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ARTIGO: O racismo é estrutural e não importa a condição social e econômica da pessoa negra para sofrer o racismo

Professores Stânio Vieira e Jorge França – Foto – Divulgação

 Por Prof. Mestrando. Stânio Vieira  e  Prof. Dr. George França*

A ideologia discriminatória que permeia o racismo no Brasil tem suas raízes na chegada dos europeus ao país. Foi nesse contexto que surgiu o conceito de “raça”, criado pelos europeus com o intuito de afirmar sua suposta superioridade em relação aos povos das Américas e, principalmente, da África. Essa crença serviu como justificativa para a prática do sequestro e tráfico de pessoas africanas, que foram trazidas ao Brasil para serem escravizadas. Essa concepção de superioridade racial, imposta pelos colonizadores/sequestradores europeus, gerou uma hierarquia social que perpetuou o racismo ao longo dos séculos, e que se faz presente ainda nesse momento da história. A população negra foi subjugada, tratada como propriedade e privada de seus direitos básicos, enquanto os colonizadores/sequestradores europeus se beneficiavam do trabalho escravo.

Obviamente é importante lembrar que o conceito de “raça” é uma construção social, sem fundamento científico concretos. A diversidade da humanidade está nas suas diferentes culturas e expressões, onde não há hierarquia, muito menos grupos superiores.

No Brasil, a questão da escravização do povo negro ainda é um tema pouco abordado e, por vezes, estranhamente ignorado, como se a história da escravidão não tivesse ocorrido. No entanto, as marcas desse período de tortura, crueldade e dominação ainda estão presentes, evidenciando a persistência do racismo estrutural. A escravidão foi um sistema perverso que deixou profundas cicatrizes na sociedade brasileira. Mesmo após a abolição formal da escravatura, as desigualdades e os preconceitos continuaram enraizados nas estruturas sociais. O racismo estrutural é resultado desse legado histórico, permeando todas as esferas da vida cotidiana e gerando impactos profundos na vida dos indivíduos negros.

É fundamental destacar que no Brasil, ainda persistem narrativas enraizadas em ideais de branquitude e seus privilégios, que promovem a ilusão de um cenário racialmente harmonioso. Essas narrativas propagam a falsa ideia de que a superação da pobreza e o acesso a espaços privilegiados automaticamente eliminam a discriminação racial. No entanto, essa visão simplista, ingênua e racista ignora a complexidade do racismo estrutural presente em nossa sociedade. Além disso, a crença de que pessoas negras não podem ocupar posições de poder e se destacar em projetos é mais uma manifestação desse racismo estrutural. É importante ressaltar que essa perspectiva limitadora reflete a persistência de barreiras que impedem a plena igualdade de oportunidades para as pessoas negras brasileiras.

A questão do racismo vai muito além das condições financeiras das pessoas negras, ele está impregnado na cultura, no imaginário coletivo, nos estereótipos e nas posturas enraizadas na sociedade brasileira, assim como em falas e posturas que ainda estão enraizadas na sociedade brasileira.  O que queremos dizer é que mesmo uma pessoa negra rica sofrerá o racismo nas suas mais complexas atuações. Desde o racismo velado, pontualmente articulado, ao racismo quando ele expressa nitidamente o tratamento diferenciado e desvalorizado da pessoa negra. Basta, refletirmos sobre o recente acontecimento vivido por Vini. Jr, nosso grande atleta brasileiro, que sofreu desde ameaça de morte a xingamentos públicos durante uma partida de futebol no estádio de futebol na Espanha.

Esse episódio, vivido por Vini. Jr. nosso grande atleta negro brasileiro, evidencia como o racismo persiste, mesmo em cenários aparentemente privilegiados, ricos, glamorosos como os setores econômico, políticos e profissionais. Ele demonstra que o sucesso financeiro e o suposto reconhecimento profissional não são suficientes para isentar uma pessoa negra de ser vítima do racismo. A discriminação racial transcende as conquistas individuais e está enraizada nas estruturas sociais e nas mentalidades coletivas.

