Pesquisador Fernando Mayer – Divulgação
Um cientista biólogo da Universidade Federal do Tocantins (UFT) entrou na lista que mensura as publicações científicas com impacto mundial. A relação completa tem 161.441 nomes, entre eles o de Fernando Mayer Pelicice.
O pesquisador é servidor da UFT desde 2008, no campus de Porto Nacional, e faz parte do colegiado de ciências biológicas, sendo o único cientista tocantinense a compor a lista.
O levantamento divulgado pela Public Library of Science (PLOS), que trabalha com publicações científicas que são abertas ao público, aponta um ranking dos cientistas mais influentes a nível internacional.
Estado de choque
Sobre ter saído na lista dos cientistas mais influentes do mundo, Fernando Pelicice disse que está em estado de choque desde que recebeu a notícia e que entende o que significa estar entre os cientistas mais citados do mundo.
“Eu estou em choque desde que recebi a notícia. Difícil de acreditar. Como pesquisador, entendo o que significa estar entre os cientistas mais citados do planeta, estar entre os mais influentes. Ao mesmo tempo me faz refletir quantas mãos e mentes caminharam ao meu lado nesses 15 anos de jornada acadêmica. Nunca estive só e jamais faria o que fiz se só estivesse. Todos os meus trabalhos têm ampla colaboração, o que inclui cientistas brasileiros e estrangeiros, múltiplas universidades, e também alunos”, declarou.
Área de atuação
Pelicice explica que sua área de atuação e pesquisa envolve principalmente ecologia e conservação de peixes de água doce. “Os trabalhos mais citados se referem às pesquisas sobre os impactos de barragens hidrelétricas sobre a diversidade de peixes; os impactos de espécies invasoras exóticas sobre ecossistemas aquáticos e sobre as ações de manejo e conservação direcionadas à fauna de peixes e biodiversidade aquática”, detalha.
Além disso, as pesquisas feitas por Pelicice também têm demonstrado como ações humanas alteram a diversidade de peixes em rios da América do Sul. “A construção de barragens hidrelétricas, muitas vezes entendida como energia limpa, causa impactos profundos no ecossistema aquático. Muitas espécies de peixes declinam ou mesmo somem, especialmente peixes migradores (de piracema). Nossos resultados mostram que as barragens estão entre os principais promotores de perda de biodiversidade aquática”, informa.
De acordo com o cientista, as pesquisas também têm revelado como espécies exóticas causam prejuízos à biodiversidade. “A introdução de peixes exóticos, em particular, tem se revelado atividade muito deletéria, pois os peixes invasores podem competir ou predar organismos nativos, ou mesmo alterar os habitats. Uma vez introduzidos, torna-se muito caro ou mesmo impossível erradicá-los”, afirma.
O pesquisador destaca ainda uma descoberta importante durante essas pesquisas, que é a detecção de falhas e equívocos na aplicação de algumas medidas de proteção à biodiversidade.
“Mostramos que medidas como peixamento (soltura de peixes) e construção de escadas em barragens não funcionam como se pensava. Ambas as atividades são empregadas por um século no Brasil e no mundo, mas nossos estudos demonstram que além de não funcionarem, causam impacto sobre a fauna nativa. Nossas pesquisas sobre escadas tiveram forte impacto na ciência mundial”, pontua o cientista.
Contribuição com a sociedade
Os resultados das pesquisas do cientista Fernando Pelicice têm sido importantes para buscar ou implementar ações mais sustentáveis no uso dos recursos naturais. As pesquisas demonstraram, por exemplo, que as barragens hidrelétricas são incompatíveis com sistemas tradicionais de pesca, visto que os peixes de interesse comercial desaparecem das áreas impactadas.
“Há perda econômica e impacto social. Os resultados também deixam claro que não existe medida de correção para isso, como por muito tempo se imaginou. Usamos nossos trabalhos para informar a sociedade que, se uma barragem é construída, haverá perda de peixes (e outros recursos naturais). Isso deve conduzir a sociedade a tomar decisões melhores”, esclarece Pelicice.
Os resultados também são claros quanto aos prejuízos sociais, econômicos e ambientais decorrentes da invasão de organismos exóticos. “Temos usado os resultados para orientar políticas públicas que estimulem o cultivo de organismos exóticos, de forma a minimizar ou impedir novas invasões biológicas”, explica o cientista.
Fonte – UFT