Equipe Gazeta do Cerrado
O governador afastado do Tocantins, Mauro Carlesse (PSL), renunciou ao cargo na tarde desta sexta-feira (11) na Assembleia Legislativa. O documento com o pedido foi protocolado pelo advogado Juvenal Klayber por volta das 15h, duas horas antes do segundo turno da votação no processo de impeachment que levaria a abertura de um Tribunal Misto para julgar o governador por crimes de responsabilidade.
Os deputados fizeram uma sessão no início da noite de hoje onde foi lida a carta de renúncia de Carlesse.
O advogado de Mauro Carlesse, Juvenal Klayber leu um relatório de Carlesse no qual ele diz ser inocente. “Não sou paraquedista”, diz o extenso documento. Ele agradeceu os deputados pela parceira.
Ele se defendeu de todas as acusações e falou de investimentos de seu governo.
Veja a íntegra do que foi lido:
À Sua Excelência o Senhor
Deputado Antônio Andrade
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins
Palmas-TO
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Senhoras Deputadas,
Antes de expressar o objeto principal dessa comunicação, quero me dirigir aos senhores e às senhoras parlamentares, mas principalmente, à toda a população tocantinense que nos assiste.
Como todos sabem, estou enfrentando um processo de impedimento de um mandato obtido através do voto popular, direto, em uma eleição histórica, democrática, onde alcançamos a marca de 404.484 votos – a maior votação de um Governador desde a criação do Tocantins.
E essa votação foi obtida graças a um trabalho conjunto entre a nossa gestão que estava iniciando e também por esta Casa, que nos deu o apoio necessário e garantiu a governabilidade. Mas também pelo apoio dos nossos servidores públicos que entenderam o momento difícil que o Estado vivia e, principalmente, a nossa população, que sonhava com um Tocantins melhor.
Todos aqui presentes são cientes da forma como encontramos as contas públicas em abril de 2018, quando ingressamos no Governo. O Estado desenquadrado da Lei de Responsabilidade Fiscal, sem crédito, sem pagar fornecedores em dia, servidores com salários atrasados, sem receber direitos há muitos anos, a infraestrutura em todas as áreas totalmente sucateada. Todos se lembram que as viaturas da Polícia não tinham sequer combustível para as diligências. Enfim, um quadro caótico que necessitava de atitude, planejamento, vontade política e muita coragem.
Não pensem que foi fácil cortar mais de 12 mil contratos de servidores, para reduzir despesas com folha de pagamento. Como também não foi fácil reduzir o tamanho das secretarias, devolver prédios alugados, conciliar locais de funcionamento dos órgãos públicos, reduzir a frota de veículos, reduzir o consumo de combustível, assim como de água e energia. O Tocantins passava por um momento que exigia austeridade, para manter os serviços essenciais funcionando, para, em seguida, recuperar sua capacidade de investimento e retomar seu crescimento. Montei um secretariado técnico, sem perseguições políticas e sem loteamento de cargos – buscando sempre os melhores profissionais, independente de que com qual político já tivesse trabalho, pois sempre busquei o melhor resultado para o Estado e para a população.
Após a nossa eleição levamos oito meses, após a reforma administrativa, para enquadrar o Estado na Lei de Responsabilidade Fiscal. Utilizamos a receita da dona de casa, gastar menos do que arrecadava, fizemos economia, e fomos colocando a casa em ordem.
Foi assim que trouxemos de volta o salário dos servidores públicos para o dia 1º de cada mês e, nos últimos meses, já estávamos pagando até adiantado. Da mesma forma, o Tocantins voltou a ser respeitado pelos bancos e conseguiu financiamento para a nova ponte de Porto Nacional, esperada e prometida por mais de 10 anos.
Concluimos a primeira etapa do Hospital Geral de Gurupi, iniciamos o Hospital Geral de Araguaína, também aguardado há mais de 10 anos. Levamos o curso de Medicina para o Bico do Papagaio, implantamos leitos de UTIs e estávamos concluindo as obras do hospital e da maternidade de Augustinópolis. Reconstruímos a Avenida Goiás em Augustinópolis, obra esperada também por mais de 10 anos. Implantamos os leitos de UTI em Porto Nacional que era uma reivindicação antiga daquele município e região.
