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Cinco árvores nativas que atraem pássaros nas cidades e ajudam no reflorestamento

Não é preciso ser cientista para notar que ruas arborizadas são mais frescas e agradáveis para uma caminhada. O que muita gente não percebe é como a arborização urbana também pode ajudar na preservação da fauna, especialmente de pássaros. Cada vez mais raras nas cidades, aves como tucanos e tangarás podem voltar a frequentar os ares urbanos graças a iniciativas de rearborização.

“Hoje a gente tem nas cidades brasileiras uma boa quantidade de pássaros mas de poucas espécies. Você vê rolinhas, maritacas, bem-te-vis, não muito mais do que isso” explica Ricardo Cardim, botânico e paisagista. “Se aumentássemos a arborização a gente iria atrair muitos outros pássaros para o nosso convívio diário.”

Para isso, o mais recomendado é que sejam plantadas espécies de árvores nativas, que atraem pássaros sem prejudicar o equilíbrio do bioma. “Quando a gente opta por espécies estrangeiras, como a amoreira, por exemplo, conseguimos atrair animais mas acabamos prejudicando as florestas do entorno”, explica Cardim.

Isso acontece porque as aves espalham sementes da árvore não-nativa em locais onde ela normalmente não existe. A árvore se torna uma espécie invasora e prejudica o crescimento e a saúde das outras plantas da flora local.

As árvores que mais atraem os pássaros são geralmente as frutíferas. “Muitas produzem frutas que os humanos não comem, mas que os animais adoram”, diz Roseli Torres, pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC).

“Quanto maior a variedade de espécies de árvores nativas crescendo com vigor em uma região, maior o número de espécies animais que frequentará aquele local também. É um ciclo de biodiversidade”, diz Roseli Torres, do IAC.

Conheça cinco árvores que atraem pássaros para as cidades:

  •  Pitangueira

A pitanga é uma fruta ácida que cresce em árvores de pequeno a médio porte

Ideal para quem tem pouco espaço, a pitangueira pode ser plantada em vasos ou em jardins sobre lajes. Seus frutos atraem aves como sabiás, bem-te-vis, jacus, saíras e arapongas. É considerada uma planta rústica e de fácil manutenção: as primeiras pitangas costumam aparecer no terceiro ano após o plantio. Por ser nativa da Mata Atlântica, deve ser cultivada em regiões próximas a esse bioma.

O jerivá ocorre principalmente na Mata Atlântica e funciona bem em jardins amplos — Foto: Rafael Paranhos Martins

  • Jerivá

Nativa da Mata Atlântica do Sudeste e especialmente popular nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, essa palmeira atrai muitos papagaios, periquitos e maritacas. Os coquinhos que ela fornece em abundância guardam em seu interior uma pequena castanha que serve de alimento para pássaros. Muito usada em jardins ornamentais, a árvore pode chegar a 15 metros de altura. Além de aves, seus frutos atraem ainda outros animais como raposas, cachorros-do-mato e esquilos.

Popular no Nordeste, o cajueiro ajuda a atrair pássaros como periquitos e papagaios para o meio urbano — Foto: Giselda Person

  • Cajueiro

É uma boa espécie para quem mora em cidades litorâneas do Nordeste, por ser nativa dessa região, mas também se desenvolve bem no semiárido, especialmente quando é plantada em áreas bem irrigadas, próxima a rios. Seu fruto doce e carnoso atrai sabiás, sanhaços, saíras, periquitos e até papagaios. Por ter uma copa ampla e frondosa, o cajueiro demanda espaço para o plantio e solo profundo.

Cagaiteira, espécie frutífera que ocorre no Cerrado, no Parque Nacional de Brasília — Foto: Tony Winston/Agência Brasília

  • Cagaiteira

Típica do Cerrado, a cagaiteira existe em áreas da Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Seu fruto de casca amarelo-esverdeada é pouco consumido in natura mas pode ser transformado em geleias e sorvetes. De sabor ácido, a pequena fruta é adorada por pássaro, que se abrigam na copa ampla da árvore. Seus galhos ficam completamente tomados por flores de agosto a setembro. Como sua altura pode chegar a 10 metros é necessária uma área grande para plantá-la.

  • Buriti

Importante em projetos de reflorestamento, a palmeira do buriti ajuda na recuperação de áreas de margens de rios e lagos. Típica da região amazônica e de algumas áreas do Cerrado, ela atrai araras, morcegos e também espécies de mamíferos como cutias e capivaras. Além de servir como alimentos aos animais, seus frutos também são bem aproveitados pelo homem. A polpa, protegida por uma casca grossa, é usada em sucos e doces, enquanto o óleo extraído de sua semente é usado como ingrediente para fabricação caseira de produtos cosméticos.

Depois de escolhida a variedade a ser cultivada é necessário verificar as condições do plantio. Cultivar árvores na cidade exige conhecimento prévio das características da espécie para não danificar nem a planta, nem o equipamento público. “Plantar uma árvore é como criar um animal de estimação: você não pode começar e depois abandonar”, avalia Roseli.

O cultivo com o objetivo de atrair pássaros deve ser feito de maneira responsável porque o aumento na população de aves no ambiente urbano também pode ter efeitos negativos. “Em excesso certas espécies de aves podem trazer carrapatos e produzir guano, o termo científico para denominar as fezes de aves acumuladas onde se desenvolvem fungos causadores de doenças respiratórias”, alerta Osmar Cavassan, professor de ecologia da Unesp. “Algumas podem até destruir fiação, como é o caso das maritacas, provocando curto-circuito na rede elétrica.”

Cuidados básicos na hora do plantio

Para checar quais são as espécies nativas da sua região é importante verificar guias de arborização oficiais na prefeitura ou no governo estadual. Na cidade de São Paulo, o Manual Técnico de Arborização urbana, disponível online, lista centenas de espécies nativas com instruções de como elas devem ser plantadas.

Veja os cuidados na hora de escolher o melhor espaço para o plantio de uma muda de árvore:

  • Fiação elétrica: é preciso manter uma distância segura da rede de energia elétrica para que a copa e os galhos fiquem a pelo menos dois metros da fiação.
  • Iluminação pública: árvores de médio e grande porte devem ficar a pelo menos quatro metros de distância dos postes de luz para não prejudicar a iluminação pública.
  • Construções próximas: raízes e galhos em crescimento podem danificar muros ou calçadas e as folhas que caem das árvores podem entupir calhas e sobrecarregar telhados.
  • Esquinas: árvores muito próximas das esquinas de ruas movimentadas podem prejudicar a visibilidade dos carros na hora da conversão.
  • Autorização prévia: de modo geral é necessária a permissão da prefeitura quando o plantio é feito em um espaço público, como calçadas ou parques.
  • Tubulação subterrânea: redes de esgoto ou de água podem ser afetadas pelas raízes de algumas espécies de árvores com raízes desenvolvidas.
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