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Coisa de cinema – ‘Lendas do Cerrado’ traz as histórias dos povos tradicionais do Tocantins

Por: Antônio Neves

 

Dando sequência aos trabalhos de gravação a equipe do documentário ‘Lendas do Cerrado’, vem intensificando o ritmo de gravações e ouvindo as lideranças indígenas e os anciãos. As histórias contadas farão parte da obra que deve ser lançada ainda este ano. A princípio os quatro maiores povos do Tocantins estarão inseridos no audiovisual – Apinajé, (Apinayé) Xerente, Krahô, e Karajá-. O dia a dia na aldeia, como surgiu as etnias, culturas, festas tradicionais, cosmologia, a função de cada líder e o respeito mútuo entre os habitantes estão na proposta da obra.

O primeiro contato da equipe da Raka Filmes ocorreu com o povo Apinajé, que habita as terras localizadas no município de Tocantinópolis, no extremo norte do Tocantins, entre os rios Araguaia e Tocantins, na região conhecida como Bico do Papagaio. O povo Apinajé ocupa uma área de cento e quarenta mil hectares de terras, demarcadas e homologadas e tem uma população estimada de 1500 indígenas, distribuídos em seis aldeias.

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O homem que veio do morcego, assim os Apinajé se definem a partir de sua origem. Foi neste primeiro contato entre a equipe de gravação e o povo tradicional, que a equipe percebeu que os Apinajé têm uma história rica e que precisa ser difundida. Os indígenas são apoiadores por entenderem que sua trajetória deve ser registrada e através da troca de conhecimento vem o valor e respeito que eles buscam.

 

Na etnia são os anciãos os principais detentores da cultura, pela sabedoria e conhecimentos tradicionais, bem como os rituais de batizados e festas. “Atualmente os Apinajés não estão praticando todos os rituais e festividades da cultura, além de não cultivar as roças como antigamente”, explicou a cacique de uma das aldeias, Creuza Apinajé.

A cacique relatou também, que “no meu tempo de mocidade, a festa da Tora Grande – um ritual que marca o fim do luto -, era praticada seguindo todas as etapas: cantos, danças e pinturas. As festas duravam até trinta dias, pois as pessoas cultivavam uma roça extensa para alimentar todas as pessoas que participavam”. Disse Creuza que falou também sobre a importância de manter essa cultura viva, repassando aos mais jovens para que não se perca com o tempo.

Saberes

 Os saberes e conhecimentos de plantas e raízes medicinais são mais comuns entre as mulheres anciãs. Quando algum parente está doente recorre ao pajé ou ao ancião. Mas as lideranças indígenas estão percebendo que ainda é tempo de aprender e vem aprimorando seus saberes, não só em plantas medicinais, mas em outras vivências dentro da aldeia, como o fazer esteiras e colares – artesanato utilizando materiais da natureza – bem como as pinturas corporais em festas que ocorrem no território, como na corrida de Tora. Além disso, o cultivo de roças, tarefa distribuída entre os homens e o cuidado das mulheres.

O ‘Lendas do Cerrado’, é uma realização através da Lei Aldir Blanc e traz este levantamento sobre os grandes quatro povos indígenas do Tocantins. Em um registro inédito a produção faz a narrativa sobre a cosmologia, a cultura e as lendas do povo tradicional da floresta. Para o diretor da produção, Marco Aurélio Jacob Brasil, “este também é um momento para troca de experiências, despertar a curiosidade deste povo protetor do meio em que vivemos, e consequentemente selar o respeito que devemos ter com nossos ancestrais”, destacou.

Marco Aurélio Jacob afirmou ainda, que “o grande intuito deste projeto é poder desmistificar a imagem clássica do indígena brasileiro, mostrando a cultura, e a cosmologia dos povos indígenas, que são as histórias que formam o arcabouço cultural e estrutural de suas nações. Cada povo e cada etnia é como se fosse uma civilização diferente, com línguas, normas, condutas e políticas diferentes. A riqueza cultural brasileira é tão grande e tão vasta se levarmos em consideração todos os povos indígenas, e a gente tem que começar por algum lugar. E esse começo é isso, a cosmologia da criação, ou seja, a história de como cada povo indígena que nós estamos visitando surgiu. Estamos visitando os Apinayé, os Krahô, os Akwen Xerente e agora os Karajá”, destacou.

“Com isso a gente pode contribuir com as informações e com as histórias que são tão ricas em detalhes e personagens como o Deus Sol, lua, onça e os animais de nossa fauna brasileira que ajudam a ilustrar e enriquecer ainda mais a nossa cultura. A partir da cosmologia da criação damos início a uma introdução ao conhecimento desses povos que não são conhecidos por nós brasileiros infelizmente. Esse é o nosso papel como comunicador: poder dá à luz, desmistificar e acabar com o preconceito que nós temos ainda sobre os povos”, enfatizou o cineasta.

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