O fato ocorrido com Vini Jr. suscitaram quebras de paradigmas no imaginário social do racismo à brasileira. É muito comum dizer no Brasil que os negros ao ascenderem socialmente não têm mais problemas com o racismo em razão de ser a pobreza o principal entrave. Ora o racismo é uma relação de poder que lhe cobra a todo momento independentemente do lugar que você se encontra . O jovem e talentoso Vini Jr. não é apenas jogador de futebol , mas uma pessoa com posicionamento contra ideias que promovam injustiças sociais e isso só aumenta o racismo a ele, pois está desafiando o sistema que visa dizer ao negro que seu espaço é reservado, desde que seja uma pessoa que aceite a sua condição , ou seja , você pode ser rico ou ter uma condição material interessante que será suportado, mas essa aceitação tem prazo de validade desde que não venha questionar o status quo. Caso questione , então aparece o conflito e imediatamente o racismo aflora de forma objetiva, enfim foi o caso do Vini. Jr.

É importante destacar que o racismo permeia diversas instituições, sejam elas privadas, públicas, religiosas ou educacionais. Isto é, essas estruturas sociais não foram concebidas para garantir a participação e a ascensão das pessoas negras. Um exemplo disso é refletir sobre a imagem que associamos a uma pessoa de sucesso, bem-sucedida, líder, com habilidades discursivas e conhecimento científico. Geralmente, nossa sociedade tende a associar essas características a pessoas brancas, o que revela a presença de clichê estereotipado e arraigados na essência da nossa cultura, intrinsecamente relacionada a todas as instituições

Essas reflexões convidam a desafiar as representações estereotipadas que se perpetuam no imaginário coletivo, de forma consciente e inconsciente em nossa sociedade. Para combater o racismo estrutural de forma efetiva, é necessário um trabalho conjunto que envolva a conscientização, a educação, o diálogo e a construção de políticas de inclusão das pessoas negras. Devemos ampliar a diversidade em todas as esferas, garantindo a representatividade e o respeito às vozes e experiências das pessoas negras.

Devemos adotar uma postura firme, áspera, dura e determinada na luta contra o racismo. É fundamental responsabilizar aqueles que propagam o ódio racial e promovem a discriminação. Neste contexto, não só os indivíduos, mas as instituições também. Além disso, é necessário desconstruir o modelo colonial europeu que ainda está presente na cultura brasileira e que influencia a população, levando-a constantemente ao erro e à ignorância causados pelo racismo.

Essa desconstrução do modelo colonial europeu, deve ser uma tarefa de todos, mas é especialmente importante que as pessoas brancas compreenderem a história da construção do negro no Brasil e as razões que estão por de traz das persistentes desigualdades entre negros e brancos.   As pessoas brancas devem também questionar seus privilégios e assumir a responsabilidade de combater o racismo em suas próprias vidas, relações pessoais e na sociedade em geral.  Devemos reconhecer que a estrutura social foi moldada para beneficiar os brancos em detrimento dos negros, resultando em disparidades significativas em áreas como educação, saúde, economia, saúde, emprego e oportunidades de ascensão social.

Compreender a história da construção do negro no Brasil e as razões por trás das persistentes desigualdades entre negros e brancos é fundamental para a desconstrução do modelo colonial europeu. Essa tarefa de desconstrução deve ser assumida por todos, mas é especialmente importante que as pessoas brancas se envolvam ativamente nesse processo.

As pessoas brancas precisam questionar e refletir sobre seus próprios privilégios e assumir a responsabilidade de combater o racismo em todas as esferas de suas vidas, desde as relações pessoais até a participação na sociedade como um todo. É necessário reconhecer que a estrutura social foi moldada de forma a favorecer os brancos em detrimento dos negros, resultando em disparidades significativas em áreas como educação, saúde, economia, emprego e oportunidades de ascensão social.

