Ícone do site Gazeta do Cerrado

Agilidade no tratamento do AVC é garantia de vida sem sequelas

(Thinkstock)

Primeiro, um tropeção sem motivo aparente. Logo em seguida, a paralisação no lado esquerdo do rosto e, em alguns minutos, a impossibilidade de engolir a própria saliva. Foi essa a sucessão de sintomas que a enfermeira Luciana Maciel, de 40 anos, vivenciou, logo antes de ser diagnosticada com um AVC isquêmico, no final de 2016. Por sorte, ela foi levada a um pronto-socorro e tratada em menos de duas horas após o início dos sinais. A agilidade garantiu que a enfermeira pudesse viver, após o incidente, sem nenhuma sequela física ou mental.

Além de Luciana, 16 milhões de pessoas ao redor do mundo sofrem um AVC a cada ano, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Pelo menos seis milhões morrem. Já no Brasil, o Ministério da Saúde aponta que são registradas cerca de 68 mil mortes por AVC anualmente.

A medicina classifica o AVC de duas formas: hemorrágico, que se caracteriza por um sangramento dentro do cérebro e abrange 20% dos diagnósticos; e isquêmico, mais comum, que corresponde a 80% dos casos e é provocado pela obstrução de uma artéria que leva sangue ao cérebro. No País, este tipo de derrame faz pelo menos 400 mil vítimas ao ano.

Quais são as sequelas?

Publicidade

Segundo o neurologista e professor no departamento de neuciências da FMRP-USP [Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo] Octávio Marques Pontes Neto, a grande preocupação em relação ao AVC isquêmico atualmente são os pacientes que sobrevivem, mas com sequelas como déficit de memória, dificuldade motoras e de fala e alterações comportamentais como a depressão.

Há levantamentos mostrando que menos de 50% das pessoas que sofrem um AVC voltam ao trabalho. “Quando a pessoa não recebe tratamento imediato, as sequelas são críticas porque entre 25% e 30% do sangue do corpo circula no cérebro”. Qualquer região cerebral que fica sem essa irrigação morre e 2 milhões de neurônios são perdidos por minuto.

— É um prejuízo que só pode ser revertido caso o paciente vá a um pronto atendimento em pouquíssimo tempo após o início dos sintomas.

Sinais do AVC

Os sinais do derrame, geralmente, incluem fala amarrada, formigamento, paralisia facial e falta de força. Vale ainda se atentar aos fatores de risco para um AVC — que são os mesmos para o infarto e outras doenças cardiovasculares: estresse, hipertensão, sedentarismo, má alimentação, obesidade e tabagismo, além de idade superior a 55 anos. Pontes Neto completa: “Quem sofre é a população mais pobre. São pessoas que não têm acesso às campanhas de prevenção, muitas vezes não medem a própria pressão regularmente ou mantêm uma alimentação pouco saudável. Por isso a conscientização é tão importante”.

Tratamento e telemedicina

No pronto-socorro, os médicos identificam se o paciente está sofrendo um derrame por meio de tomografias de crânio e ressonâncias magnéticas. Caso seja identificado o AVC isquêmico, o tratamento se dá com medicamentos trombolíticos que o paciente recebe de forma endovenosa. Os remédios são capazes de dissolver o coágulo presente no cérebro e reestabelecer o fluxo sanguíneo sem deixar sequelas em até 4,5 horas após o início dos sintomas, conforme explica o neurologista da FMRP-USP.

— Depois desse período, os riscos de o vaso sanguíneo se romper e acontecer uma hemorragia aumentam em 6%. Em casos mais críticos, o indivíduo é encaminhado para uma intervenção cirúrgica em que um cateter especial retira o coágulo.

A neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC — ONG que atua para melhorar a assistência global ao paciente com AVC — lembra que uma das grandes promessas para o tratamento dos derrames atualmente é a telemedicina.

— Em prontos-socorros de regiões mais distantes, onde não há especialistas capacitados para a identificação de um derrame, conferências em vídeo com médicos de grandes centros de saúde possibilitam uma melhor avaliação do caso de cada paciente e da tomografia de crânio. Os procedimentos diminuem custos [não exigem a contratação de novos profissionais] e agilizam os atendimentos. A utilização de protocolos e medicações específicas, por sua vez, diminuem a mortalidade e minimizam as sequelas.

Fonte: R7.com

Sair da versão mobile