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De jalecos e longe dos filhos: as mães guerreiras que estão na guerra contra a Covid no TO

Ana Negreiros – Gazeta do Cerrado

Um dia das mães diferente. Assim será o próximo domingo, 10/5. Muitos irão celebrar com ligações por vídeo, outros por mensagens, alguns, encontrarão um jeito de conversar de perto, mas longe, como a Frances Arielo. Ela que é profissional da saúde mora com a mãe que tem 90 anos. Com dois filhos e um deles, também da saúde, Frances deixou sua casa há mais de 40 dias buscando reduzir riscos para dona Aparecida. E agora, com o dia das mães chegando, ela vai colocar um banquinho do lado de fora e sentar para papear com a mãe, que estará dentro de casa.

Assim como Frances, várias mães conciliam a vida em casa com o trabalho na saúde e para elas, o maior medo é contaminar as famílias.

Sair de casa foi uma decisão difícil, mas necessária. Agora, minha filha fica no apartamento fechada com minha mãe e eu aqui fora para trabalhar. Vou até minha casa somente para levar alimentos. Chego até a porta , mas não entro. Eu sou muito ligada com a mamãe, então tenho que cuidar também para que ela não caia em depressão”, revela Frances.

Saúde mental

O cuidado com a saúde mental citado por Frances, também é lembrado por Marlla de Sousa Santos. Ela que é divorciada e tem dois filhos, diz que estar no ambiente hospitalar neste momento de pandemia requer muito equilíbrio mental. “ Temos que honrar o nosso juramento diante da equipe e do paciente. Ninguém pede para ficar doente”.

Marlla revela que tem visto muito medo e preconceito, tanto de profissionais como das pessoas com quem convive.

Convivo com uma preocupação enorme de como vou chegar em casa e o que vou transferir para meus filhos. Eles hoje são grandinhos e sabem muito bem a seriedade dessa realidade e se preocupam comigo. Tenho que estar bem, redobrar os cuidados entre um ambiente e outro, pois a minha realidade é trabalhar com pacientes de risco”, explica.

Adaptação

Mãe de dois filhos, com 7 e 5 anos, Gilcilene Lopes Bezerra Costa conta que este momento tem sido de adaptação. “Tivemos que estudar e aprender sobre o vírus e isso, nos fez passar por muitas mudanças, medos e inseguranças”. Ela lembra que foi preciso redobrar os cuidados com a higienização das mãos. “Agora, nossa rotina é enfrentamento e cuidar do paciente”.

Atuando no processo de orientação e apoio à equipe, a profissional fala que o importante é “estar ao lado de cada profissional, dando força e passando segurança para minha equipe. Renovar a esperança que iremos vencer o vírus e que estamos trabalhando na linha de frente por amor e pelo próximo”, detalha Gilcilene.

Aprender como agir tem sido também o foco de Marinalva Soares e Silva. Segundo ela, o ambiente hospitalar está tenso, “porque é tudo muito novo e não temos protocolos pra tratamentos do Covid-19 em recém-nascidos. Já temos um paciente positivo e estamos aprendendo ao poucos. Dá medo, mas também orgulho: estamos fazendo acontecer”.

Assim como as outras profissionais, ela tem medo de ser levar o vírus para outras pessoas. “Temos medo de ficar doente com gravidade, já que o vírus tem vitimado pessoas de todas as idades, e sem outros problemas. Não sabemos como nosso organismo vai reagir. Mas sigo aqui porque escolhi minha profissão por afinidade com as obrigações. Eu sou cuidadora”.

Esperança

Karla Parente atua com um pensamento: acreditar na esperança que dias melhores virão”. Conforme ela , ser da saúde “é ter duas mãos e um coração entre elas”. A história dessas mulheres, mães e cuidadoras demonstra que, como diz Karla, todos os dias é hora de “ vencer o sentimento de onipotência, reconhecer nossos próprios limites”. Elas possuem o “dom de cuidar das pessoas, amar o próximo e ver em cada olhar de tristeza, uma esperança”.

O sentimento dessas mulheres também está na comunicação. A exemplo da editora-chefe da Gazeta do Cerrado, Maju Cotrim. Jornalista e mãe, a profissional vem se dedicando a informar sobre o vírus e ajudar a combater a transmissão. A todas as mães, o reconhecimento da Gazeta pelo seu papel de cuidarem dos outros, especialmente dos filhos, esquecendo muitas vezes de si.

Mães que cuidam

Frances Leia Arielo
Com 56 anos, dois filhos e divorciada, Frances trabalha como instrumentadora cirúrgica. O filho Ulisses é enfermeiro e a filha Dandara estuda enfermagem. Ela mora com eles e a mãe, Aparecida Arielo de 90 anos. Ela e o filho estão fora de casa para evitarem riscos à matriarca da família. Uma das suas dores é não poder dizer ao filho para ficar em casa. “É difícil para mim mim que tenho meu filho trabalhando. Não posso falar pra ele: fica bem casa. Eu só digo: se cuida. Eu sei que ele precisa estar no hospital para trabalhar. Tudo isso vai passar e estaremos todos juntos novamente”, anseia.

