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Vírus ebola reaparece na África, afirma Organização Mundia da Saúde

Casos estão sendo investigados - Foto - Instituto Nacional Institute de Alergia e Doenças Infecciosas (NIH)

O ebola mais uma vez ressurgiu. Na sexta-feira (11), a Organização Mundial da Saúde informou que houve pelo menos 34 casos suspeitos da doença viral e 18 mortes desde o início de abril no distrito de Bikoro, na República Democrática do Congo. Mas o ressurgimento do Ebola, dificilmente inesperado, não pode deixar de trazer uma pergunta à mente: por que não encontramos uma maneira garantida de curar ou prevenir isso ainda?

A resposta curta é que, na maior parte da existência conhecida do ebola, governos e empresas farmacêuticas não alocavam o tipo de recursos necessários para descobrir e desenvolver tratamentos, tanto por razões práticas quanto econômicas. Mas, após o grande surto de ebola em 2014, essa tendência está mudando.

As vítimas de ebola inicialmente desenvolvem uma doença semelhante à gripe. Muitas vezes, no entanto, o vírus rompe o sistema imunológico com facilidade, fazendo com que ele saia do controle e ataque o corpo em uma tentativa desesperada de matar o vírus. O ebola também infecta as células que revestem nossos vasos sanguíneos e órgãos, dificultando sua capacidade de coagular adequadamente, o que ajuda a desencadear a hemorragia generalizada.

O primeiro surto conhecido do ebola ocorreu na República Democrática do Congo, então chamada de Zaire, em 1976. Foi lá que a doença, batizada com o nome de um rio próximo, se tornou sinônimo de morte. Ela matou 280 das 318 pessoas que se sabe que foram infectadas.

Porém, embora o ebola (e seu primo, o vírus marburg) tenha ganhado, com justiça, uma reputação assustadora nas décadas seguintes, ele nunca se tornou o cenário terrível que alguns jornalistas e roteiristas de Hollywood previram — um assassino pandêmico que pula de pessoa para pessoa, com facilidade. E esse engasgo fez com que a perspectiva de encontrar uma cura ou vacina fosse muito menos prioritária.

Os humanos, por exemplo, não são os principais hospedeiros do ebola, embora ainda exista algum mistério sobre quem pode ser (a aposta agora está nos morcegos frugívoros). Qualquer que seja o principal hospedeiro, ele parece viver apenas em partes específicas da África Ocidental e não entrar em contato com pessoas suficientes para transmitir a doença de forma constante, diferentemente, digamos, dos mosquitos. Mesmo quando infecta as pessoas, o potencial do ebola para se espalhar não tem comparação com o da gripe ou até mesmo com o de um distúrbio estomacal comum. A transmissão de pessoa para pessoa requer contato próximo e prolongado, com fluidos corporais contaminados, como sangue e sêmen.

Por causa desses fatores, o ebola não adoeceu muitas pessoas por mais tempo. Antes do surto de 2014, estima-se que houve menos de 2.500 casos registrados da doença em todo o mundo. Para dar contexto, a malária matou quase meio milhão de pessoas somente em 2016. Em alguns casos, a letalidade de uma determinada cepa do ebola impediu que houvesse tempo suficiente para ele se espalhar (há cinco tipos conhecidos do vírus, um dos quais não adoece os humanos, e suas taxas de fatalidade variam de 25% a 90%).

Organizações de saúde pública como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e a OMS dedicaram tempo para estudar vírus como o ebola, é claro, especialmente tendo em vista o potencial de eles serem usados como uma ameaça de bioterrorismo. E os pesquisadores, muitas vezes financiados pelo governo, tentaram, sim, desenvolver tratamentos e vacinas experimentais, embora estas falhassem ou progredissem muito lentamente. Mas as empresas farmacêuticas e até os governos afetados não acharam que valeria a pena gastar muito dinheiro para encontrar uma maneira de combater algo que era visto como mais uma curiosidade mórbida do que uma ameaça urgente à saúde pública.

