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Está dormindo direito? Especialista fala como os distúrbios de sono podem contribuir para a pressão alta

Reprodução Google Imagens

Um a cada 4 brasileiros tem hipertensão arterial revelam os dados do Ministério da Saúde. Se não tratada, a enfermidade conhecida por pressão alta pode levar ao surgimento de doenças cardiovasculares e renais crônicas, acidente vascular cerebral (AVC) e mortes prematuras. Em 2020, 65.146 pessoas morreram em decorrência das doenças hipertensivas, 20% a mais do que em 2019, quando foram registrados 53.796 óbitos, de acordo com o Sistema de Informações de Mortalidade.
A hipertensão tem um grande impacto social e econômico, por estar associada à morbidade e mortalidade cardiovascular, em especial em pessoas a partir dos 50 anos, muitas em plena fase produtiva. Sua origem exata ainda é desconhecida. Sabe-se que, ao lado do sobrepeso/ obesidade, sedentarismo, estresse, tabagismo, consumo excessivo de álcool e sal, os distúrbios de sono contribuem para seu desenvolvimento.
“Existem vários estudos mostrando que a apneia obstrutiva do sono e a insônia são fatores de risco para a hipertensão”, alerta a médica Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono. Um estudo de revisão da Jackson State University, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas com apneia obstrutiva do sono apresentam risco aumentado de 1,86 vezes para desenvolver hipertensão do que indivíduos sem essa condição. A pesquisa foi realizada a partir da análise de 34 estudos realizados em 28 países, incluindo o Brasil, envolvendo 37.599 pessoas.
EPISONO, sigla derivada de Estudo Epidemiológico do Sono, apontou que 33% da população paulistana apresenta apneia obstrutiva do sono e 15% têm insônia crônica. O estudo revelou que os indivíduos com insônia têm 2 vezes mais risco de desenvolver hipertensão arterial do que os indivíduos sem esta condição. Desde 1986, o Instituto do Sono já realizou 4 edições do EPISONO.
Hipertensão e distúrbios de sono

Para entender a hipertensão é preciso conhecer um pouco sobre a circulação sanguínea. A pressão arterial é a força que o sangue exerce sobre as paredes das artérias. Essa força é medida em 2 movimentos do coração: a sístole e a diástole. A pressão sistólica é mensurada quando o coração se contrai para bombear o sangue pelas artérias. Já pressão diastólica é medida no momento que este órgão fica em estado de relaxamento. A hipertensão ocorre quando a pressão sistólica é igual ou maior que 140 mmHg (milímetros de mercúrio) e a pressão diastólica equivale ou supera a marca de 90 mmHg. Quanto maiores os níveis das pressões, mais são os riscos para a saúde.
Às vésperas do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, celebrado em 26 de abril, é muito importante lançar foco sobre a relação entre o sono e a pressão alta. Isto porque o sono tem um papel importante para o sistema cardiovascular. Durante o sono, há uma queda da pressão arterial e da frequência cardíaca em relação ao período de vigília. Por isso, dormir bem não só é importante para o bem estar no dia seguinte, mas para manter o equilíbrio cardiovascular.
Os distúrbios de sono interferem negativamente nos processos cardiovasculares. É o caso da apneia obstrutiva do sono, que se caracteriza por episódios recorrentes e intermitentes de obstrução das vias aéreas, que causam a cessação total ou parcial do fluxo de ar durante o sono. “A falta de oxigenação adequada, de maneira intermitente, no organismo pode ter impacto negativo sobre o sistema vascular, favorecendo o surgimento da hipertensão”, explica a médica. A apneia do sono não tratada também pode dificultar o controle adequado da pressão arterial no indivíduo hipertenso.
A insônia crônica é outro distúrbio de sono que contribui para o desenvolvimento da hipertensão. Quando uma pessoa passa muitas horas acordada, reduz o tempo para o relaxamento muscular e a recuperação do seu organismo. Um estudo da Universidade Normal de Ciência e Tecnologia de Jiangxi, na China, apontou que as pessoas com insônia são 1,21 vezes mais propensos a ter hipertensão do que os indivíduos sem essa condição. O risco é 1,14 mais elevado para os participantes com despertar precoce e 1,27 maior para quem tem dificuldade de manter o sono. Os pesquisadores avaliaram 14 estudos em que participaram 395.641 pessoas.
Recomendações

Para evitar a hipertensão, a médica Dalva Poyares recomenda a prática regular de exercícios físicos, a alimentação saudável, a manutenção do peso adequado, a redução do consumo de sal e ingestão de álcool. Também é preciso não fumar e eliminar o estresse. Porém, hoje sabe-se que a saúde do sono é igualmente fundamental.
Pessoas que têm insônia ou suspeitam apresentar apneia obstrutiva do sono devem procurar um profissional de saúde para o diagnóstico e o tratamento adequado. O ronco, o sono fragmentado, a sonolência excessiva diurna, o cansaço, prejuízos de memória e as oscilações de humor são os sintomas comuns em pessoas com apneia obstrutiva do sono.
Sobre o Instituto do Sono

O Instituto do Sono é um centro de referência mundial em pesquisa, diagnóstico e tratamento em distúrbios de sono. Fundado em 1992 pelo Professor Sergio Tufik, é formado atualmente por mais de 100 colaboradores, entre eles médicos de diversas especialidades, técnicos, psicólogos, biólogos, biomédicos, dentistas, assistentes sociais, enfermeiras, fisioterapeutas, educadores físicos e outros pesquisadores. Além do atendimento à população, conta com uma área de educação continuada que já capacitou mais de 4.000 médicos e outros profissionais de saúde.
O Instituto do Sono faz parte da AFIP (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa), uma instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, fundada por profissionais da área da saúde, professores universitários e pesquisadores há mais de 40 anos. Seu objetivo é fornecer suporte financeiro para atividades de docência, pesquisa científica e atendimento médico à população.

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