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Cinema tocantinense: produtores apontam falta de políticas de incentivo

A área do audiovisual tocantinense vem se desenvolvendo e o Estado conta com vários produtos cinematográficos lançados e também em fase de produção. O Portal Gazeta do Cerrado ouviu alguns dos principais produtores do Estado quando o assunto é audiovisual. Perguntamos a respeito do atual panorama, condições de trabalho, apoio do governo e as principais dificuldades encontradas na profissão.
Nosso primeiro entrevistado foi o publicitário, cineasta e documentarista, Marco Aurélio Jacob, curitibano radicado no Tocantins desde 2011, formado em Publicidade e Propaganda, com especializações em Semiótica e Cultura Indígena, premiado nas áreas de Fotografia, Cinema e televisão.  Jacob é atuante na área do audiovisual desde 2002, tendo como seu trabalho de estreia a direção do curta documentário “Homem Guarani”. E co-produziu na Itália o longa “Garibaldi in America” (2005) dirigido pelo cineasta italiano, Alberto Rondalli. Com Gabriel Braga Nunes, Ana Paula Arósio.
Perguntamos ao produtor quais as principais dificuldades para se produzir com qualidade, e ele nos afirmou que são dois fatores: a falta de mão de obra qualificada, e de equipamentos técnicos de ponta. Segundo ele, são poucos técnicos e profissionais que podem se dedicar exclusivamente ao cinema ou à produção audiovisual artística no Tocantins, muitos trabalham na área de comunicação e vezes trabalham em outras áreas, dificultando o aperfeiçoamento.
Infelizmente o Estado não conta com cursos ou academia de cinema que permita a ensino ou a reciclagem da mão de obra, segundo ele.  “Para produzir documentário é mais fácil, a beleza cênica do cerrado e a luz externa nos ajuda a resolver muita coisa. O importante como diria o nosso grande cineasta Glauber Rocha, é ter uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.  Ele ainda salientou: “o Tocantins tem muita coisa boa para ser retratada, muita história para ser contada, tanto no campo do documentário quanto no campo da ficção”.
Uma das opções apontadas pelo diretor para solucionar os problemas citados é a criatividade. “Não vamos parar de trabalhar por que não temos equipamento de ponta, pelo contrário, temos que continuar produzindo e trazer e incentivar outros profissionais a virem para a região”. Contratações pontuais, segundo Jacob, podem servir como uma espécie de intercâmbio de experiências para impulsionar a qualificação e o aprendizado da mão de obra audiovisual do Tocantins.
Marco Aurélio Jacob lançou recentemente como diretor e roteirista, o curta ficção “João e Maria, uma aventura no cerrado”, uma adaptação do conto clássico dos irmãos Grimm, contemplado pelo edital de cinema da Fundação Cultural de Palmas, Tocantins e ANCINE, pelo Fundo Setorial Audiovisual – FSA. O diretor também está finalizando um documentário sobre a história do Circo Social “Os Kaco” que há anos faz um trabalho social com as crianças de Taquaruçu.
Ainda para esse ano Marco pretende finalizar uma Web Série sobre o sistema prisional de jovens e adultos no Tocantins, que depois se transformará em documentário. O enredo fala sobre a ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Além disso, produz a TV Web do Jornal Gazeta do Cerrado e está em faze de conclusão do documentário “Raízes da Liberdade” em parceria com a jornalista Maria José Cotrim.
Na opinião de Marco, falta apoio do Estado em forma de editais de cultura para que o Tocantins possa começar ter mais espaço no cenário nacional e citou como exemplo o documentário dirigido por Marcelo Silva “Dona Raimunda, quebradeira de cocô” que foi destaque no Brasil e no exterior. E foi enfático: “o cinema tocantinense tem espaço garantido, basta produzir e divulgar. Se o material for bom vai sim ser reconhecido”.
Incentivo
Nosso outro entrevistado é presidente da FETET – Federação Tocantinense Estadual de Teatro, militante da cultura com 22 anos de experiência e diretor da primeira série de ficção do Tocantins “O BONECO DE BARRO E O REI”. Nival Correia participou como ator do longa “Xingu”, da série espanhola “Descaço sobre a Terra Vermelha” e do filme “O nome da Morte.
Ao ser questionado sobre as dificuldades encontradas, o presidente da FETET afirmou que falta estruturação do Estado para fomentar politica de incentivo à produção audiovisual na forma de editais de cultura. Segundo ele, este é um dos entraves para os produtores locais, o que resulta na perda de recursos federais principalmente por parte da ANCINE (Agência Nacional de Cinema). A falta de pessoal qualificado também foi lembrada por ele, pois não existe uma equipe de técnicos aptos a realizar todo o trabalho.
Para driblar as dificuldades, Nival elencou a busca por editais nacionais de cultura como forma de solucionar estes problemas: “a única maneira de lidar com isso é concorrer lá fora”.
Nival acabou de gravar a primeira séria de ficção genuinamente tocantinense com recursos adquiridos através de um edital nacional de cultura. O BONECO DE BARRO E O REI, com lançamento previsto apenas para o ano que vem, têm 26 capítulos e concorreu com produções audiovisuais de todo o Brasil. Segundo ele, todas as gravações foram feitas no Estado e todo o recurso no valor de R$ 1.690.000,00 foi gasto no Tocantins. E ressaltou: “o único jeito é captar recurso lá fora. Mas a gente precisa de politicas de incentivo aqui do Tocantins, até pra aprimorar os profissionais locais”.
