadores de Oxford e Cambridge. A lista de países inclui Japão, Estados Unidos e Alemanha.
A variante britânica e a sul-africana também já foram encontradas no Brasil.
As vacinas
Profissional de saúde retira dose de frasco da vacina de Oxford para aplicação em Brighton, no sul da Inglaterra, no dia 26 de janeiro. — Foto: Ben Stansall/AFP
Nos infográficos mais abaixo, você pode ver, por tecnologia (plataforma), as principais vacinas que estão sendo aplicadas no mundo hoje ou que estão na última fase de testes em humanos (a fase 3).
Algumas delas já divulgaram seus resultados preliminares e quatro – Moderna, Oxford, Pfizer e Sputnik V – já tiveram esses dados publicados em revistas. Quando isso acontece, é porque eles foram avaliados e validados por outros pesquisadores.
Infográfico mostra como funcionam vacinas inativadas contra o coronavírus — Foto: Anderson Cattai/G1
As vacinas inativadas (como a CoronaVac, as da Sinopharm e a da Bharat Biotech) podem ter vantagens contra as variantes porque o corpo passa a “reconhecer” todas as partes do vírus, e não só a proteína S. Os outros tipos de vacina têm apostado na proteína S como alvo da resposta imune.
Mas essa possível vantagem ainda é teórica e precisa ser estudada melhor, avalia Carlos Zárate-Bladés, da UFSC.
Infográfico mostra como funcionam vacinas de vetor viral contra o coronavírus — Foto: Anderson Cattai/G1
Já as vacinas de vetor viral (como a Sputnik V, a da Johnson e a de Oxford) e as de RNA (como a da Moderna e a da Pfizer) podem não ser eficazes contra as variantes porque o pedaço do material genético que é usado nelas dá instruções para que o corpo construa a proteína S, que o vírus usa para infectar as células. Se o vírus passa por mutações e essa proteína muda, a vacina pode não funcionar mais.
Infográfico mostra como funcionam vacinas de RNA contra o coronavírus — Foto: Anderson Cattai/Arte G1