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Embrapa busca formas de produzir em solo pedregoso do Cerrado do Tocantins

Mais de R$ 105 milhões foram aplicados em autuação por conta de desmatamento do Cerrado (Reprodução)

As novas fronteiras do agronegócio brasileiro impressionam até mesmo quem está acostumado às intempéries do campo. No início do mês, Edgar Rocha Vilela, produtor de soja, milho e cana-de-açúcar em 8 mil hectares em Mineiros (GO), olhava espantado para os discos de ferro de uma semeadora que, em vez de terra, arava pedregulhos numa fazenda em Lagoa da Confusão (TO). “Nunca vi coisa parecida”, dizia ele, notando o desgaste dos pneus, as esteiras amassadas e os discos de ferro que duram uma só colheita. “A gente está acostumado a resolver muitos problemas que aparecem no dia a dia, mas aqui eles são de outro patamar.”

O cerrado era uma área imprópria para o agronegócio, até os anos 80. Considerada terra de pouco valor, a extensa região do Centro-Oeste brasileiro tem solo ácido e arenoso. Poucos cultivos eram adaptados ao calor extremo, com meses seguidos de muita chuva, outros sem nenhuma gota de água e quase nenhuma diferença de luminosidade durante o decorrer do ano, o que atrapalha no amadurecimento das culturas.

Anos de pesquisa e investimentos fizeram da região um gigantesco celeiro e tornaram o Brasil um dos líderes globais na produção de soja, milho e algodão, entre outras culturas. “Só que o filé mignon acabou”, diz Rodrigo de Almeida, pesquisador da Embrapa-TO. “As áreas mais altas e planas foram exploradas, bem como as de maior altitude no oeste da Bahia, Maranhão e Piauí. Agora, é hora de cuidar da carne de pescoço.”

Na prática, significa buscar soluções para o cerrado de baixa altitude, área que abrange metade do território do Tocantins, bem como vastas extensões de Mato Grosso, Amapá, Amazonas e Pará e que são submetidas a condições extremas de temperatura e chuvas.

Num primeiro momento, os produtores têm testado alternativas para lidar com o solo formado por petroplintitas, pedregulho surgido por conta das fortes temperaturas e chuvas. “O fato é que não há nenhum estudo ou bibliografia que ajude na exploração desse solo tropical de baixa altitude”, afirma Almeida. Assim, a Embrapa, num trabalho liderado por Almeida, começou nessa safra uma ampla pesquisa para tornar essas áreas mais produtivas. É um trabalho que envolve desde descobertas básicas sobre quais são os melhores métodos para tornar o solo mais fértil, por exemplo.

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Na fazenda onde está sendo feita a pesquisa, por exemplo, o solo tem 80% de petroplintitas. A produtividade, que já foi de 22 sacas de 60 quilos por hectare, está em 35 sacas por hectare, após cinco anos. Para zerar o custo de produção é preciso produzir 45 sacas por hectare e a média nacional é de 60 sacas por hectare.

“Aí há outro caminho no qual intuímos ser necessário o manejo sustentável, com a cobertura do solo por algum tipo de forração que mantenha as temperaturas mais amenas e a umidade”, afirma. “Mas precisamos descobrir qual o melhor tipo de forração e o ganho que a integração de agricultura, pecuária e floresta trará. Os sistemas de produção sustentáveis são benéficos para todos os solos tropicais, mas para esses mais difíceis, eles são fundamentais.”.

Ambientalistas do Ministério Público de olho no Matopiba, alerta o blog Ambiente Inteiro

A expansão das atividades agropecuárias e os reflexos sobre o meio ambiente na região do Matopiba – que compreende o bioma Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – será tema de audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal (MPF) no dia 29 de novembro, na cidade de Corrente (PI). O objetivo do encontro é discutir o Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba, previsto no Decreto nº 8.441/2015, com ênfase em seus reflexos ambiental e social.
O evento é promovido pelo Grupo de Trabalho Cerrado, da Câmara de Meio Ambiente e Comunidades Tradicionais do MPF (4CCR). Foram convidados representantes de órgãos federais, estaduais e municipais envolvidos na questão, membros de conselhos de meio ambiente, especialistas no tema, comunidades tradicionais, representantes dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, imprensa, Comitê Gestor do Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matobiba e sociedade civil. As Procuradorias da República e Promotorias de Justiça nos estados do Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia também foram convidadas a participar da audiência pública.

Considerada a mais recente fronteira agrícola do país, a região apresenta alta produtividade de grãos, especialmente soja. A expansão das áreas plantadas, no entanto, agrava o quadro de concentração fundiária e violência no campo, com acirramento de conflitos envolvendo territórios tradicionais e disputas por água. Nos últimos quatro anos, somente no estado do Tocantins, a área plantada expandiu-se ao ritmo de 25% ao ano, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A audiência pública começa às 9h e é aberta a toda a comunidade. Quem quiser se manifestar por escrito pode apresentar o documento até cinco dias antes do encontro, diretamente na sede da Procuradoria da República em Corrente, ou encaminhar pelo e-mail prpi-prmcorrente@mpf.mp.br.