O presente que ela deseja é que “todas as mães orem, tenham fé e que Deus nos proteja”.

Marlla de Sousa Santos
Enfermeira em Palmas desde 2008, com dois filhos e divorciada há mais de dez anos, Marlla sempre conciliou trabalho e maternidade. Ela já se dividiu entre plantões na rede pública e privada de saúde. Hoje, é concursada e possui dois cargos na rede pública.

Nesta dupla jornada ela lembra que “não é fácil trabalhar na área da saúde e ter que deixar os filhos em casa. Seja com babá, pais, avós. Os meus cresceram. A gente perde muita coisa boa pois nossa profissão exige uma doação”.

O medo de Marlla sempre foi se ausentar e os filhos precisarem. Ela quer que eles vejam nos olhos dela a sensibilidade e tenham o necessário. E sim, sua escolha de cuidar veio “por vocação e propósito de vida. A enfermagem para mim é algo que vai além de ser humano. É uma forma que posso usar minha vocação para impactar positivamente na vida das pessoas que passam no meu caminho. Seja no cuidar ou na convivência. Seja na atuação profissional técnica ou humana”.

O presente que Marlla deseja é que “nesse momento de isolamento social, todas as mães tocantinenses sintam-se amadas e sejam mimadas pelos seus filhos, nem que seja por telefone, rede social e o melhor: ao lado dos seus. E que esse momento seja aproveitado de forma harmoniosa. É uma data em que ficamos sensíveis, afetuosas e emotivas”.

Ela aproveita a entrevista para dizer:

Dona Maria Felix, você é a minha identidade, inspiração como mulher, guerreira e mãe eu te amo”.

Gilcilene Lopes Bezerra Costa

Os filhos de Gilcilene têm 7 e 5 anos. Tocantinense, ela tem ao lado do esposo cuidado dos filhos, dos afazeres doméstico e sua jornada no hospital. É essa união que ela destaca como porto seguro. “Amamos cuidar dos nossos filhos e estar em família”.

Gilcilene é uma líder da saúda. Seu trabalho é na parte de gestão e precisa muitas vezes, levar demandas para casa. E ela busca sempre equilibrar e aproveitar o tempo com os filhos. “Escolhi trabalhar na saúde por minha família. Meu avô paterno tinha farmácia e desde pequena cresci vendo ele cuidar dos doentes. Quando eles voltavam na farmácia relatando que tinham ficado bem, eu me sentia feliz em ouvir os agradecimentos dos clientes do meu avô. Eu tive contato criança com estetoscópio e ficava encantada como aquele brinquedo que dava para ouvir o nosso próprio coração. Daí nasceu minha paixão de cuidar do próximo

Sua emoção é ver “um paciente indo para casa curado. Para ela, seu presente “seria dar as mães o carinho de seus filhos e familiares nesse momento que estamos vivendo. Eu estou longe da minha mãe e sinto tanta falta de dar um abraço um beijo e dizer o quanto a amo. Que todas as mamães que estão longe de seus filhos e famílias possam ter um ótimo dia das mães”.

Marinalva Soares e Silva

Aos 41 anos, com três filhos e casada, Marinalva é uma das profissionais de saúde que atua em regime de plantões. Ela atua com crianças e sua rotina tem sido de aprender na prática como combater o vírus e isso a deixa orgulhosa.
Para ela, o melhor presente é que todas as mães do Brasil, especialmente as tocantinenses, “possam ter muita saúde e força para enfrentar esses tempos difíceis pelo qual estamos passando”.

Karla Aires Parente

A fisioterapeuta Karla Parente concilia o cuidado das duas filhas, uma de 13 e outra de 8, com a sua rotina de trabalho. E para isso, busca desvincular os focos.

Se eu estou no trabalho, meu foco é atender com qualidade e responsabilidade os pacientes. Quando estou com minha família, daí foco inteiramente nas minhas filhas para compensar tanto para mim quanto para elas, o tempo que ficamos longe”.

Sua dedicação pela saúde teve como inspiração a mãe, que era técnica de Enfermagem e foi gestora da área. Seu maior medo é contrair o novo coronavírus e ter que ficar longe das filhas.

Como presente, Karla deseja que todas as mães tenham tudo para seus filhos.

Quero que não falte nada para os seus filhos, principalmente comida e que nesse dia das mães, as que são mães solteiras, divorciadas, que sofrem preconceitos, que deixam de fazer por elas para fazerem pelos seus filhos, que essas mães se sintam fortalecidas pelo Espírito Santo e que Nossa Senhora as proteja de todo o mal”.

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