Editorial Cultural
Por Marco Jacob
A Cultura pulsa em Palmas
Palmas entra no circuito das capitais brasileiras que promove, produz e estimula a cultura em todos os segmentos.
Um orgulho para quem, no centro do Brasil, achava que a cultura se restringiria à cultura do universo sertanejo ou “curraleiro” como as características regionais são nomeadas por aqui.
Uma cultura riquíssima que vale muito a pena fazer uma imersão e conhecer seus tons, como a viola de buriti, a Sussa, as quadrilhas juninas e suas apresentações em grande estilo com figurinos, coreografia e músicas compostas em cada edição dos Arraiás tocantinenses.
Além do compositores da terra ou que escolheram o Tocantins como casa.
Catira, festas religiosas, comidas típicas, arte do Cerrado a partir do Capim Dourado ou das sementes que dão vida a diversas biojoias apreciadas mundo afora.
E aqui, este editorial é para falar das diversas opções para quem quer sair de casa e ter contato com o universo das artes e conhecer o que vai além, a arte contemporânea do que está sendo produzido aqui e tornando uma agradável alternativa de laser e cultura, encontros românticos, formação de plateia e também e inclusive, um segmento da economia que movimenta o PIB, gera empregos, atrai o turismo, forma cidadãos com visão crítica da sociedade e desperta as mais puras e sinceras emoções.
FATOR ECONÔMICO CULTURAL
Em um estudo encomendado pelo Ministério da Cultura à Fundação Getúlio Vargas, antes da pandemia em 2018, foi comprovado que a cada R$ 1 investido em eventos culturais, pelo menos R$ 13 retornaram aos cofres públicos.
EXEMPLO DE SUCESSO
Em números do Ministério da Cultura, como exemplo do Carnaval do Rio de Janeiro custa R$ 150 milhões. A prefeitura entra com R$ 13 milhões, o Governo Federal entra com mais R$ 13 milhões somados a R$ 124 milhões são as receitas Carnaval (ingressos, de patrocínios, direitos de transmissão de televisão, etc). O resultado deste investimento gerou em 2018 R$ 2,2 bilhões para a economia da cidade. E em 2022 R$ 4 bilhões. Aquece a economia com o um todo, dos hotéis e restaurantes aos camelos, lojistas, costureiras, pontos turísticos tradicionais, ou seja, a cidade é movimentada pela cultura e seu rendimento.
FESTIVAL GASTRONÔMICO
E a cidade de Palmas, em nesta 16ª edição do Festival Gastronômico apontou, segundo os dados da Prefeitura de Palmas, um faturamento de 5 milhões de reais e movimentou toda a cidade, mas principalmente o distrito de Taquaruçu que sedia o Festival que tem como carro chefe as iguarias e criações gastronômicas criadas especialmente para o festival, mas também conta com atrações como a Cozinha Show, com chefs renomados e grandes show, como Nando Reis, Vanessa da Mata e Zezo.
Encerrado com balanço positivo tanto para o turismo, quanto para a cultura e a economia palmenses.
Mas os atrativos não pararam por ai.
CINE CULTURA
Palmas pulsa Cultura no Cine Cultura, com exibição de filmes de diretores locais como de documentários relevantes e que não entram no circuito das grandes salas de Cinema.
Sexta, tive a oportunidade de assistir dois deles no Cine Cultura, localizado no Espaço Cultural de Palmas:
DOCUMENTÁRIO AMBIENTAL
O Documentário “The Territory”, uma produção da National Geographic com os próprios indígenas que participaram tanto como personagens, como realizadores deste documentário que é praticamente um soco no estomago, pois mostra o descaramento de invasores tentando lotear uma parte da área indígena Uru-Eu-Wai-Wai em Rondônia.
Mostra o contraste entre a sobrevivência do povo Uru-Eu-Wai-Wai e quem entra sem ser convidado e quer toma posse de uma parte do território desta etnia, passando por cima de todas as consequências destes atos.
Um sopro de consciência e o paralelo entre os indígenas e os posseiros que invadiram, se organizaram em associação e querem, através da suposta legalidade, roubar as terras indígenas demarcadas.
De um lado o dia a dia dos indígenas, do outro a esperança ou o crime de ter terras sem pagar nada por elas e justamente onde já tem moradores muito antes até da invasão Portuguesa e Europeia neste continente.
Nota do autor: Devemos pensar que estes continentes sequer deveriam ou mereceriam ser nomeado por América, já que faz menção ao Américo Vespúcio, invasor de terras que ignorou totalmente a cultura nativa originária, transformando um continente vivo e povoado em diversas colônias marcadas por mortes através das doenças trazidas pelos europeus.
Assim como Américo, Colombo e tantos “conquistadores” o filme mostra o lado que acha certo invadir e ignorar totalmente os moradores originais.
Vale a pena ir ao Cine Cultura e assistir “The Territory”:
CINEMA TOCANTINENSE
Segunda atração cultural: lançamento do filme do Nival Correia, “Diário de Ana”.
“O documentário é a luta da vida contra o suicídio, com depoimentos de pessoas que tentaram suicídio, parentes, amigos, especialistas no assunto, psicólogos, pastores, espiritas, pais de santo, artistas, esportistas. O documentário tenta compreender a vida como batalha diária, seja no campo espiritual, social e filosófico.”
A exibição de lançamento desta produção independente foi nesta última sexta 16/09/2022 às 19h30 e depois dele, houve um breve debate com o diretor.
Temos sim que falar sobre suicídio e sobre a prevenção a ele. Já que é um problema que atinge a sociedade não só de Palmas, mas do mundo inteiro.