Na nossa administração o Tocantins voltou a ver o seu estoque regulador de medicamentos cheio. E, mesmo na pandemia, o abastecimento sempre se manteve dentro da normalidade.
Por conta dessa organização administrativa e do equilíbrio das contas públicas, conseguimos enfrentar a Pandemia. Implantamos mais de 500 leitos Covid, com mais de 200 UTIS e o Tocantins não precisou mandar pacientes para outros estados. Pelo contrário, recebia pacientes e esteve pronto pra ajudar os irmãos brasileiros, quando Manaus entrou em colapso. Implantamos um hospital exclusivo pra Covid. Na nossa administração, não houve hospital de lona ou de tenda, o tocantinense foi atendido em um prédio público estruturado e todo esse investimento fica como legado na melhoria infraestrutura de saúde do Estado.
Criamos a ala pediátrica do HGP, com mais de 100 leitos novos, com equipamentos modernos, equipe qualificada e junto ao maior hospital do Estado, para que os equipamentos ali disponíveis sejam utilizados em caso de necessidade urgente.
Conseguimos recuperar recursos praticamente perdidos junto ao Banco Mundial e reconstruímos as rodovias estaduais em toda a região sudeste. Da mesma forma como fizemos de Porto Nacional passando por Brejinho até Aliança – Também de Porto Nacional, Monte do Carmo até Ponte Alta – assim como de Palmas a Paraíso. Em Palmeirópolis, fizemos a ligação por asfalto com Goiás, reconstruímos a rodovia até Jaú e refizemos o traçado da então curva da morte – obra delicada, trabalhosa, mas que vai preservar muitas vidas e ajudar a desenvolver aquela região. Obra aprovada e aplaudida pela população.
Demos início à realização do sonho da população da Lagoa da Confusão com a construção da rodovia ligando a Barreira da Cruz, assim como Gurupi ao Trevo da Praia. Obras importantes e que deixamos o dinheiro em caixa para sua execução, mas que infelizmente foram paralisadas por questões políticas.
Recomeçamos e estão em fase de conclusão todas as escolas de Tempo Integral iniciadas ainda na gestão Siqueira Campos e que muitos nem acreditavam mais que pudessem ser finalizadas. Mas com trabalho sério, estávamos concluindo e espero que sejam entregues para a população. Criamos mais de 20 colégios militares – atendendo ao desejo da população de municípios de todas as regiões. E sempre com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino dos nossos jovens.
Nenhum outro Governo investiu tanto na melhoria da qualidade de vida da população do Jalapão. Iniciamos o asfalto de Lagoa do Tocantins a São Félix, e outros projetos de desenvolvimento que iriam proporcionar oportunidades e geração de renda para aquela população, que até o início da nossa administração estava totalmente esquecida e vivia de promessas vazias e eleitoreiras.
Não podemos esquecer da luta que foi recuperar os recursos que estavam bloqueados desde a operação Ápia. São quase 40 milhões de reais que ficaram anos parados por determinação da Justiça, mas que fomos atrás e comprovamos que a população não poderia ser penalizada e agora os recursos estão disponíveis para concluir essa obra importante para o nosso povo.
É preciso também destacar as cerca de 2 milhões de cestas de alimentos adquiridas e entregues para a população dos 139 municípios em decorrência da pandemia. Agimos rápido, implantamos uma logística eficiente e contando com a dedicação e o profissionalismo dos nossos servidores de várias pastas, os veículos do Governo do Estado levaram alimentos a lugares onde a população nunca havia tido acesso a um serviço do Estado, desde a criação do Tocantins. Falo isso pois temos depoimentos gravados dessas pessoas relatando esses fatos.
Enfim, se for relatar todas as obras e projetos que destravamos, iniciamos ou planejamos vamos precisar de muitas horas nessa tribuna.
