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Cientistas propõem nova forma de tratar depressão: com implantes cerebrais

Hellerhoff/Wikimedia Commons

Recentemente, médicos têm explorado um método pouco ortodoxo para abordar casos de depressão que não responderam a outros tratamentos: enviar choques elétricos precisos para áreas do cérebro do paciente, o que também é conhecido como ECP (Estimulação Cerebral Profunda). Embora a técnica seja promissora, seus efeitos positivos tendem a ser inconsistentes.

No entanto, um novo estudo da Universidade de Califórnia em San Francisco, publicado na no dia 29 de novembro, parece oferecer um passo intrigante para a ECP como uma terapia para depressão. A pesquisa deles sugere que há um outro possível alvo para estimulação, de modo que possa fornecer melhorias significantes no humor. Melhor ainda, o novo alvo poderia tirar a preocupação de efeitos colaterais vistos com a ECP tradicional, como a mania.

A ECP é comumente usada para gerenciar condições neurológicas como mal de Parkinson e convulsões epilépticas. Essas condições são caracterizadas por atividades elétricas erráticas em certas regiões do cérebro, e os impulsos usados na ECP — enviados por meio de eletrodos implantados no cérebro com uma cirurgia e controlados por um dispositivo também implantado no corpo — são considerados como um marcapasso, temporariamente restaurando os padrões saudáveis do cérebro e reduzindo os sintomas das pessoas. As pessoas com depressão também tendem a ter atividades cerebrais anormais, então, a teoria diz que a ECP pode ser útil para casos difíceis e resistentes de depressão.

Os pesquisadores por trás do estudo tiveram a oportunidade de conduzir um experimento único. Eles conseguiram estudar 25 pacientes com epilepsia crônica que planejavam se submeter a uma cirurgia em que implantariam temporariamente eletrodos no cérebro deles.

Os implantes permitiram que os médicos descobrissem de que parte do cérebro dos pacientes as convulsões vinham ao gravar a atividade neural local de certa região do cérebro (ao localizar as convulsões, os médicos poderiam então planejar como remover de forma segura as partes afetadas do cérebro posteriormente). Mas, para seu experimento, os pesquisadores conseguiram usar esses mesmos implantes para basicamente imitar uma sessão de ECP .

Os pacientes tinham implantes localizados em várias áreas do cérebro, incluindo um próximo à parte lateral do córtex orbitofrontal (OFC), uma região localizada logo atrás do olho. O OFC é conhecido por ter um papel na tomada de decisões, processamento de emoções e moderação do humor. E, embora tenha implicações na depressão, não tem sido estudado extensivamente como um alvo de estimulação.

Durante vários dias, os voluntários tiveram diversas regiões do cérebro estimuladas via ECP , incluindo o córtex orbitofrontal (OFC). Às vezes, os pacientes estavam, em vez disso, recebendo uma estimulação simulada, que agia como um controle. E, após cada sessão de estimulação, eles falavam sobre como estavam se sentindo e respondiam a questionários para ajudar a avaliar o humor.

Os pacientes tinham níveis variados de sintomas de depressão, de mínima a severa (baseado em testes de triagem feitos antes de sua cirurgia). Aqueles que tinham pouco ou nenhum sinal de depressão não tiveram mudanças de humor, não importando onde a estimulação ocorria. Mas pessoas com depressão de moderada a severa tiveram seus humores melhorados durante o período de estímulo do OFC. E, comparadas com sessões em que outras áreas do cérebro associadas com a depressão eram estimuladas, essas melhorias de humor pareciam mais confiáveis, significando que, com as pessoas levando choques maiores, elas sentiam um grande estimulo.

“Nossas descobertas são importantes pois fornecem um novo alvo em potencial para tratar sintomas de humor por meio de terapias de estimulação do cérebro”, disse Heather Dawhes, codiretora do programa de terapias emergentes baseadas em sistemas de neurotecnologia da UCSF, em entrevista ao Gizmodo por e-mail.

Os implantes também permitiram que os pesquisadores gravassem a atividade cerebral dos pacientes fora das sessões de ECP , o que permitiu que eles entendessem exatamente o que a ECP pode ter causado no córtex orbifrontal (OFC). Em particular, a atividade cerebral após a sessão lembra o nível de atividade reparada quando o paciente estava naturalmente de bom humor.

“Isso indica que o estímulo pode facilitar a atividade natural do cérebro relacionada ao humor positivo, ao invés de induzir um padrão não natural”, disse Dawes. E isso foi alcançado sem fazer com que os pacientes ficassem hiperativos ou maníacos, um efeito colateral visto na ECP.

Já existem alguns alvos estabelecidos para a terapia ECP da depressão, como o córtex cingulado subgenual, uma região do cérebro comumente relacionada à emoção e à regulação de humor. Mas estudos ainda não mostraram um benefício consistente do tratamento ECP. Mais notavelmente, um grande teste clínico de ECP foi encerrado prematuramente em 2013, após uma análise prévia ter mostrado que a primeira leva de pacientes não tinha melhorado tanto quanto os pesquisadores previam; algumas pessoas, inclusive, ficaram piores.

Esse teste, embora tecnicamente tenha tido uma falha, não fechou as portas para a terapia ECP. Muitos pacientes no teste não responderam à ECP nos primeiros seis meses (o ponto de corte usado para decidir se o teste deveria continuar recrutando mais pacientes) mostraram, sim, melhorias significativas a longo prazo, por exemplo. E outros testes clínicos de ECP já estão a caminho. Mas isso levou a questões como se há formas melhores de refinar o tratamento.

O OFC, pelo fato de interagir com outras regiões do cérebro que coordenam aspectos do humor e emoção, pode fornecer benefícios mais consistentes quando estimulado, teorizou a equipe do estudo. Existem até evidências limitadas de que formas não-invasivas de estimulação (usando eletrodos colocados na superfície da cabeça) envolvendo o OFC poderiam também ajudar pessoas com depressão. Mas, por ora, há ainda muito a ser feito antes de termos certeza de algo nesse sentido.

“Estamos verdadeiramente animados com os resultados promissores apresentados neste estudo, mas mais trabalho é necessário antes disso se tornar um tratamento clínico”, disse Dawes. O trabalho inclui testes para ver se os mesmos efeitos podem ser observados em pessoas clinicamente depressivas e que não responderam a outros tratamentos.

“Há também muito trabalho a ser feito para verificar se esta abordagem de estímulo pode ajudar pacientes de depressão a se recuperarem de suas condições — até o momento, nós só conseguimos observar efeitos de curto prazo”, disse. “Essa é uma área que nós e outros continuaremos a explorar.”

 

 

Fonte: Gizmodo

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