Este filme percorre a vida e a morte (por suicídio) de uma jovem tocantinense Daleti Giovana (in memorian), que já foi em talentosa estagiária aqui da Gazeta do Cerrado e mostrava o potencial para ser uma grande profissional.
Ele aborda os aspectos e preocupações com o tema, sua prevenção, exemplos de pessoas que passam por esta dificuldade e as formas de acolhimento que vão dos fatores médicos e psicológicos aos espirituais e religiosos.
Uma obra necessária para tratar do assunto de forma séria, consolidada e efetiva no acolhimento das pessoas que enfrentam a depressão e que podem ser potenciais candidatos a esta auto tragédia.
A arte mais uma vez exerce o seu papel de fazer pensar e ressaltar debates necessários à vida em sociedade.
Assista o teaser aqui: https://www.youtube.com/watch?v=BDvpROyP8EA
EXPOSIÇÃO COLETIVA
Continuando o circuito cultural de Palmas, no sábado a exposição coletiva “aconchego” fez um café da manhã na manhã com a pintora Solange Alves na galeria AMAN, na 108n, NS 6, n• 14. Mas a exposição continua até dia 23, ainda da tempo para conferir as grandes obras desta exposição coletiva dos artistas Antônio Netto, Marcos Dutra, Pierre de Freitas (in memorian), Ronan Gonçalves e Sergio Lobo.
A curadoria é de Ronan Gonçalves.
Olha só o convite da artista Solange Alves:
TEATRO
O curso de licenciatura em Teatro da UFT apresentou, neste sábado, 17, no espaço do Circo Social Os Kaco em Taquaruçu, a peça de teatro “Eu vou morrer no Brasil”.
O espetáculo é resultado de um processo artístico-pedagógico desenvolvido dentro da disciplina de Montagem Cênica, onde o foco central é o entendimento, na prática, das funções necessárias para a criação de uma peça de teatro.
Com direção do professor Marcial Asevedo que dirige a obra que essencialmente dialoga com os aspectos históricos e contemporâneos do Brasil assim como as provocações que são e devem ser aprofundadas ao olhar crítico desta nação que aparentemente está voltando a se legitimar como uma república das bananas, exportando bens primários, explorando a mão de obra e o controle intelectual das massas através da indústria cultural e política.
Com clássicos da MPB entoados e encenados para contribuir com a narrativa, é um texto forte, que provoca o espectador e dialoga com a sociedade em temas e realidades exploradas através da representação, atuação marcante e até a espetacularização do trabalho escravo, da reprodução de seres humanos, de uns levando e sustentando outros nas relações sociais e questionando até mesmo as referências de vida que influenciam o embrião empobrecido de uma formação crítica e necessária ao cidadão engajado a um país em estágio de desevolução e retorno aos criminosos preconceitos, propagação do ódio, mentiras e da falta de diálogo como resolução de conflitos.
Uma ótima oportunidade para refletir sobre o que está ocorrendo neste processo histórico brasileiro e pensar por que ainda algumas pessoas querem morrer no Brasil.
E o que de fato é o nacionalismo, e sua análise de como podemos aprofundar neste tema em torno do que é ser brasileiro, dentro destas estruturas políticas, sociais e culturais.
Um belo trabalho que merece a atenção do público, realizado por estudantes do curso de Teatro da Universidade Federal do Tocantins.
AMÉRICA LATINA
A independência do Chile foi comemorada por aqui também no Pátio de Chile, que trás a arte e cultura chilena na música e na gastronomia. Vale a pena prestigiar este novo local cultural em Palmas.
FESTIVAL DO LIXO
Ainda em Taquaruçu, foi realizada a Segunda Vivencia do Lixo, com programação diversificada estimulando a pauta deste que pode ser um problema e deve ser tratado como uma solução.
Feira Literária
E ainda em Porto Nacional houve a realização da FLITO – Feira Literária do Tocantins:
CULTURA EM MOVIMENTO
Festival do Chambari
Enquanto isso em Paraíso, temos o Festival de Chambari, que mostra que um prato típico do Tocantins, pode ser o grande anfitrião de um evento turístico mostrando a potencialidade da economia criativa para o desenvolvimento da cultura e da geração de emprego e renda.
Confira aqui na reportagem:
UM CENÁRIO COM FUTURO PROMISSOR
Estes projetos, filmes, ações culturais que enriquecem o cenário local, assim como contribuem para a consolidação da própria identidade cultural do Tocantins, são originados por iniciativas próprias, como a produção independente do “Diário de Ana” de Nival Correa, assim como da academia, no caso dos alunos de teatro da Universidade Federal do Tocantins, assim como de instituições como o SESC que promoveu a FLITO Porto Nacional, iniciativa privada com o espaço cultural-gastronômico Pátio de Chile, e pessoas sensiveis às temáticas atuais como a exibidora, funcionária da Fundação Cultural de Palmas, Elisangela Dantas, que seleciona os filmes e documentários exibidos no Cine Cultura de Palmas.
Isso sem contar a enfervessencia cultural que tivemos este ano com os trabalhos produzidos através da Lei Aldir Blanc, que possibilitou a produção de centenas de obras inéditas em diversos segmentos culturais no Estado do Tocantins, contribuindo para a que a cultura do Cerrado pulse e mantenha a chama viva da arte e seu papel social, intelectual e crítico da sociedade que fazemos parte.
Por Marco Aurélio Jacob
Sócio Fundador e CEO da RAKA Comunicações e Gazeta do Cerrado, Produtor Cultural, Diretor de Filmes e Documentários, Radialista e o mais importante: Contador de Histórias.