Nesta segunda-feira, 11 de setembro, comemora-se o Dia Nacional do Cerrado. Savana com a maior biodiversidade do planeta, considerado berço das águas do país, o bioma é também um dos mais ameaçados. Oito das 12 principais bacias hidrográficas do Brasil nascem no Cerrado, como as nascentes dos rios São Francisco e Paraná. Pressionado pelo desmatamento crescente e uso excessivo da água, especialmente pela agricultura intensiva, o bioma possui cerca de 12 mil espécies de plantas e mais de 2,5 espécies de animais catalogados, entre aves, mamíferos, peixes, répteis, anfíbios e invertebrados.
Especialistas alertam que a degradação do Cerrado pode colocar em risco o abastecimento de água, a geração de energia e a produção de alimentos do Brasil, com grandes impactos socioeconômicos. De acordo com estudo realizado pelo geógrafo Yuri Salmona, da Universidade de Brasília (UnB), os rios do Cerrado já perderam 15,4% de sua vazão de água por causa do desmatamento e das mudanças climáticas entre 1985 e 2022.
Entre agosto de 2022 e julho deste ano, a área de vegetação perdida no Cerrado atingiu 6.359 quilômetros quadrados, o pior índice da série histórica iniciada entre 2017 e 2018, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A maior parte do desmatamento está concentrada na região conhecida como Matopiba, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, estados com forte expansão do agronegócio.
“A perda da vegetação já interfere – e muito – na disponibilidade hídrica em todo o território. Isso deve causar problemas de abastecimento de água para as cidades, para a geração de energia elétrica e, também, para a produção agrícola. Portanto, os próprios produtores rurais devem ser os maiores interessados na conservação”, alerta Reuber Brandão, membro da RECN – Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e professor de manejo de fauna e de áreas silvestres da Universidade de Brasília.
O Cerrado originalmente estava presente nas áreas do Distrito Federal e nos Estados de Goiás, Tocantins, além da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia, São Paulo, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima e Paraná.
Importância das Unidades de Conservação
Ciente da importância de manter áreas naturais e suas espécies em equilíbrio como meio mais efetivo para conservar a biodiversidade, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza empreende esforços para a conservação do Cerrado. Atualmente, a instituição mantém a Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante (GO), no coração do Cerrado, uma área com 8.730 hectares, equivalente a quase 9 mil campos de futebol. A reserva está localizada em uma região de prioridade extremamente alta para a conservação da biodiversidade, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.
Criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário desde 2007, a reserva fica em uma das áreas mais conservadas do Cerrado brasileiro, com objetivo de promover a conservação da biodiversidade e pesquisas científicas. Além disso, a RPPN protege nascentes e fluxos d’água que formam o Rio São Felix, importante afluente do Rio Tocantins.
A Reserva possui 437 espécies de plantas e 531 espécies de animais (49 mamíferos, 357 aves, 49 anfíbios e 76 répteis), sendo várias consideradas espécies emblemáticas do Cerrado que estão ameaçadas de extinção, como a onça pintada, o tatu-canastra, o lobo-guará e o pato-mergulhão.
Além disso, a área contribui para a mitigação das mudanças climáticas, já que a vegetação auxilia na remoção de carbono da atmosfera. Estimativas indicam que a reserva tem capacidade de estocar aproximadamente 212 mil toneladas de carbono.
De acordo com estudo de valoração publicado em 2015, considerando a capacidade produtiva da propriedade, o uso agropecuário geraria receitas estimadas em R$ 510 mil/ano em valores da época, montante significativamente menor do que os valores alcançados pelos benefícios gerados por meio da conservação da área, de aproximadamente R$ 1,3 milhão por ano. Os benefícios consideram principalmente a erosão evitada do solo, além da redução de emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD), e o impacto das contratações e aquisições locais.
Atualmente, os temas prioritários de pesquisa científica na reserva são: ecologia e manejo do fogo (natural e de origem humana); controle e erradicação de espécies invasoras; estabilidade dos solos e combate a processos erosivos.