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Cientistas do Butantan identificam molécula capaz de combater superbactérias e fungos

Molécula ‘Dordelina’ foi extraída da lactobacillus acidophilus (na foto acima), uma bactéria que faz parte da microbiota humana. — Foto: Bob Blaylock/Divulgação

Pesquisadores do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, identificaram uma molécula que apresentou potencial de combater diferentes bactérias e fungos.

A molécula foi batizada de Dordelina e sintetizada em uma fase pré-clínica. O estudo foi publicado na revista científica “Research in Microbiology”. O trabalho é objeto de mestrado da estudante Bruna Souza da Silva, mestranda em Biotecnologia.

Durante a fase pré-clínica, os pesquisadores observaram que a Dordelina eliminou bactérias como as escherichia coli e pseudomonas aeruginosa, que causam infecções gastrointestinais e pulmonares. Ambas são consideradas microrganismos multirresistentes.

A primeira está associada ao trato gastrointestinal e urinário e à meningite neonatal, e a segunda pode causar infecções pulmonares e gastrointestinais.

A molécula foi extraída da lactobacillus acidophilus, uma bactéria que faz parte da microbiota humana, componente indispensável para a imunidade e produção de energia.

O composto não é tóxico e, de acordo com os resultados da pesquisa, tem potencial para se tornar um novo antibiótico no futuro e ajudar a combater infecções resistentes.

 

A Doderlina também se mostrou eficaz contra o fungo candida albicans, causador da candidíase e conhecido pela capacidade de provocar infecções recorrentes. A infecção por candida é uma das mais comuns em pessoas imunossuprimidas, e algumas cepas têm apresentado resistência contra o antifúngico padrão.

A hipótese dos pesquisadores é que a molécula poderia ser utilizada tanto na indústria farmacêutica, para o desenvolvimento de medicamentos, como na indústria alimentícia, para evitar contaminação e tratar animais infectados.

“Os peptídeos antimicrobianos são compostos sintetizados por todas as formas de vida, com o objetivo de se proteger de ameaças e aumentar sua competitividade para sobreviver em um ambiente específico”, explicou Pedro Ismael da Silva Junior, coordenador do estudo.

Ameaça à saúde

 

A resistência antimicrobiana é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das 10 maiores ameaças à saúde pública, e tem como principal causa o uso indiscriminado de antibióticos.

A ONU estima que o surgimento e a propagação de supermicróbios – bactérias que se tornam resistentes a antibióticos conhecidos – podem causar 10 milhões de mortes ao ano, até 2050. O alerta é do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Próximas etapas

 

Pedro Ismael ressalta que, a próxima etapa é analisar quais partes da sequência da molécula são mais relevantes para que a ação terapêutica aconteça.

Esse trabalho já está sendo realizado pelo doutorando Elias Jorge Muniz, aluno de Pedro, e que está fragmentando a doderlina, sintetizando e avaliando a atividade e a toxicidade desses fragmentos separadamente.

O objetivo desta fase é deixar a molécula menor e, consequentemente, mais barata, mais eficaz e mais segura. “Quanto mais aminoácidos tem a molécula, ou seja, quanto maior ela é, maior o risco de ela provocar uma resposta de anticorpos, uma reação do sistema imune”, disse Pedro.

“Agora, precisamos encontrar parceiros para desenvolver os testes e, em caso de resultados positivos, avançar à fase de testes clínicos”, disse Pedro.

Fonte – G1

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