Maju Cotrim – Editora Chefe
Um cenário político conturbado com operações e investigações e agora até com o primeiro pedido de impeachment aberto no Legislativo toma todas as atenções de um Estado novo e com parte de sua população em situação de pobreza.
Cheguei no Jalapão para uma das etapas do meu livro Guerreiras Populares Quilombolas em junho deste ano. Lá eram três dias visitando os quilombos. No segundo dia numa estrada difícil e em alguns pontos até sem acesso fomos á Boa Esperança. Eu nunca tinha ido. Foi um dos acessos mais difíceis que pegamos em toda expedição.
Chegando lá encontramos Dona Maria sentada na porta ao lado de seus dois netos na sua casa de Adobe. Desconfiada ela nos recebeu, falei do livro e ela topou dar a entrevista. Ela disse que quase nunca vão por lá. Enquanto os equipamentos eram montados fui conversar com ela que me contava que para ir ao médico tinha que atravessar de moto para São Félix (e pagar por isso) porque não conseguia ir sempre a Mateiros porque era longe e não tinha transporte… ela que trabalhou na roça desde menina lutava para tentar a aposentadoria… disse que até queria oferecer um almoço para nossa equipe mas que não podia porque estava esperando a cesta básica…. Não esqueço como me senti neste momento…
Logo á frente mulheres lavavam suas roupas num córrego que ficava no meio da estrada. Recebi uma cartinha de um menino dali que me pediu se eu podia dar um caderno do super-homem para ele. De novo minha boca secou. Estes foram apenas alguns episódios de um Tocantins que encontrei pelos rincões que não estão na internet nem muito menos por dentro de questões políticas. De um Tocantins que não pode ser tratado como invisível ou só na base de cestas básicas. Naturalizar assim situações de vida assim ou piores é tudo que um Estado com grandeza de espírito popular não pode fazer.
Assistindo ontem a abertura do impeachment na assembleia legislativa lembrei de Dona Maria e pensei se naquele dia ela estava tendo o que comer. Será que a cesta básica tinha chegado? Será que o menino estava estudando? Será o que 30% da população tocantinense que vive na pobreza estava fazendo naquele momento? Qual o tipo de esperança alimentavam da vida ou se ainda tinham alguma?
O processo político no Tocantins não deve ser só sobre disputa pelo poder ou revezamento de grupos ou quem fica e quem sai… ou quem termina o mandato ou nao… deveria ser sobre acima de tudo benefícios para as pessoas. Para todos que esperam políticas públicas nos lugares onde nem internet chega…
O cenário político no Tocantins mostra que há um caminho longo ainda a se percorrer para que o Estado melhore permanentemente em todas as áreas e isto depende sim das gestões e ações de governos e posturas deles. Sem personalizar mas com o Estado de fato em primeiro lugar.
Momentos como esse que o Tocantins lembram que a justiça social ainda é um desafio. Que as investigações ocorram e que quem for culpado das acusações de corrupção seja julgado e condenado… que quem tem papel e obrigação antes de tudo institucional de tocar este processo conduza com lisura, transparência e espírito público antes de qualquer interesse.
Quem sabe um dia no Tocantins o centro das atenções sejam o resgate da população que carece do poder público e todos os mais de um milhão de habitantes que acreditam, amam e constroem este Estado todo dia.
Sobre a pobreza no TO
cerca de 5,8% da população tocantinense vivia em extrema pobreza em 2020, ou seja, com menos de R$ 155 reais por mês. Ainda de acordo com os dados, 30,2% dos tocantinenses vivia em situação de pobreza, com menos de R$ 450 por mês, no ano passado.
De acordo com a pesquisa, o rendimento médio domiciliar per capita de 2020 no Tocantins foi de R$1.019.