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A dor mais doída: Desconhecidos compram livro de jornalista do Tocantins para ajudá-la a quitar dívida com gráfica

Jornalista Caira Lima

Essa história daria um livro! Qual jovem que gosta das letras nunca sonhou em publicar um livro? Esse era o desejo de Caira Lima, 22, mas o sonho virou pesadelo, só que com final feliz.

Caira se endividou toda para publicar a primeira edição do “A dor mais doída”. Gastou o que tinha e o que não tinha, levou um calote da editora, teve que procurar uma gráfica, gastou mais, publicou e, de repente, veio a pandemia e ela não teve mais como vender os exemplares nos eventos e feiras literárias.

Essa é a sinopse da história. A paraense de São Félix do Xingu foi estudar jornalismo em Palmas (TO). O TCC foi um livro-reportagem sobre o tema violência obstétrica e o material ficou tão bom que ela decidiu publicar. E aqui começa a saga.

Ela contratou uma editora e realizou um primeiro pagamento através de uma vaquinha que tinha feito. A data de lançamento foi marcada, mas na véspera a editora disse que o livro não ficaria pronto e sugeriu cancelar o lançamento.

“Aí não dava, minha família toda já tava vindo pra Palmas. Até uma tia funcionária pública mudou as férias para vir. Não dava pra cancelar”, relembrou. Para não frustar a família, Caira correu e imprimiu os livros na própria cidade. “Um material bem ruim, sem ISBN, fiquei triste, mas foi”, disse.

Livro publicado com nova editora saiu rapidinho. Foto: Arquivo pessoal

Em resumo, a editora não mandou os livros e ela teve que contratar uma gráfica. “Muita gente já tinha pago e eu tinha que entregar. Já era Natal, eu ia voltar pra minha cidade e tinha que levar os livros. Então peguei meu décimo terceiro e mandei rodar em uma gráfica”, explicou.

Pandemia cancelou eventos, escritora não vendeu os livros, mas internautas compraram

Em posse dos 500 exemplares, bastava a Caira vender os livros para quitar a dívida com a gráfica. Mas aí veio um novo e inesperado capítulo nessa história: a pandemia do coronavírus.

Livros ficaram engavetados porque não tinha como vender. Foto: Arquivo pessoal

Os eventos foram cancelados e ela não conseguiu vender os livros. Aí surgiu a ideia de postar sobre o problema no Twitter. “Não achei que fosse dar certo. Achei que ia ser muito criticada, de acharem que era mentira”.

Mas foi exatamente o contrário, muita gente apoiou e encomendou o livro. Ela já recebeu o pedido de 200 pessoas depois da postagem. Foi tanta mensagem que o DM travou.

“Fiquei muito surpresa, a repercussão foi enorme, com respostas muito positivas. Eu chorei de tanta alegria e tô até agora assim anestesiada de saber que existe tanta gente boa no mundo“, disse. Tem sim, Caira, muita gente boa nesse mundo!

Foi muita gente encomendando o livro logo após a postagem:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com as vendas depois da postagem, ela já conseguiu o dinheiro e quitou a dívida com a gráfica.

Tio de Caira fez ilustrações do livro à mão e mandou por ônibus

Esse é um livro literalmente feito a muitas mãos. As ilustrações da edição foram feitas pelo tio de Caira, Jhol Alves. Ele mora no pequeno distrito de Taboca e enviou as obras em um ônibus para São Félix do Xingu, onde o pai de Caira recebeu, digitalizou e enviou para ela.

Depois uma amiga computadorizou as imagens. “Quero conseguir vender livros suficientes para presenteá-lo com equipamentos profissionais para ele fazer ilustrações“, disse.

A jovem escritora sempre teve incentivo dentro da família para seguir com os estudos e a leitura, apesar das dificuldades financeiras. “Aprendi a ler muito cedo, com 4 aninhos de idade, e sempre fui muito motivada a ler, pelos pais, tias”. Tanto é que todos participaram desse momento do lançamento do seu primeiro livro.

Foram madrugadas e madrugadas escrevendo, produzindo. Uma amiga fez a diagramação de graça. “Eu sempre acreditei que a informação, a leitura, pode mudar o mundo. O livro é a realização da minha vida, a melhor coisa que eu já fiz“.

Livro fala sobre violência obstétrica

“A dor mais doída” é um livro-reportagem que trata de um tema muito delicado: a violência obstétrica, que muitas mulheres sofrem na hora do parto.

“É um assunto pouco explorado. Me aprofundei no tema, entrevistei mulheres que sofreram, especialistas, relatos muito profundos. É muita dor, dá vontade de chorar, uma dor que não passa. Mulheres com parto traumático, 20 anos atrás, que ainda sofrem e tudo acontece por negligência, por falta de informação, de conhecer seus direitos e de empatia da equipe médica”, disse.

Caira estudou em escola pública, enfrentou dificuldades e foi fazer faculdade em Palmas morando de favor. “Eu quis fazer algo que voltasse pra sociedade porque eu estudei numa escola pública e é mantida pelo dinheiro público e sempre quis que voltasse para a sociedade esse investimento. Por isso o livro-reportagem”, disse.

Ainda há exemplares disponíveis e você pode pedir clicando aqui. “Queria que todas as mulheres pudessem ler esse livro pra se informar, que todos os médicos pudessem ler esse livro para saber que a dor que eles causam nunca vai passar”, finalizou.

O livro foi literalmente um parto, mas foi assim que “A dor mais doída” se transformou em alegria para Caira.

Fonte: Por Rafael Melo/Razões Para Acreditar

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