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Como o algodão brasileiro tem tomado conta da moda mundial

No ano em que se tornou a maior exportadora da matéria-prima no mundo, a indústria nacional se prova essencial globalmente
Não é segredo que a moda nacional tem o algodão como um dos principais insumos, graças à abundância, qualidade e programas que incentivam o uso. No cenário mundial, não é diferente, e o algodão brasileiro emerge como uma matéria-prima cada vez mais desejada e consumida pela indústria internacional.
O algodão é um dos principais insumos da moda

 

Algodão brasileiro no mundo

Dados revelam que, neste ano, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos na produção de algodão, ocupando a terceira posição mundial, atrás apenas da China e da Índia. Quando se fala da exportação, contudo, a indústria nacional já ocupa a primeira posição no cenário global, após um crescimento de 1,45 para 2,70 milhões de toneladas, entre 2023 e 2024.
Em números gerais, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de todo o algodão exportado mundialmente, 44% vem do Brasil. A estimativa indica a dominância da matéria-prima brasileira na moda mundial, principal setor para o qual o material é destinado.
Alexandre Pedro Schenkel, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), compartilha com a coluna a importância de um trabalho cuidadoso e bem-feito, devido à grandeza que o mercado brasileiro alcançou.
“O algodão é um produto que demora o ano inteiro para ser produzido. Até a entrega ao consumidor final, temos uma grande responsabilidade. É uma cadeia completa na qual trabalhamos”, afirma Schenkel.
Na safra atual, o Brasil deve produzir quase 4 mil toneladas de algodão

 

Da praga ao topo

Até o início dos anos 1990, a cultura do algodão já ocupava uma enorme porção do território brasileiro, mas a quantidade de produção, de fato, não traduzia essa imensidão. Isso se devia ao fato de que o trabalho era majoritariamente manual, sem uso significativo de máquinas.
Foi em 1996, contudo, que tudo mudou após a chegada de uma parasita que infestou as plantações. O bicudo-do-algodoeiro destruiu safras e poderia significar o fim da produção no Brasil. A reviravolta se deu em como os profissionais encararam a situação:
“Foi um cenário ruim na época, mas obrigou os produtores a buscarem a tecnologia. Saíram pelo mundo para ver o que os norte-americanos, os australianos estavam fazendo, e, assim, superamos eles”, conta Marcio Portocarrero, diretor executivo da Abrapa.
Desde a crise, a produção nacional vive números que se superam a cada ano, por meio do uso de áreas consideravelmente menores do que nas décadas anteriores, graças à tecnologia. Em 1980, o algodão era cultivado em mais de 4 mil hectares no Brasil. A pluma confeccionada, no entanto, não ia muito além das 500 toneladas anuais. Em 2024, são menos de 2 mil hectares, com uma concepção que deve passar de 3.500 toneladas, de acordo com projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Até os anos 1990, o algodão brasileiro era colhido manualmente


Tecnologias permitiram a diminuição no espaço de cultivo e uma produção cada vez maior

 

Márcio Portocarrero, diretor da Abrapa

 

Qualidade e rastreabilidade

O Brasil é, atualmente, o maior fornecedor de algodão responsável do mundo, de acordo com o Textile Exchange 2023. As associações nacionais tomam um cuidado especial com a responsabilidade de produção, segundo Silmara Ferraresi, diretora de relações institucionais da Abrapa e gestora do movimento Sou de Algodão. “Não importa seu lugar na cadeia produtiva, você sempre será também o consumidor final”, garante a executiva.
A longa cadeia de produção de algodão é a segunda que mais gera empregos no Brasil. Ela é composta por uma série de profissionais, que vão desde os fornecedores de insumos e produtores de algodão até a área de fiação, estamparia, malharia, confecção, comércio e consumidor final, entre outros.
Silmara Ferraresi, diretora de relações institucionais da Abrapa e gestora do movimento Sou de Algodão
Para fiscalizar as etapas de produção, a Abrapa criou a certificação Algodão Brasileiro Responsável (ABR), na qual os pilares ambiental, social e econômico são essenciais para a garantia do selo. Na safra 2022/23, o ABR representou 82% de toda a produção brasileira, um crescimento de 28% em relação ao ciclo anterior. Outro destaque é que 92% foi cultivada em regime de sequeiro, apenas com água de chuva.
Em 2004, a Abrapa implementou um sistema próprio de identificação que permite o rastreamento do algodão, desde o campo até o produto final. Nas etiquetas das roupas e produtos feitos com o material, são disponibilizados QR Codes, para que, rapidamente, o consumidor consiga ver as certificações e os detalhes de produção.
A medida é importante para a sustentabilidade, ao evitar que a produção contribua em grande escala para a degradação dos biomas brasileiros.
De acordo com uma investigação da ONG Earthsight, publicada neste ano, grandes marcas, como a espanhola Zara e a sueca H&M, estão envolvidas no desmatamento e em diferentes tipos de violação na Amazônia e no Cerrado, por meio do algodão obtido no país.

Etiquetas exibem informações de rastreabilidade
Etiquetas exibem informações de rastreabilidade
A história do algodão brasileiro transformou o país da segunda colocação para a de maior exportador mundial. É uma cadeia essencial para a economia e para a indústria da moda, em que o consumidor final tem acesso a certificações e rastreabilidade.

 

(Fonte: Metrópoles)
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