Fiz esse breve relato para demonstrar que os anos à frente da gestão estadual tem sim muitos resultados positivos para o Tocantins. Assim como para chegar até o Palácio Araguaia, foram décadas de trabalho, dificuldades, lutas, mas acima de tudo, de vitórias.
Não sou um paraquedista, como alguém chegou a afirmar. Sou o Mauro Carlesse, filho do Ivo Carlesse, que morreu quando eu tinha 14 anos. A partir de então tive que, junto com minha mãe, dona Maria Olívia (que hoje também mora com Deus), ajudar a cuidar dos meus irmãos.
Minha mãe foi faxineira no Palmeiras por décadas. E eu sempre trabalhei pra ganhar o pão de cada dia. Venci na vida, mas foi com trabalho, pois não herdei patrimônio, nem terra, nem riqueza. Se cheguei aonde cheguei foi trabalhando. E essa é a única maneira que conheço para realizar os meus sonhos e é isso que tenho ensinado para minhas filhas e netas.
O filho do agricultor, da faxineira, que só tem o quarto ano primário, virou um grande empresário e depois Governador do Tocantins, eleito pelo povo. Tenho orgulho da minha história, pois sei que em nenhum momento, precisei utilizar de meios que não foram os corretos, para chegar até aqui.
Não sou de família política. Minha história na política é recente, mas não menos vitoriosa em relação à minha vida profissional.
Não pensem que é fácil para mim, passar pelo que estou passando nesses últimos meses. Tive minha vida pessoal devassada. Minha casa foi arrombada às 6h da manhã – levaram o terror à minha filha de 5 anos e ainda inventaram uma série de crimes para me acusar. Sou inocente!!! Vou repetir, Sou inocente!!! E quem me acusa precisa apresentar provas, o que até agora não aconteceu.
Não aparelhei a Polícia Civil – Eu equipei a Polícia Civil, junto com esta Casa. Pois todos os atos que hoje dizem que são crimes, foram Leis aprovadas por esta Casa e vigentes, por serem atos legais, constitucionais e de atribuição tanto deste Poder Legislativo como do Poder Executivo. Criamos a Diretoria de Combate à Corrupção com atuação em todo o Estado, nenhuma investigação foi interrompida ou prejudicada. As mudanças que ocorreram foram em cargos em comissão e não em funções efetivas ou presidências de inquéritos. Quem fala ao contrário mente propositalmente para a população!!!
Melhoramos a estrutura das delegacias, compramos novas armas, com o apoio dos deputados que destinaram emendas, novas viaturas, criamos a cidade da Polícia Civil, nomeamos aprovados em concurso e já estávamos preparando um novo concurso para termos mais agentes de Segurança Pública.
Construímos o presídio de Cariri, investimos na Polícia Penal – tanto que o
Tocantins comemora mais de um ano sem fugas de presos. Esses reeducandos que hoje trabalham na reforma de escolas e manutenção de prédios públicos e aprendem uma profissão. É óbvio que não possível fazer tudo – afinal, a gestão foi interrompida de maneira brusca e arbitrária, comprometendo todo um planejamento de uma administração prevista para quatro anos.
Quando assumimos o Governo tínhamos um Plano de Saúde dos Servidores Públicos que não atendia os usuários. O plano foi remodelado, modernizado, novos hospitais, clínicas e profissionais foram credenciados, foi assim que criamos o Servir. Os pagamentos começaram a ser normalizados e os débitos antigos auditados para encontrar a causa de tantos problemas no passado.
Para enfrentar um sistema montado e funcionando por muitos anos não é fácil. Obviamente haveriam retaliações, como houveram. Mas nossa intenção sempre foi a de preservar os recursos pagos pelos servidores e que tivéssemos um plano de saúde de qualidade. E que nem o servidor e nem o Estado, tivesse que pagar por algo que não foi entregue, como demonstrou a auditoria realizada no antigo Plansaúde.
Não conheço, nunca vi, nem sei quem são os tais delatores que deram base à denúncia contra mim no STJ. Nenhum deles conseguirá provar que já esteve comigo, que já reuniu comigo, que já me entregou qualquer vantagem indevida. Simplesmente porque tais fatos nunca ocorreram. Repito, sou inocente, e quem acusa precisa provar o que diz!!!
