Ícone do site Gazeta do Cerrado

EDITORIAL: O Operário da conciliação: Como Eduardo Gomes chegou á influência nacional no núcleo dos poderes em Brasília

 

Maju Cotrim- Jornalista e Editora-Chefe da Gazeta do Cerrado

Não foi de repente como acordar, vestir o melhor terno e chegar lá no Congresso ou no Palácio do Planalto e pronto. A trajetória de construção da liderança nacional do senador tocantinense Eduardo Gomes teve um ponto de partida e um contexto além dos espaços ocupados. Eu poderia dizer que foi lá em 1986 como secretário de Educação do município de Xambioá ou em 1996 quando assumiu como vereador em Palmas mas não é sobre datas e sim sobre comportamento.

Gomes veio da base da pirâmide da política: da Câmara de Palmas onde aprendeu a lidar com os interesses diretos de uma cidade e não subestimar graus diferentes de liderança. De lá chegou sem passar pela Assembleia para a Câmara Federal: um salto significante seguido por três mandatos de deputado federal. 12 anos em meio a outros 512 convivendo estrategicamente. Muitos passam despercebidos, outros constroem relações. 

Assim como Jair Bolsonaro não virou presidente apenas numa ocasião de eleição, Gomes não tornou seu líder por falta de opção ou coisa do tipo. Foi escalado pelo consenso na cúpula do governo diante das resistências no Congresso. Foi a coroação de uma construção política nacional madura, de um trabalho formiguinha.

Desde que chegou em Brasília no primeiro mandato Gomes nunca selecionou quem era mais ou menos. Quem merecia ou não um bom dia, qual partido A ou B ele deveria estar perto, mesmo tendo é claro suas ideologias e não abrindo mão delas. Brincava com todos com seu humor que lhe é peculiar, quando via um princípio de conflito já atuava para conciliar.

Veio de lá, por exemplo, a relação com Bolsonaro e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre de quem há anos é amigo pessoal. Ainda em contextos políticos diferentes e sem imaginar que Alcolumbre seria presidente do Senado e Bolsonaro da República foi que Eduardo Gomes semeou seu status atual de operário da conciliação.

Uma trajetória política não é feita apenas de vitórias e quando por pouco não venceu as eleições ao Senado em 2014 manteve as relações mesmo sem mandato ou ocupar outro cargo. Aquele momento em que a pessoa mostra como se comporta fora diretamente do ciclo de poder político…

Á nível estadual as posições sempre foram claras sem negar o ninho político. Na suplementar de 2018 apoiou Vicentinho na primeira eleição e depois compôs com Carlesse visando um projeto de Estado.

Foi tudo muito rápido. De volta a Brasília, saiu do SD (partido que ajudou a fundar e onde ainda permanece bem quisto) e foi para o MDB numa costura nacional e mesmo sendo o maior líder da legenda no Estado entrou com o discurso de que pediu a vaga de militante e filiado. Assumiu e logo no primeiro ano fez uma referência á história do Tocantins dando posse a Siqueira Campos criador do Estado. 

Até mesmo a oposição respeita o trabalho político de Eduardo Gomes na missão atual de liderar os pleitos do governo no Congresso. Haja polêmica neste governo com desafios de gente grande num momento delicado para o país!

Eduardo Gomes é um ser político que segue o mesmo molde de como lida com suas relações como pessoa por isso chegou sem paraquedismo no centro de decisões do poder político brasileiro. E é um tocantinense, que por onde entra por lá não deixa escondida a bandeira do Tocantins. Num momento de tantos extremismos no país precisa-se mesmo de bombeiros e conciliadores á lá Eduardo Gomes.

Se política vem de berço, o senador incorpora na prática os ensinamentos de seu pai, o saudoso Zé Gomes que sempre viu a cultura com humanidade e escreveu sobre a importância de valores, acrescenta ainda o exemplo de convivência que teve com João Ribeiro e mantém as relações não com base em indicações e interesses políticos sazonais de eleição mas sim na história que tem com cada ente político.

Todos sabem que poder não se sustenta com arrogância ou prepotência. Muitos chegam mas não mantém, se perdem nos corredores de Brasília.

Quem não lembra um dia antes do retorno do Congresso deste ano quando o senador deu entrevista á Gazeta dizendo que um líder nunca deve cobiçar cargo no governo, isso em meio às especulações nacionais de que ele iria para a Casa Civil. 

O político Eduardo Gomes não manda recado e não foge ás polêmicas: busca ser pragmático apelando para os interesses de Estado ou do país. Foi assim que trouxe para o Tocantins a Codevasf e o Calha Norte que reativam o protagonismo dos municípios. 

Ao invés de indicações na prefeitura de Palmas, mandou recursos. Ajudou Araguaína, onde é sempre bem votado, também com o maior volume de recursos. Não discrimina prefeitos, está com o governador Carlesse onde precisar em Brasília em busca dos interesses para o Tocantins e no meio da rota de colisão entre alguns prefeitos e o governo é sempre a voz da conciliação. 

Cada declaração na hora certa, a coerência de respeitar as relações republicanas e acima de tudo fazer política com humildade, algo raro em tempos de egos tão inflados e redes sociais tão famintas por seguidores (aliás ele nem é fã das redes). 

Quando assumiu a liderança de Bolsonaro houve quem duvidasse que ele conseguiria conviver com o gênio considerado difícil do presidente mas lá está ele mediando a conciliação entre os poderes! Esta semana novos capítulos devem vir num diálogo intermediado pelo líder. Sempre há de haver um canal de conciliação em meio a tanto extremismo. 

Como disse Avelino em entrevista á Gazeta do Cerrado no Papo de Domingo passado, Eduardo Gomes detém todas as credenciais para ocupar a lacuna do líder político maior que o Tocantins precisa desde a morte do Senador João Ribeiro. As eleições de 2020 nas principais cidades do Estado vão passar por ele e… presidência do Senado e governo do Estado em 2022 são cotações naturais que com certeza se vierem a ocorrer, seguindo o rito normal da trajetória política do senador, não serão por imposição e sim por aclamação.

Quando decidir em quais lados estará nas eleições deste ano ainda assim fará as escolhas sem semear inimigos.

A arte da política tem cada vez mais sido pelo que as pessoas demonstram com suas atitudes e gestos semânticos do que pelo que falam em redes sociais! A nova política tão falada requer mais que discursos ou poder pelo poder. O verdadeiro líder convence pela forma como vive e não só pelo que fala.

Sair da versão mobile