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Conheça as doenças mais incidentes no verão e como se prevenir

Phlebotomus papatasi

Biólogos especialistas do Conselho Regional de Biologia da 1ª Região (CRBio-01) chamam a atenção da população para os cuidados relativos a enfermidades mais incidentes no verão, como a dengue, zika, chikungunya, febre amarela, leishmaniose, leptospirose e doenças gastrointestinais.

Mesmo com a justificada preocupação com a pandemia do novo coronavírus, é importante não esquecer e tomar medidas para prevenir essas doenças. A elevação da temperatura e umidade cria condições para a multiplicação das populações de insetos, como os mosquitos Aedes aegypti (responsável pela transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya, e também da febre amarela); Phlebotominae (leishmaniose); e Haemagogus (febre amarela).

A proliferação de insetos como moscas, baratas e formigas contribui para a contaminação de alimentos por micro-organismos patogênicos, que provocam doenças gastrointestinais.

Com relação à leptospirose, as enchentes causadas pelas chuvas de verão propiciam as condições para a contaminação de pessoas expostas à urina de roedores (ratos urbanos).

O Biólogo Sérgio Bocalini, conselheiro do CRBio-01 e vice-presidente executivo da Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (Aprag), explica que os insetos, ao contrário dos mamíferos, não têm regulação própria da temperatura corporal, e, assim, dependem das condições do ambiente. Nas regiões Sudeste e Sul, a chegada do verão oferece o binômio necessário para a aceleração do metabolismo dos insetos: a combinação de temperatura e umidade elevadas.

Segundo o Biólogo, uma mosca põe de 720 a 750 ovos na sua fase adulta. No inverno, com a temperatura entre 18 e 22 graus, ela demora de 40 a 60 dias para completar o seu ciclo de vida. No verão, com temperaturas a partir de 26 ou 27 graus, ela demora apenas de 7 a 10 dias para completar o seu ciclo de vida e ovipositar a mesma quantidade de ovos.

A umidade também cumpre um papel fundamental na aceleração do metabolismo dos insetos, o que explica a pouca presença de moscas e mosquitos em regiões de deserto, mesmo com o calor intenso.

Dengue, chikungunya e zika

Entre as doenças que sazonalmente aumentam no verão, a dengue é a de maior incidência. Dados do Ministério da Saúde apontam que em 2020, até o dia 12 de dezembro, foram notificados 979.764 casos prováveis de dengue no Brasil. Nesse período, também foram notificados 80.914 casos prováveis de chikungunya. As notificações de casos prováveis de zika chegaram a 7.119 até 5 de dezembro.

Ainda não há dados sobre a incidência da dengue neste verão. Mas Sérgio Bocalini alerta que, com as atenções voltadas para a pandemia do novo coronavírus, houve uma redução, no ano passado, nas fiscalizações de algumas prefeituras para a eliminação de criadouros de Aedes aegypti e na divulgação de campanhas educacionais.

“O poder público é fundamental, mas a população precisa fazer a sua parte. A regra básica é aquela já bem difundida: eliminar os criadouros de Aedes. O criadouro é qualquer coisa que permita acúmulo de água”, ressalta Sérgio Bocalini. “Seria ótimo se os moradores dedicassem cinco minutos do dia para vistoriar seus quintais. Mas essa fiscalização tem que acontecer durante o ano inteiro”, defende o Biólogo.

O acúmulo de água pode acontecer em pneus, vasos de plantas, garrafas, tampas de garrafa, papeis de bala, folhas de árvores, enfim, qualquer recipiente capaz de reter líquidos.

Febre amarela

Aedes aegypti também pode ser responsável pela transmissão da febre amarela, sobretudo em áreas urbanas. Já em áreas florestais, o vetor da febre amarela é principalmente o mosquito Haemagogus.

Sérgio Bocalini esclarece que, em 2021, até o momento, não há registro de casos de febre amarela no Estado de São Paulo. A doença é tradicionalmente restrita à região amazônica, mas incidiu de forma atípica no Sudeste do país entre 2016 e 2018, o que motivou a realização de campanhas de vacinação em cidades.