Serviço — 
Audiência Pública: A Sustentabilidade do Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba em questão
Data: 29/11, das 9h às 17h
Local: Auditório do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Piauí (IF/PI)
Endereço: Rua Projetada 06, nº 380, Nova Corrente, Corrente/PI.

Caso Igarashi: Investigações acontecem em meio à discussões sobre uso e cobrança da água no Oeste da Bahia

As investigações sobre a invasão na Fazenda Igarashi em Correntina, na Bahia, continuam acontecendo, porém, ainda sem nenhuma conclusão. Segundo o advogado do grupo, Marco Aurélio Naste, em entrevista ao Notícias Agrícolas, o processo ainda está no início da fase de inquérito. “Essa é a lei e é mesmo um processo lento”, diz.

Ainda como explica Naste, há um reforço policial trabalhando no caso, para que as investigações ocorram com mais rapidez, de acordo com uma determinação da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

Na empresa, o momento ainda é de avaliação dos prejuízos, os quais, já se sabe, chegam à casa dos R$ 50 milhões. “Até mesmo equipamentos de terceirizados foram depredados, comprometidos”, explica o advogado. Dessa forma, as áreas irrigadas que já estavam semeadas terão, certamente, um potencial produtivo bem menor, já que a fazenda teve quase toda sua estrutura de irrigação destruída, sem possibilidade de recuperação ainda este ano e nem em 2018.

“A empresa não vai parar de trabalhar por causa disso, mas vai atuar nas suas áreas de sequeiro. E a colheita das áreas irrigadas deverá perder até 50% de sua produtividade, isso se o clima ajudar”, explica Naste.

Imagem mostra o antes e o depois da invasão na Fazenda Igarashi, em 2 de novembro

Em meio a essas investigações, discussões paralelas sobre o uso da água na região e na agricultura de uma forma geral continuam acontecendo e preocupando o setor. A ANA (Agência Nacional das Águas) trabalha em uma proposta que que visa corrigir os valores cobrados pelo uso da água de acordo com a inflação, ou seja, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Uma nota da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) de 1º de novembro, porém, informa que a instituição conseguiu retirar o assunto da pauta da última reunião da agência, ocorrida em 31 de outubro. Uma nova reunião, no entanto, acontece em dezembro e as lideranças do agronegócio brasileiro já se movimentam para tentar barrar a medida.

Como explica na nora o coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, essa é uma “metodologia é inviável e economicamente incompatível com a atividade rural”. O especialista explica que uma medida como essa poderia onorar o produtor rural em até 90% seu custo de produção.

A seguir, veja a íntegra da nota do último dia 1º:

” CNA trabalha para evitar a indexação da cobrança pelo uso da água

Brasília (1º/11/2017) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) conseguiu retirar da pauta da reunião do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), na terça (31), o item que trata da indexação de preços da cobrança pelo uso da água.

A decisão beneficia produtores irrigantes e usuários de água, além de possibilitar que o assunto seja mais bem debatido e tenha embasamento jurídico a CNA espera que a proposta seja alterada em beneficio dos usuários. O tema pode voltar à pauta na próxima reunião do Conselho, em dezembro.   

A proposta da Agência Nacional de Águas (ANA) é que os valores cobrados pelo uso da água sejam corrigidos pela inflação, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Caso haja a indexação, um produtor rural de Paracatu, em Minas Gerais, que paga atualmente R$ 4.710,00 por ano, vai passar a pagar R$ 7.938,00 pelo uso da água. 

Para o coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, essa metodologia é inviável e economicamente incompatível com a atividade rural. 

“A CNA trabalha para que a proposta seja rejeitada no Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Indexar o preço do uso da água ao IPCA pode onerar em até 90% o custo de produção da atividade agropecuária”, destaca Ananias. 

De acordo com o assessor técnico da CNA, Gustavo Goretti, a indexação é irregular e enfraquece o sistema de gerenciamento de recursos hídricos”. 

Já há uma cobrança prevista para o uso da água da bacia do rio Paranaíba para os irrigantes dos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal pelo volume utilizado neste ano.

Um aumento na indexação da água para o uso da água nesse caso poderia causar um impacto bastante severo na inflação, podendo aumentar – no caso da irrigação -, prejudicando não só produtores de grãos, mas também cadeias menores, como os hortifrutigranjeiros, por exemplo.

As tais discussões esbarram ainda em uma outra situação: nos rios cheios e transbordando na região de Correntina, na Bahia. As fotos abaixo são do último dia 14 de novembro e mostram o rio Arrojado na estrada que liga os municípios de Correntina e Jaborandi.

Por Carla Mendes

Fonte: Notícias Agrícolas

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