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ESPECIAL! Platô? E a curva? Grupo de especialistas detalha a interiorização da covid no TO

No último dia 17 de julho publicamos aqui, neste veículo, o artigo intitulado “Exclusivo Gazeta: especialistas mostram como Covid se espalhou no Tocantins”.

Nele, mostramos que a Covid-19 se esparramou pelo Tocantins através de dois eixos de contaminação, sendo um que definimos como vertical, realizado através do retorno de algumas pessoas de viagens aéreas ao exterior e a outros estados; e outro que definimos com horizontal, realizado através das seguintes dinâmicas: contágio familiar, contágio laboral, contágio comunitário e contágio rodoviário.

Neste último, revelamos a influência das principais rodovias que cortam o estado. (e articulam a sua economia) na contaminação pelo Coronavírus, principalmente a BR 153 (Transbrasiliana), que corta o Tocantins de norte a sul, a BR-230 (Transamazônica), que o corta na região do Bico do Papagaio, e a BR-010, especialmente no trecho que corta a região Sudeste (Dianópolis). Mas é importante destacar o papel das principais cidades do estado, que polarizam a sua economia, no processo de interiorização do vírus e da doença.

Desde 2017 o IBGE apresentou ao planejamento e aos planejadores das políticas públicas do país uma nova regionalização: das micro e mesorregiões geográficas, baseadas nas homogeneidades físico territoriais, histórico-culturais e socioeconômicas; para as regiões geográficas imediatas e intermediárias, baseadas na articulação dos municípios por dinâmicas econômicas com a polarização de uma cidade.

Na regionalização anterior, o Tocantins estava dividido em 8 microrregiões (Bico do Papagaio, Araguaína, Miracema, Jalapão, Porto Nacional, Gurupi, Rio Formoso e Dianópolis) e em 2 mesorregiões: a ocidental e a oriental, tendo como divisor o Rio Tocantins. Na nova regionalização, o estado foi dividido em 3 regiões intermediárias e 11 regiões imediatas, da seguinte forma:

Assim, a curva de contaminação no estado ficou da seguinte forma.

Gráfico

O nome de cada região geográfica intermediária corresponde aos 3 maiores e mais importantes municípios do estado, e os nomes das regiões geográficas imediatas correspondem aos municípios que polarizam economicamente nas pequenas regiões, servindo de abastecedores de produtos e serviços. Pois foi a partir desses mesmos municípios que a Covid-19 se interiorizou no estado, ou seja, saindo do eixo das rodovias BR-153 (Araguaína e Gurupi) e do eixo vertical / via aérea (Palmas), para os municípios polo das regiões imediatas: Araguatins (BR-230), Tocantinópolis, Porto Nacional (BR-010), Colinas, Guaraí, Paraíso do Tocantins (BR-153), Miracema do Tocantins e Dianópolis (essas duas, fora do contexto das 3 BRs).

Assim, foi com base na dinâmica ECONÔMICA que o Coronavírus se interiorizou pelo estado, contaminando mais ampla e rapidamente as regiões mais dinâmicas, e manifestando baixa infecção e mortes nas regiões menos dinâmicas. Queremos destacar aqui os municípios que concentraram, de março a julho, 100 ou mais casos de contaminação por Coronavírus. Ao todo, eles são 33, distribuídos em todas as 11 regiões imediatas a partir do município polo. Perceberemos que o mês de maio foi um divisor na curva da contaminação, sendo que a partir de meados desse mês os índices subiram exponencialmente.

Destacamos dessa realidade 9 municípios que acumularam, ao longo desse período, mais de 300 casos. São eles, pela ordem decrescente: Araguaína, Palmas, Porto
Nacional, Xambioá, Formoso do Araguaia, Paraíso do Tocantins, Tocantinópolis, Guaraí e Colinas do Tocantins. Cabe ressaltar que desses, apenas Formoso do Araguaia (região imediata de Gurupi) e Xambioá (região imediata de Araguaína) não são polo em suas respectivas regiões. Apesar de Porto Nacional ser hoje o terceiro município com o maior número de casos de Covid-19, foi Araguatins, com a sua respectiva região imediata, que mais acumulou casos, juntamente com as regiões líderes de Araguaína e Palmas.

Gráfico

 

Pelo gráfico se percebe qual é a tendência de evolução da Covid-19 nas três regiões imediatas onde a doença mais infectou pessoas. A constatação é de que tanto em Araguaína quanto em Araguatins a infecção entrou no platô, ou seja, a curva se estabilizou. Isso não significa que os números regredirão. Essa estabilização com números muito altos de contaminação diária é quase tão perigosa quanto o crescimento dos números. Isso porque a estabilização no alto acontece quando os leitos já estão praticamente todos ocupados, o que tende a provocar um colapso do sistema de saúde.

Como não se vislumbra medidas político-administrativas radicais de distanciamento social (o lockdown seria a melhor medida) em nenhum município, esse colapso é esperado para as próximas semanas.

Porém, pior do que ambas regiões encontra-se a de Palmas e, especialmente a capital do estado. Pela tendência da curva, Palmas só entrará no platô em meados de setembro. Contudo, como os números de contaminação se elevaram muito principalmente na capital ao longo dos meses de junho e julho, o sistema de saúde já se encontra beirando o limite, enquanto que os números de contaminação continuam crescendo. Isso é mais do que suficiente para evidenciar que as últimas medidas de flexibilização do distanciamento não foram acertadas.

O município de Palmas foi, nos primeiros meses de infecção pelo Coronavírus, um dos grandes exemplos do país em medidas político-administrativas acertadas de controle do vírus e da doença. Por isso, voltar aos padrões iniciais de controle seria um bom começa para contornar o colapso sanitário que se anuncia para o mês de agosto.

Sobre os autores

Adão Francisco de Oliveira é historiador, mestre em Sociologia, doutor em Geografia pelo IESA-UFG, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFT e ex-secretário de Educação do Tocantins.

Artur de Souza Moret é físico, mestre em Ensino de Ciências pela USP, doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unesp e professor do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Regional e Meio Ambiente da UNIR.

Élis Gardel da Costa Mesquita é matemático, mestre e doutor em Matemática pela UnB e professor da UFT – campus de Arraias.

 

Conteúdo Exclusivo Gazeta do Cerrado

 

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