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Estudo mostra perdas do Tocantins no varejo e serviços com pandemia e recuo de 41% na capital

Comércio fechado em Palmas - Foto - Luciana Pires

Entre os estados mais afetados pela pandemia do novo coronavírus, também há uma alarmante marca. Desde que o isolamento social passou a vigorar de forma intensa, a receita do comércio e do setor de serviços dos estados do Amazonas, São Paulo e Ceará desabou quase 50%.

Os dados são de um levantamento inédito mapeado pelo Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) e englobam o período de 24 de março – quando a quarentena alcançou todas capitais – a 27 de abril na comparação com os 30 dias imediatamente anteriores.

Os três estados estão entre os que enfrentam as maiores crises de saúde provocadas pela pandemia de coronavírus. No país, São Paulo lidera em número de casos e mortes, enquanto Amazonas e Ceará também lidam com alta taxas de transmissão da doença e já têm dificuldade em gerir o sistema hospitalar.

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O estudo do Cielo revela uma retração bastante intensa no varejo de todo o Brasil – no período analisado, foi de 39% no país. A intensidade da queda dos estados é bastante diferente. Em Tocantins, o recuou chegou a 17%. No Pará e no Mato Grosso, 20%.

“O estado de São Paulo e a capital foram os mais impactados pela doença, então predomina um maior volume de fechamento de lojas quando se compara com demais capitais do país”, afirma o presidente da Cielo, Paulo Caffarelli. “Se olharmos as estatísticas da Covid-19 nos estados, há uma correlação muito forte com esse estudo.” Na média do país, o faturamento do comércio e do setor de serviços caiu 39%, segundo o levantamento.

Impacto por estados — Foto: Economia G1

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O ICVA utiliza modelos matemáticos e estatísticos para calcular o desempenho do varejo e do setor de serviços e não leva em conta apenas a base de clientes da Cielo, uma empresa de meio de pagamentos. O índice também é utilizado para municiar órgãos públicos – como o Banco Central – sobre o ritmo da atividade econômica do país.

Recomendado pelas principais autoridades de saúde, o isolamento social se tornou necessário para evitar que o coronavírus se propague de forma ainda mais intensa entre a população. Com o distanciamento, as atividades consideradas não essenciais tiveram de ser interrompidas com o objetivo de reduzir o deslocamento da população.

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A quarentena também é considerada fundamental por organismos econômicos, como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em relatório divulgado em abril, o FMI relacionou a intensidade da crise econômica global com a efetividade das medidas de contenção do vírus no mundo e disse que os governos precisam dar suporte às empresas e aos trabalhadores.

O último balanço divulgado pelo Ministério da Economia aponta que as medidas de combate à crise no Brasil devem somar R$ 350 bilhões. Até agora, segundo o Tesouro Nacional, foram gastos R$ 60 bilhões.

Capitais

A análise detalhada dos dados do ICVA também indica que a queda de faturamento do comércio e serviços está sendo puxada pelas capitais. Em São Paulo, por exemplo, o recuo é de 59%, seguido por Goiânia (-56%) e Fortaleza (-53%).

Em Palmas, onde o comércio não essencial está fechado a queda foi de 41%, segundo o estudo.

“Nas capitais, até pelo fato de o volume de infecção ser maior, o isolamento ficou mais predominante. O estudo mostra isso de forma bastante clara”, afirma Caffarelli. “Tem uma predominância no Sudeste, onde houve mais fechamento de estabelecimentos nesse período, enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste foram as que menos fecharam.”

Impacto nas capitais — Foto: Economia G1

Em Manaus, 1 mês de portas fechadas

Em Manaus, onde há uma elevada transmissão do coronavírus, a empresária Adlinez Moreno, dona de uma loja multimarcas, teve de baixar as portas há um mês. Desde então, amarga uma queda de 80% no faturamento. Hoje, toda receita é obtida com entregas pelo serviço de delivery – enviando sacolas de produtos até a casa dos clientes.

Para dar conta de enfrentar a crise, Adlinez optou por suspender o contrato de trabalho de parte dos funcionários. “Mas continuamos dentro da empresa, no escritório, porque o microempresário não pode parar. Essa é a premissa do varejo: o dinamismo”, diz.

A empresa também cortou custos fixos, atualizou o sistema de tecnologia para garantir as vendas pelo e-commerce e buscou empréstimos com o objetivo de ter algum capital de giro nos próximos meses, quando a demanda deve seguir fraca por causa da crise.

“A sacola que vai para a casa do cliente representa de 20% a 30% da venda da empresa. Nós já fazíamos isso há 13 anos. E agora mantivemos, garantimos toda prevenção, inclusive no manuseio dessa sacola.”

Perda bilionária

Para a Confederação Nacional do Comércio (CNC), os estragos da crise já são bilionários. Um levantamento da entidade mostrou que as perdas no varejo somaram R$ 86 bilhões entre 15 de março e 18 de abril, o que também representa uma queda de 39% em relação ao que o setor vendia antes de a pandemia se agravar no país.

“O comércio varejista, a partir da segunda metade de março, passou a registrar uma movimentação, um volume financeiro, muito menor do que em janeiro e fevereiro”, afirma o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes.

A crise, segundo a entidade, é maior entre as empresas que comercializam bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos e comércio automotivo. São ramos que não conseguem trabalhar com delivery e, portanto, estão com receita próxima de zero.

“Por mais que o varejo tenha adotado estratégias de vendas online, usando comércio eletrônico e serviços de delivery, há uma restrição muito grande ainda de consumidores no Brasil todo. Esses segmentos acabam sentindo mais”, diz Bentes.

A CNC estima que o emprego encolha cerca de 6% no setor para cada 10% de quedas nas vendas.

“Há de se esperar uma queda no número de lojas em operação quando essa pandemia toda passar. Então, do ponto de vista do emprego no varejo, o impacto também vai ser bastante significativo”, afirma o economista-chefe da entidade.

Quadro é de difícil recuperação

Há poucas chances de o quadro de dificuldade do comércio melhorar tão cedo. Com a crise econômica, a confiança do consumidor brasileiro desabou, o que indica pouca disposição em realizar novas compras.

Divulgado nesta semana, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) mensurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) despencou 22 pontos, para 58,2 pontos, e atingiu o nível mais baixo da série histórica iniciada em 2005.

Na decomposição do índice, fica evidente como o cenário é de bastante incerteza. O Índice de Situação de Atual (ISA) caiu 10,5 pontos na passagem de março para abril, enquanto o Índice de Expectativas(IE) recuou 28,9 pontos. Ou seja, há um pessimismo grande com o futuro.

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“Neste momento, não existe uma sinalização de que os brasileiros vão voltar a consumir”, afirma a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da FGV e responsável pela pesquisa, Viviane Sedra. “Isso é muito ruim porque as empresas precisam que haja um aumento (na confiança do consumidor)”, diz.

O levantamento também apurou que a queda na confiança é generalizada e ocorre em todas as classes de renda. “Mesmo os consumidores de mais alta renda estão cautelosos. Por mais que eles tenham alguma reserva financeira, dada a incerteza econômica e política e, principalmente, na questão da saúde, se mostram receosos em relação a gastar”, afirma Viviane.

Segundo o levantamento da FGV, a confiança entre os brasileiros com faixa de renda de até R$ 2.100 caiu 23 pontos em abril. No outro extremo, a confiança entre quem ganha acima de R$ 9.600 recuou 21,4 pontos.

fonte: G1

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