Ícone do site Gazeta do Cerrado

Estudo liga consumo de adoçante ao risco de derrame e infarto

Refrigerante — Foto – Blake Wisz/Unsplash

consumo de adoçantes artificiais é um fator em potencial para a ocorrência de doenças cardiovasculares, de acordo com um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Sorbonne publicado nesta terça-feira (6) na revista científica “BMJ”. As doenças cardiovasculares são aquelas que envolvem os vasos sanguíneos, podendo afetar o coração (tais como infarto e angina), os membros (trombose) e o cérebro (derrame).

Neste estudo observacional (veja metodologia abaixo) que envolveu mais de 100 mil pessoas na França, os pesquisadores concluíram que há uma “conexão direta” entre a ingestão de três tipos de adoçantes artificiais (aspartame, acessulfame de potássio e sucralose) e a incidência aumentada dessas doenças.

De acordo com a BMJ e os pesquisadores, a segurança no consumo de adoçantes é alvo de debates no meio científico e estudos seguem divididos sobre o papel desses substitutos do açúcar como causa de várias doenças. A maioria dos estudos preexistentes demonstraram efeitos adversos, e poucos resultados foram neutros ou sugeriram que há efeitos benéficos no consumo de adoçantes.

Nesta pesquisa, a metodologia não tinha como meta desvendar como os adoçantes causam as doenças, mas mostrar se eles estavam presentes na dieta dos grupos que mais sofreram doenças cardiovasculares.

Ao fim, os pesquisadores apresentam quais os tipos de adoçantes mais consumidos, de quais fontes (os dois principais modos de ingestão foram refrigerantes e adoçantes de mesa) e a incidência de doenças entre seus consumidores.

Os pesquisadores ressaltam que adoçantes não são uma alternativa mais saudável ou segura do que a ingestão de açúcar.

“Os resultados sugerem que os adoçantes artificiais podem representar um fator de risco alterável para a prevenção de doenças cardiovasculares. Os achados indicam que esses aditivos alimentares, consumidos diariamente por milhões de pessoas e presentes em milhares de alimentos e bebidas não devem ser considerados uma alternativa saudável e segura ao açúcar, em consonância com o posicionamento atual de diversos órgãos de saúde”, afirmam os pesquisadores.

 

Metodologia do estudo

O estudo se baseou em um relatório alimentar feito por 103.388 adultos, com uma média de 42 anos. Todos eram participantes do grupo de estudos NutriNetSanté, lançado em 2009 na França e que seguiu em execução até 2021.

Cada um dos selecionados indicou os alimentos e bebidas consumidos em todas as refeições realizadas durante três dias da semana (dois dias úteis e um dia do final de semana). Depois dos dois primeiros anos de acompanhamento, foi calculada a média alimentar de cada pessoa para obter dados sobre a dieta consumida.

Ao todo, durante o tempo restante do acompanhamento – realizado por mais nove anos – foram contabilizados 1.502 eventos cardiovasculares entre os voluntários.

“Nosso objetivo foi realizar um grande estudo prospectivo usando dados quantitativos para investigar as associações entre o consumo de adoçantes artificiais (mg/dia) de todas as fontes (bebidas, mas também adoçantes de mesa, produtos lácteos, etc), em geral e por tipo (aspartame, acessulfame de potássio e sucralose) e risco de doenças cardiovasculares (geral, coronariana e cerebrovascular)”, apontaram os pesquisadores.

Maior incidência em números

 

A pesquisa colocou em números a maior incidência de doenças entre os adeptos dos adoçantes artificiais: no grupo que consumiu adoçantes, o risco de doença cerebrovascular em taxas absolutas foi de 195 a cada 100 mil pessoas, enquanto o número caía para 150 por 100 mil entre os não consumidores.

A ingestão de aspartame foi associada ao aumento do risco de eventos cerebrovasculares (186 e 151 por 100 mil, respectivamente entre consumidores e não consumidores), enquanto a sucralose foi associada ao aumento do risco de doença coronariana (271 e 161 por 100 mil, respectivamente).

Outros aspectos de saúde foram rastreados, como: marcadores de saúde cardiovascular, peso, hipertensão, inflamação, disfunção vascular ou perturbação da microbiota intestinal em associação com o consumo de adoçantes artificiais ou bebidas adoçadas artificialmente.

Adoçantes e resistência insulínica

 

Outro estudo, do Weizmann Institute of Science, em Israel, revelou que os adoçantes artificiais não-nutritivos (sacarina, sucralose, aspartame ou stevia) alteram o funcionamento do organismo. Além de alterar microbiota intestinal, foi constatado que eles também reduzem a tolerância à glicose.

Adoçantes não nutritivos afetam a flora intestinal, causando alterações no metabolismo — Foto: Agência Senado

A pesquisa, publicada em agosto na revista científica Cell, foi liderada pelo departamento de imunologia do instituto e dividiu os 120 voluntários em seis grupos. Quatro receberam sachês dos adoçantes sacarina, sucralose, aspartame ou stevia, em quantidade inferior à ingestão diária aceitável; e os outros dois grupos não consumiram adoçantes.

Após duas semanas, todos os quatro adoçantes alteraram a composição e o funcionamento da microbiota e das pequenas moléculas que os micróbios intestinais secretam no sangue das pessoas, COMO X, Y, Z. Dois deles, sacarina e sucralose, diminuíram a tolerância à glicose, o que pode contribuir para doenças metabólicas. Os grupos que não consumiram adoçantes não tiveram nenhum tipo de alteração.

O que é resposta glicêmica

 

Para garantir que a mudança na microbiota é responsável pela alteração na tolerância a glicose, os pesquisadores transplantaram micróbios intestinais de mais de 40 participantes do estudo em camundongos que nunca consumiram adoçantes não nutritivos. Os animais mostraram padrões de tolerância à glicose que refletiam os dos doadores humanos.

A descoberta comprova o oposto do que se acreditava, uma vez que os adoçantes eram considerados inertes ao organismo. Os resultados demonstraram que os adoçantes afetam cada indivíduo de maneira personalizada, o que, de acordo com o líder da pesquisa, Eran Elinav, era esperado, já que a microbiota de cada indivíduo tem uma composição única.

Fonte – g1

Sair da versão mobile