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Cidade no sertão pernambucano espera atrair turistas com estátua de Lampião

Foto: Divulgação/Museu do Cangaço

As páginas dos jornais de Serra Talhada, a 407 quilômetros de Recife, em Pernambuco, são repletas de reportagens sobre assassinatos, perseguições policiais e investigações sobre contas de políticos e empresários. No entanto, uma notícia diferente mexeu com a cidade neste ano: a instalação de uma estátua de Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, em um dos pontos mais visitados do município onde ele nasceu, em 1898.

A ideia partiu da Fundação Cultural Cabras de Lampião, que é responsável pelas principais atrações turísticas de Serra Talhada: o Museu do Cangaço, que conta boa parte da história dos justiceiros nordestinos pelo sertão da região, e o sítio Passagem das Pedras, onde acredita-se que Virgulino nasceu e viveu parte de sua infância.

Segundo Cleonice Maria, presidente da entidade, o cangaceiro é responsável pela chegada cada vez maior de turistas de outras partes do país e até do exterior. O prefeito Luciano Duque já disse que recebeu informações do aumento de passagens aéreas para a região por causa do sítio.

Além da estátua de Lampião, a fundação ainda vai instalar ao lado do museu outros dois monumentos ligados a ele: a de sua esposa, Maria Gomes de Oliveira, a “Maria Bonita”, e a de um dos seus soldados mais próximos, Isaías Vieira dos Santos, o “Zabelê”. O monumento, porém, gera polêmica — principalmente porque revive uma divisão política do início dos anos 1990.

Naquela época, outra entidade, a Fundação Casa da Cultura de Serra Talhada retomou a ideia de um vereador para construir uma estátua do cangaceiro perto de onde hoje funciona o museu. Animada com a ideia, a prefeitura abriu uma consulta popular no dia do feriado da independência do Brasil.

“Foi um embate entre gerações de Serra Talhada, porque os contemporâneos de Lampião se posicionaram contra: eles tinham sido influenciados pelo legado negativo dele, pela perspectiva da violência e do banditismo. Os jovens, que vieram depois que Lampião morreu, não tiveram essa mesma influência. Eles encamparam a luta nos movimentos estudantis, centros acadêmicos e com o apoio de associações operárias”, contou o historiador Paulo César Gomes à BBC Brasil.

O “sim” venceu com 76% dos votos, mas a estátua nunca saiu do papel: como a fundação não tinha dinheiro e não encontrou parceiros dispostos a financiá-la, o projeto foi arquivado. A cidade, que tinha chamado a atenção do país todo por causa do plebiscito, porém, passou a ter uma relação mais intensa com Lampião: hotéis foram abertos com o nome dele e até uma rua na periferia do município foi batizada de “Virgulino Ferreira da Silva”.

De acordo com Cleonice Maria, as estátuas serão erguidas no começo deste ano ao lado do Museu do Cangaço: produzidas pelo artista pernambucano Zaldo Mendes, elas já estão em Serra Talhada desde 2018, mas não foram colocadas no local imaginado por trâmites burocráticos. Ela afirma não ter medo das ameaças que o monumento já recebeu nas redes sociais — assim como em 1991, pessoas prometeram vandalizar as peças.

Crédito: Divulgação/Museu do Cangaço

“De 1991 para cá, muitas coisas aconteceram por causa de um trabalho que nós desenvolvemos na região para que as pessoas aceitem Lampião como símbolo de resistência. É outra realidade. Algumas pessoas podem ficar incomodadas, mas não ao ponto daquele ano, quando ameaçaram jogar bombas, tudo. Nós mudamos o curso da história”, disse.

“A história do cangaço é muito recente ainda. A gente é amigo dos filhos do primeiro inimigo de Lampião: o Zé Saturnino. Há alguns soldados que combateram o cangaço e que estão vivos, assim como outras figuras importantes que lutaram com Lampião. É natural que uma ação dessas gere muitas críticas. Não temo destruição, mas teremos que conviver com as reações”, completou.

O prefeito, porém, parece entusiasmado: “Tem gente que odeia e tem gente que admira, mas eu vejo como uma figura histórica que teve importância para a cidade e para a região”, disse à BBC. “Além de tudo, será benéfico para o turismo, porque o cangaço, como fenômeno, é conhecido no mundo inteiro”, completou Duque.

 

 

 

Fonte: Catraca Livre

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