Um estudo de 2016, por exemplo, descobriu que, de 1997 a 2013, um total de cerca de US$ 600 milhões foi gasto em toda a pesquisa nos Estados Unidos e na Europa sobre os vírus ebola e marburg, principalmente por fontes governamentais e organizações sem fins lucrativos. Isso pode parecer muito, mas os EUA gastaram mais de US$ 500 bilhões em pesquisa e desenvolvimento públicos e privados somente em 2015.

Mas existem justificativas para esse atraso na pesquisa. De 1979 a 1994, por exemplo, houve exatamente zero casos de ebola reportados. Mas também há o fato de que os surtos tendem a acontecer entre pessoas que vivem em áreas isoladas e empobrecidas da África, tornando-se ainda menos interessante para empresas farmacêuticas com fins lucrativos.

Claro, as coisas mudaram em 2014, quando o maior surto de ebola já visto se espalhou pela África Ocidental e chegou a Dallas e Nova York. No momento em que o surto foi declarado em 2016, havia quase 30 mil casos suspeitos de ebola e 11 mil mortes.

Esse surto desencadeou uma onda de pânico desproporcional nos EUA, assim como discriminação contra pessoas que aparentavam ser africanas. Por mais ilógica que essa reação tenha sido, dada a minúscula ameaça representada pelo ebola nos Estados Unidos, ela levou a uma torrente de recursos para a pesquisa sobre o ebola no país e em outros lugares, particularmente na tentativa de criar uma vacina.

A vacina experimental rVSV-ZEBOV foi originalmente desenvolvida por pesquisadores canadenses financiados publicamente, a partir de 2003. Mas quando o surto de 2014 começou a se espalhar amplamente, ela estava nas mãos da empresa biofarmacêutica NewLink Genetics Corporation. Em seguida, a companhia vendeu os direitos à Merck no final daquele ano. E, em 2015, a Merck, trabalhando em conjunto com a OMS e outras organizações de saúde pública, testou a rVSV-ZEBOV em mais de cinco mil pessoas que viviam na Guiné, onde os casos da doença ainda estavam surgindo.

No final de 2016, os pesquisadores relataram que a vacina aparentemente foi um sucesso. Ninguém que tomou a vacina adoeceu dez dias ou mais depois de recebê-la, em comparação com 23 pessoas que não foram vacinadas e ficaram doentes. Tem havido debates sobre se a vacina é 100% eficaz, considerando que estudos anteriores descobriram uma eficácia menor, mas um artigo publicado na Lancet em abril deste ano sugeriu que a vacina fornece pelo menos dois anos de proteção contra a infecção.

A rVSV-ZEBOV ainda é experimental e apenas protege contra a cepa Zaire, o tipo mais comum de ebola em humanos e responsável pelo surto de 2014. As autoridades de saúde já implantaram a vacina em surtos de menor escala e planejam usá-la no surto atual. Existem também potenciais tratamentos antivirais para o ebola sendo desenvolvidos, embora possa demorar muito tempo para que algum deles se torne amplamente disponível, mesmo que funcionem, já que o número normalmente baixo de casos em um surto dificulta a realização de pesquisas clínicas.

Outras empresas farmacêuticas estão fazendo testes clínicos iniciais de suas vacinas, enquanto pesquisadores de outros lugares estão tentando encontrar uma maneira de criar uma vacina que possa proteger contra vários tipos de ebola, se não todos. Além disso, de 2014 a 2015, mais de US$ 400 milhões em financiamento de pesquisas sobre ebola e marburg foram gastos nos Estados Unidos e na Europa.

Por maior que um tratamento infalível contra o ebola possa ser, isso é apenas uma parte do que é necessário para impedir que o vírus cause danos. Tão importante quanto isso é uma infraestrutura de saúde bem financiada que pode identificar casos rapidamente, evitar mais transmissões e oferecer algo simples, como leitos de tratamento para os doentes.

Fonte: Gizmodo Brasil

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