As bases da denúncia no STJ questionam movimentação financeira de recursos que são de minha propriedade, devidamente declarados à Receita Federal e constam das minhas declarações de Imposto de Renda. Portanto, estranha muito que se questione minhas movimentações financeiras quando todas tem origem e estão comprovadas com documentos oficiais, mas que por motivos que não sabemos quais, foram claramente ignoradas e tratados com desdém no relatório na comissão especial.
Por fim, quero lamentar toda essa situação de crise e instabilidade pela qual passa o nosso Estado mais uma vez. Mas quero destacar, que ela não foi causada por mim. Justamente no momento em que o Estado se preparava para viver um dos melhores momentos de sua história, com a implementação do programa Tocando em Frente que faria obras nos 139 municípios, iriam gerar mais de 100 mil empregos, com R$ 1,7 bi em caixa devido as medidas de austeridade, vem esse duro golpe contra a vontade do povo externada nas urnas.
Não é fácil no Tocantins, implementar um modelo de gestão com austeridade fiscal, planejamento, credibilidade e visão de futuro. Infelizmente, existem forças “ocultas” que não permitem ao Tocantins conquistar efetivamente sua independência.
Para essas “forças ocultas” é muito melhor um povo sofrido e dependente do Poder Público para dominar e conquistar o voto mais facilmente. E mais uma vez, nesses pouco mais de 30 anos de criação, o Tocantins sofre mais um golpe dessa casta que não pensa no povo, mas apenas no Poder.
Fui afastado com base em uma investigação. Não tive direito de defesa. Tive meu mandato suspenso, sem que pudesse argumentar em contrário. Colocaram o Tocantins negativamente em rede nacional para destruir não só a credibilidade do Governo, mas principalmente, a auto-estima de um povo sofrido e que luta todos os dias para vencer, do mesmo jeito que sempre fiz na minha vida.
Infelizmente o tempo é implacável. Já me tiraram cinco meses de mandato, e agora, esta Casa, que tanto fomos parceiros, se prepara cassar o voto dos mais de 400 mil tocantinenses, sem que as investigações tenham chegado ao seu fim, sem que o processo tenha inclusive provas contra mim. O processo está invertido. Primeiro fui condenado, para depois existir uma investigação aonde vão enfim, concluir que sempre fui inocente. Mas aí o mau já foi feito e já colocaram o Estado nas mãos de quem não foi eleito pelo povo. Aliás pelo contrário, estão colocando o Tocantins nas mãos de quem foi derrotado pelo povo!!!
Quero agradecer a todos os tocantinenses que sonharam junto comigo um Tocantins melhor, livre e independente. Quero agradecer a todos os servidores públicos que junto conosco ajudaram a reorganizar o Tocantins e deixar o Estado pronto pra voltar a crescer. Quero agradecer aos meus secretários, que estiveram comigo do início ao fim, nas horas boas e nas horas ruins, mas demonstraram de fato o que é companheirismo, caráter e lealdade a um ideal. A todos que lutaram do lado da verdade, a minha gratidão. Aliás gratidão é um dos sentimentos mais nobres que o ser humano pode demonstrar. Infelizmente, nem todos compreendem o que isso significa.
Quero agradecer aos nobres deputados e deputadas, pela parceria, pela boa relação institucional e por tudo que fizemos juntos para melhorar o Tocantins. Saibam que nada foi em vão e que um dia, a história irá reconhecer os atos de cada um.
Assim, me despeço da nossa população, pois mesmo tendo a irretocável certeza da minha inocência, sabemos o quão pode ser morosa a nossa Justiça. Vou continuar lutando. Encerro aqui essa etapa, mas tenham a certeza todos, que ainda não é o fim…
Portanto, Sua Excelência presidente Antônio Andrade, comunico ao senhor, aos nobres deputados e a toda a população tocantinense, a minha Renúncia ao cargo de Governador do Estado do Tocantins.
Mauro Carlesse
Ex-Governador do Tocantins