Ate o final do ano, o ator e produtor tem a intenção de produzir mais um série chamada “Amazon Fashion” que vai retratar a moda da Amazônia. O produtor disse que atualmente busca novas parcerias em âmbito nacional e que esta de olho nos editais de cultura do município.
Mais políticas
Eva Pereira, produtora, roteirista e diretora, tem um olhar mais otimista e falou-nos que as políticas de incentivo e fomento em todos os eixos, promovidas pelo programa Brasil de Todas as Telas, criado pela Ancine, mudaram o cenário do audiovisual brasileiro. “Hoje temos um audiovisual com a cara do país plural que somos, com sotaques, rostos e vozes de todos os cantos do Brasil, estamos produzindo em todas as regiões e revelando os muitos brasis que somos”.
Segundo Eva, houve um crescimento considerável de projetos do Tocantins inscritos em todas  as chamadas públicas do programa. “Vencemos nas edições 2015 e 2016 da chamada de conteúdos para TVs Públicas”, lembrou a produtora que é autora do projeto vencedor do ano de 2016 intitulado “O Mistério de Nhemyrõ” realizado em parceria com a MZN Filmes e com estreia prevista para o segundo semestre nos mais de 200 canais filiados à EBC (Empresa Brasileira de Comunicação).
As dificuldades encontradas por Eva e sua equipe são as mesmas citadas por Marco Jacob e Nival Correa: a falta de vontade política dos agentes do Estado para promover a produção em grande escala no Tocantins. “Perdemos e estamos perdendo possibilidade de convênios que promoveriam editais para beneficiar projetos de todo Estado”, ressaltou.
Outro gargalo, segundo a diretora, é a baixa valorização da mão de obra local na produção: “é verdade que precisamos avançar no número de serviços prestados, porém, em análise rápida feita recentemente pela ATCV (Associação Tocantinense de Cinema e Vídeo) foi possível constatar que de porte de recursos para produção, algumas empresas não valorizam os profissionais locais, que recebem menos perante os contratados de outros Estados”.
A elaboração de novos projetos e a busca constante por espaço nos editais nacionais e regionais de desenvolvimento e produção da Ancine é uma das soluções para a falta de incentivo estatal.
Atualmente Eva Pereira está trabalhando na produção local da nova novela das 21h da TV Globo que terá sequências gravadas no Tocantins, e em setembro, pretende rodar o curta metragem “Cotinha da Vila” premiado no edital do MINC. “Neste projeto sou roteirista, e vou decidir se fico na direção ou na atuação”.
Na sua opinião, o audiovisual artístico no Estado necessita do reconhecimento de todas as esferas do poder público para despontar como grande produtor nacional: “estamos ganhando espaço nos editais regionais e nacionais enquanto o Estado se nega a firmar convênio para investir em nossa produção”, disse.
Editais
Nossa ultima entrevistada é Juliane Almeida, Graduada em Comunicação pela Universidade de Brasília, especialista em Gestão e Políticas Culturais pela Universitat de Girona & Itaú Cultural e estudante internacional de cinema na Escuela Internacional de Cine y Television San Antonio de Los Baños em Cuba. “Ju”, como gosta de ser chamada, foi coordenadora de audiovisual e diretora de arte e cultura no Governo do Estado do Tocantins (2011-2014); conselheira de audiovisual da cidade de Palmas (2011-2013) e secretária geral da ABDN – Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas (2012-2013). Desde 2014, preside a associação Centro de Imagem e Som (CIM) e dirige a produtora Jubalina Produções.
A multi versátil Ju, conversou com o Portal Gazeta do Cerrado e relatou que as dificuldades giram em torno das politicas públicas. Segundo ela, o último edital promovido pelo Estado foi realizado em 2013/14 e que até o momento não foi pago completamente. “O Estado não cumpriu com o arranjo regional que foi feito com o FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), em 2017 éramos pra estar no segundo arranjo. O município por sua vez realizou uma edição, mas está atrasado para a segunda”, afirmou Ju.
O FSA é um recurso público que alimenta a produção audiovisual em todo o país, e sem esse recurso, os produtores perdem oportunidades pelo fato do audiovisual ser um produto com auto custo de produção. Como produtora, Ju também participa de todas as concorrências regionais e nacionais. Ressaltou ainda que essas concorrências são muito mais competitivas e que para chegar à disputa bem preparada depende de um maior fluxo de produção, o que não vem acontecendo.
Esse ano Ju lançou um curta produzido com fundos provenientes do arranjo do município Procine, e atualmente está trabalhando em projetos e parcerias. E frisou: “se a gente não está produzindo, tem que estar escrevendo”.
Ela disse ainda que falta muito para o Tocantins figurar entre os grandes produtores do Brasil e citou como exemplo o Estado de Pernambuco, onde existe uma politica sistematizada que funciona, e que é proporcionalmente, o Estado que mais investe em audiovisual no país.
E finalizou: “quando a gente vê Recife em Berlim, em Cannes, não é a toa. Isso é resultado das politicas publicas implementadas há alguns anos”.
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