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Crime de intolerância religiosa cresce nas redes e mãe de santo reage: “não vamos nos calar”

Ana Negreiros – Gazeta do Cerrado

“Faz uma macumba ai”. “Você fala com mortos?”. “Sua crente fanática”. “Deixa de ser beata”. Expressões comuns mas que na verdade são exemplos de um crime: a intolerância religiosa. Desde 1989, toda e qualquer prática de discriminação ou preconceito contra religiões é crime no Brasil. As denúncias ainda são poucas se comparadas ao que se escuta no dia a dia. Em 2019 houve um aumento de 56% quando comparado ao ano anterior. Foram 354 casos registrados contra 211 de 2018.

Nos últimos cinco anos, o maior número de denúncias aconteceu em 2016, quando o registro chegou a 377. E esta semana, no Tocantins, o caso entra em discussão por conta de um vídeo nas redes sociais, que um ex-policial e pastor, diz: “não adianta fazer macumba, se reunir pra bater tambor contra mim não, macumbeiro do diabo. Macumbeiro é filho do cão. Mãe de Santo véia. Vocês têm o diabo, comigo tá é Deus”. O caso foi registrado na Delegacia de Crimes Virtuais

Apesar da liberdade de crença ser assegurada no Brasil, as religiões com matriz africana são as mais atacadas, como no caso tocantinense. Em 2019 elas representaram 61% das denúncias, sendo seguidas pela intolerância aos espíritas que foi de 18%. Roberta Tum, presidente da Federação das Casas de Culto de Matriz Afro-brasileira do Tocantins, Iya Ifalore Efuntola Ayelabola, em vídeo nas redes sociais falou da luta diária e opressão sofrida pelos praticantes das religiões. “A liberdade religiosa ainda é desrespeitada diariamente com episódios de perseguição, injustiça e difamação virtual”, revelou.

A mãe de santo disse ainda que, “esse senhor está longe de saber o que é macumba, não sabe o que é. A mão que nasce para curar não se levanta para destruir nem para praticar o ódio”, comentou após a declaração publicada na quinta-feira, 4. Nos últimos anos, o Tocantins tem sido palco de vários episódios de intolerância envolvendo vários líderes religiosos que também foram alvo de xingamentos, desinformação e racismo.

Roberta defendeu a união contra a intolerância e destacou “o povo de santo está farto, cansado de ser atacado, de casos de racismo religioso e intolerância religiosa. Povo de santo: chega!”.

Racismo

Stânio Vieira, sociólogo tocantinense, lembra que a religião é um fator social. “Ela é observável pelos indivíduos e grupos, por isso é uma construção cultural”. Stânio fala que a intolerância hoje é reflexo da formação religiosa que o Brasil teve. “Essa realidade de autoritarismo do processo religioso no Brasil resultou em negação das religiões de matrizes africana. Fato ocorrido em razão do racismo. Portanto, a intolerância religiosa, infelizmente, faz parte da sociedade brasileira em razão da própria realidade de racismo velado e pusilânime brasileiro”, detalha.

Para Stânio, “é fundamental o debate constante contra essa realidade odiosa, pois a religião é algo que pode ser compartilhado socialmente, mas com respeito às diferenças sociais e culturais a fim de construírmos uma sociedade plural sem fundamentalismo da religioso”.

 

Intolerância

Todo e qualquer ato de desrespeito ao direito das pessoas de manterem as suas crenças religiosas é intolerância religiosa. Elas acontecem geralmente com ofensas pessoais por causa da religião e podem acontecer agressões físicas e depredação de templos.

Anderson Teixeira, espírita kardecista e coaching, fala que a intolerância começa com o desrespeito. “ Não podemos julgar ninguém. Cada pessoa sabe onde está e onde quer chegar. Respeitar a religião é reconhecer crenças, tradições, o contexto que a outra pessoa foi criada. É filosofia de vida”, esclarece.

Para saber conviver com filosofias diferentes, Anderson lembra que é preciso ter três coisas em mente: “não julgar, respeitar e manter o equilíbrio. Ao entendermos a posição do outro, conseguiremos conviver com nós mesmos, em paz. O que falta hoje para isso é que cada pessoa se encontre. Elas precisam se encontrar”.

 

Canal para denúncia

Para denunciar as situações basta usar o Disque 100, que é disponibilizado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Também é indicado as vítimas registrem um Boletim de Ocorrência em uma delegacia próxima.

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