Uma forma de se antecipar a um surto de febre amarela é monitorar as populações de macacos-bugios em florestas da região. Os bugios têm baixa resistência à doença e muitas vezes morrem ao contraí-la. As mortes servem como alerta para a adoção de medidas, como a vacinação. Neste ano, até o momento, as autoridades não detectaram mortes de bugios por febre amarela.

Leishmaniose

A leishmaniose, endêmica em populações de baixa renda, é considerada uma “doença negligenciada”, por não receber investimentos adequados em pesquisa, produção de medicamentos e controle epidemiológico. Ela é transmitida ao homem pelo mosquito Phlebotominae, chamado popularmente como mosquito-palha ou birigui, entre outros nomes regionais.

O cão doméstico é considerado o reservatório mais importante para a leishmaniose visceral, a forma mais grave da doença, que afeta órgãos internos, sobretudo fígado, baço, gânglios linfáticos e medula óssea, e pode levar à morte, quando não tratada. A doença é causada por protozoários do gênero Leishmania, transmitido comumente do cão infectado para a pessoa, por meio do mosquito.

O Brasil está entre os cinco países que apresentam maior ocorrência da leishmaniose visceral. A Caatinga e o Cerrado são tradicionalmente as regiões de maior incidência da doença no nosso país, mas Sérgio Bocalini adverte que a leishmaniose “vem se aproximando das áreas urbanas”.

Não há vacina contra as leishmanioses humanas. Uma medida de prevenção é manter os quintais limpos, principalmente de fezes de animais e outros materiais orgânicos que possam atrair o mosquito Phlebotominae. Outras medidas são evitar que os mosquitos entrem em casa, valendo-se de tela, rodos de borracha nas portas etc. e colocando coleiras repelentes de insetos nos cães domésticos.

Leptospirose

Além de prejuízos humanos e materiais, as enchentes provocadas por tempestades de verão criam condições para a propagação da leptospirose. A doença é causada pela urina de animais infectados, principalmente roedores. O xixi dos ratos urbanos contamina as águas represadas com a bactéria Leptospira, que invade o corpo humano através de pequenas feridas na pele, das mucosas ou mesmo de poros dilatados após longos períodos de imersão.

Ao contrário dos mosquitos e outros insetos, não há aumento da população de ratos no verão. A elevação da incidência de leptospirose na estação é resultado dos alagamentos causados pelas chuvas, que facilita a contaminação das pessoas pela Leptospira.

“Tem muito roedor nas galerias de esgoto e boa parte está contaminada com a bactéria Leptospira. A recomendação é evitar o contato com a água e lama de enchentes. Uma pessoa que teve esse contato e está com febre deve procurar imediatamente o serviço médico. A leptospirose pode causa a morte”, adverte Sérgio Bocalini.

Doenças gastrointestinais

As doenças gastrointestinais, que não são de comunicação obrigatória, também tendem a aumentar no verão. Uma das causas para a elevação da incidência é o já citado fenômeno da multiplicação das populações de insetos. Nesse caso, os vetores principais são as moscas, baratas e formigas. Esses animais promovem a transmissão mecânica de micro-organismos patogênicos para alimentos (tanto frescos como preparados) e utensílios, como talheres e pratos.

As mocas e baratas são as mais visadas, mas as formigas, que em geral gozam de boa reputação, podem ser bastante danosas pela capacidade de locomoção e de trabalho em grupo.

“A recomendação para a população é redobrar os cuidados diários de limpeza e organização dos ambientes, sobretudo nas cozinhas e dispensas. É importante fechar as frestas nas paredes e pisos. Um azulejo quebrado ou não rejuntado na cozinha pode servir de abrigo para insetos”, ressalta o Biólogo Sérgio Bocalini.

Fonte: Conselho Regional de Biologia da 1ª Região

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