A partir de agora, mulheres motoristas da Uber poderão escolher levar somente mulheres.
A ferramenta foi batizada de “U-Elas” e por ora, funcionará como piloto nas cidades de Campinas (SP), Curitiba (PR) e Fortaleza (CE) a partir de novembro. Quando desejar, a motorista poderá ativar um botão em seu aplicativo que aceitará somente passageiras mulheres. O filtro poderá ser desativado a qualquer momento, com a motorista voltando a levar passageiros homens.
A iniciativa faz parte do programa “Mulheres na Direção”, anunciado pela empresa nesta quinta-feira 24. Apenas 6% dos 600.000 motoristas da Uber no Brasil são mulheres. Claudia Woods, diretora-executiva da Uber no Brasil, afirma que a iniciativa tem o objetivo de aumentar esse número e facilitar a autonomia e empreendedorismo das mulheres que desejam dirigir com a Uber.
A Uber fez uma pesquisa em parceria com o Banco Mundial e descobriu que, para 64% das mulheres ouvidas, segurança era um dos principais desafios para que elas começassem a dirigir como motoristas. A possibilidade de levar só mulheres deve funcionar como um incentivo para as motoristas usarem a plataforma em diferentes momentos do dia, incluindo em horários noturnos e diferentes regiões das cidades participantes.
Outra barreira citada por mais de 30% das mulheres foi o fato de não possuírem um carro para trabalhar. A empresa de locação de carros Localiza, parceira da Uber na locação de veículos para motoristas, vai oferecer condições diferenciadas para mulheres, como a locação sem exigência de cartão de crédito.
O programa funciona a princípio em cidades piloto, mas a Localiza vai oferecer também 10% de desconto para que mulheres motoristas da Uber aluguem carros nas demais cidades.
No programa Uber Pro, que já oferece vantagens como descontos e educação para os motoristas parceiros, as mulheres também terão descontos específicos. As motoristas terão descontos em academia, como a SmartFit, em programas de saúde e em faculdades da Kroton (incluindo para as famílias).
Uma pesquisa da Rede Mulher Empreendedora mostra que, nos negócios geridos por mulheres no Brasil, 50% fatura até 2.500 reais por mês (ante 38% dos homens). “São negócios de subsistência, de sobrevivência”, fiz Ana Fontes, fundadora e presidente da Rede. Ao decidir trabalhar de forma autônoma ou abrir o próprio negócio, as mulheres buscam sobretudo flexibilidade para ficar perto da família, muito mais do que homens empreendedores — as mulheres gastam 24% mais tempo em cuidados com a família do que os homens, segundo a Rede Mulher Empreendedora.
“A busca das mulheres por flexibilidade no trabalho é uma prova de como elas ainda são muito mais sobrecarregadas na rotina de casa”, diz Fontes. A Uber também se encaixa neste contexto de autonomia no trabalho e busca por flexibilidade.
Assim, por meio de parceria com a Rede Mulher Empreendedora e mais de dez organizações, a Uber também oferecerá um braço de educação, com cursos e conteúdo para as motoristas parceiras, como educação financeira e gestão do negócio, enviadas por WhatsApp e disponíveis no YouTube.
Nas três cidades piloto, uma outra iniciativa do programa será ainda a garantia de uma renda mínima entre 1.500 e 1.600 reais para as mulheres que começarem a dirigir, nas 100 primeiras viagens. Woods afirma que a segurança na renda é um fator importante para que as mulheres consigam honrar suas contas no início da trajetória com a Uber.
Um estudo da própria Uber nos EUA mostrou que motoristas mulheres ganham menos do que homens parceiros. Woods afirma que a variação tem a ver com horários de pico ou região — e que iniciativas como a melhoria da segurança podem ajudar neste cenário. “A educação será importante para que ela entenda como a plataforma funciona e dentro dela, possa maximizar a renda”, diz.
A Uber vem trabalhando no projeto há um ano, segundo Woods. Além das cidades iniciais, o programa começará a ser expandido para as demais cidades brasileiras em 2020. A empresa ainda não tem uma meta de quanto o número de mulheres poderá crescer com o novo programa. “Vai ser um grande laboratório para entendermos como as mulheres aderem à plataforma”, diz a executiva.
Pelo lado dos clientes, passageiras mulheres ainda não têm a opção de escolher viajar apenas com motoristas mulheres — uma função oferecida, por exemplo, pela concorrente Lady Driver.
Woods afirma que, com a baixa quantidade de motoristas mulheres, isso ainda não é possível, pois reduziria a velocidade do serviço, um vez que seria muito difícil encontrar uma motorista. A concorrente 99 chegou a lançar em 2016 a opção de escolher motoristas mulheres, mas desativou a função no ano passado.
“Esse [escolher somente motoristas mulheres] é o objetivo final”, diz Woods. “Mas, para isso, precisamos primeiro aumentar a quantidade de motoristas mulheres na nossa plataforma.”
Woods conta que veio ao evento de anúncio do “Elas na Direção” justamente com uma motorista mulher. “Ela nem imagina o que vim fazer aqui”, brinca.
Fonte: Exame