É preciso reconhecer que o racismo é um problema estrutural enraizado na sociedade brasileira, que perpetua desigualdades e limita as oportunidades para as pessoas.  Em nesta reflexão, não podemos deixar de mencionar as políticas de cotas raciais para negros nas universidades e concursos públicos, e a lei 10 639, que traz com ela a cultura e a história das comunidade negra, afro-brasileira e africana para dentro das escolas.  A construção de uma sociedade mais justa e igualitária exige um esforço coletivo, no qual todas as pessoas e instituições desempenham um papel fundamental ao se engajarem na luta contra o racismo e trabalharem para criar espaços mais inclusivos e equitativos para todos.  Frente a todas essas situações mencionadas, vemos que o racismo transcende qualquer posição financeira e de status na sociedade brasileira.

A construção de uma sociedade melhor, igualitária, requer um esforço coletivo, no qual todas as pessoas e instituições desempenham um papel fundamental ao se engajarem na luta contra o racismo e trabalharem para criar espaços mais inclusivos e equitativos para todos. Diante de todas as situações mencionadas, fica evidente que o racismo vai além de posições financeiras e status na sociedade brasileira. Ele permeia todos os aspectos da vida e afeta pessoas negras de diferentes contextos sociais.

*Currículos

Professor Mestrando Stânio Vieira – Foto – Arquivo Pessoal

Stânio Vieira – Coordenador Estadual do MNU ( Movimento Negro Unificado). Atualmente Coordenador Geral Docente do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Profissional, Técnica e Tecnológica – Seção Tocantins. Membro da Direção Nacional do Sinasefe na Pasta de Combate às Opressões. Possui Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal do Piauí. Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Piauí. Especialização em História Regional do Piauí pela Universidade Estadual do Piauí. Mestrando em Educação Profissional pela Universidade Federal do Tocantins. Professor na área de Sociologia no IFTO – Campus Dianópolis.

Professor Doutor George França – Foto – Divulgação

George França – Professor Associado da Universidade Federal do Tocantins – UFT atuando no curso de LETRAS: LIBRAS e no PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO (MESTRADO E DOUTORADO) EM MODELAGEM COMPUTACIONAL DE SISTEMAS- PPGMCS. Doutor em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC SP. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas: Mídia e Conhecimento pela mesma Universidade. Foi Pró-reitor de Graduação da Universidade do Tocantins – UNITINS. Pró-reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Tocantins – UFT e diretor do Câmpus de Porto Nacional da Universidade Federal do Tocantins – UFT.
Coordenou o Projeto Um Computador por Aluno – UCA Tocantins. Coordenou o projeto de pesquisa: Ambientes Virtuais de Aprendizagem para a Educação de Surdos no Estado do Tocantins. Participou da criação do curso de letras: libras na UFT. Atualmente Lidera e coordena o programa de Pesquisa e Extensão: Transtorno do Espectro Autista o Âmbito das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação – TDIC que desenvolve tecnologias digitais integradas com robótica para a educação especial. Coordenador pedagógico do Programa de Formação Docente Continuada – PROFOR/UFT. Idealizador, coordenador do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado – AEE: com foco nas Deficiências Intelectual e Múltipla Sensorial – RENAFOR-MEC/UFT/SEDUC TO. Supervisor do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado – AEE: Educação – RENAFOR. Coordenador da pós-graduação: Transtorno do Espectro Autista na Educação do Campo.
Desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão nas seguintes ÁREAS: TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS, EDUCAÇÃO ESPECIAL, INCLUSÃO, CIDADANIA DIGITAL, ACESSIBILIDADE e, afins. Possui inúmeros artigos publicados em revistas nacionais e internacionais. E autor do livro: O Design Instrucional na Educação a distância: John Dewey como uma referência metodológica e organizou os livros: Práticas em EaD: Temas emergentes; Fronteiras da Educação: desigualdades, tecnologias e políticas; Tecnologias Educacionais no Tocantins – face a face; Autismo: Tecnologias e formação de professores para a escola pública e Autismo: tecnologias para a inclusão. É Presidente da Comissão Heteroidentificação da Universidade Federal do Tocantins – UFT.

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