Lojas Americanas – Foto – Divulgação
O rombo de R$ 20 bilhões no balanço da Americanas pode colocar a empresa na berlinda. Ontem (10/1), a varejista dona das marcas Lojas Americanas, Americanas.com, Shoptime e Submarino informou ter encontrado “inconsistências” em suas demonstrações financeiras.
O problema estaria no lançamento contábil de financiamentos com fornecedores. A nota divulgada pela empresa não dá detalhes, mas segundo analistas a par do assunto, a irregularidade estaria no risco sacado, como é chamado o processo de antecipação de recursos para os fornecedores.
A hipótese mais provável é de que a Americanas “vendeu” os débitos que tinha com fornecedores a bancos e não lançou essas operações como dívida no balanço. Além disso, como é uma operação bancária, a troca de dívida teria gerado juros para a empresa, mas a Americanas teria contabilizado esse custo de forma errada.
No final das contas, a pedalada contábil maquiou o endividamento da empresa de forma relevante.
“A Americanas tem mais dívida do que o imaginado pelo mercado”, admitiu Sergio Rial, presidente da Americanas que renunciou 10 dias após assumir o cargo.
O executivo teria pedido demissão após identificar o rombo praticado antes de sua nomeação.
Rial, que já foi presidente do Santander, convocou uma coletiva na manhã desta quinta-feira (11/1) para explicar a situação da sua saída. Sem dar grandes detalhes sobre o que de fato ocorreu na Americanas, o executivo disse não enxergar risco de liquidez para a empresa. Ou seja, o caixa não deverá ser impactado, a princípio.
A Americanas vai quebrar?
Fontes ouvidas pelo Metrópoles dizem que a equação não é tão simples assim. Para começar, qualquer irregularidade contábil deverá ser lançada pela empresa em seus futuros balanços.
Se tiver que reconhecer uma baixa de R$ 20 bilhões, a Americanas ficará com um valor patrimonial negativo. Até ontem, a varejista era dona de ativos avaliados em R$ 14 bilhões.
Quando isso acontece, a empresa é obrigada, por regra contábil, a cobrir o buraco no valor patrimonial por meio de uma captação de dinheiro no mercado. Para isso, ela deve fazer uma nova oferta de ações, processo chamado de follow-on.
O follow-on poderia alcançar o volume de R$ 6 bilhões. Se confirmada, será a maior arrecadação de recursos em uma oferta subsequente por uma companhia privada desde 2020.
“É bom lembrar que a empresa tem R$ 8,5 bilhões em caixa, então ela poderia sobreviver por mais alguns meses sem precisar buscar dinheiro no mercado. A Americanas não está insolvente. Mas a capitalização deve acontecer e os sócios atuais, principalmente o 3G, aumentarão a fatia na empresa”, explica uma experiente fonte do mercado financeiro.
Outra forma de entender o tamanho do buraco em que a Americanas se colocou é olhando para o endividamento. O endividamento da varejista cresceu de forma acelerada nos últimos anos, saindo de R$ 5 bilhões para R$ 20 bilhões.
Grosso modo, se o rombo fosse contabilizado como dívida, o passivo real da empresa dobraria. Isso reforça a visão de que poderia ter havido manipulação intencional dos números.
Fonte – Metrópoles