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EXCLUSIVO GAZETA: Dias após agressões, jovem negro espancado por guardas fala em temer pela vida e racismo: “Parece que tinham ódio de mim”

Foto – – TV Anhanguera

Lucas Eurilio

No Brasil, as chances de uma pessoa negra ser assassinada é 2,6 maior do que as de uma pessoa branca. Isso é o que apontam os dados do Atlas da Violência de 2021 – o mais atual – publicado em 31/08/2021.

Vemos diariamente nos notíciarios, agressões – mortes cruéis – sofridas  pelos negros por conta apenas da cor da pele. Além da luta contra o racismo, a luta para sobreviver é a todo tempo para essa população.

A vida de um jovem negro e periférico foi colocada em risco nos últimos dias em Palmas. Vinícius Lucas Ferreira, de 26 anos, assistia a uma partida de futebol, numa conveniência de um posto de combustível, na região sul da Capital.

Enquanto ele se divertia com alguns amigos, uma abordagem desastrosa da Guarda Metropolitana de Palmas, acabou em pancadaria daqueles que mais deveriam manter a segurança dos cidadãos.

Com a repercussão negativa do vídeo nas redes sociais e em mídias até nacionais, o vendedor Vinícius Lucas tomou a decisão de entrar com uma ação no Ministério Público Estadual (MPTO) contra cinco agentes de segurança pública, que compõem a Guarda Metropolitana.

Foto – TV Anhanguera

A Prefeitura afastou todos o agentes envolvidos da agressão, mas disse em nota anteiormente que os acusados fizeram o “uso proporcional da força” porque foram recebidos com hostilidade. Eles foram acionados para atender uma ocorrência de perturbação do sossego.

Vinícius Lucas teve dois dentes quebrados, lesões no rosto, no olho, teve o pescoço pisado e além disso, uma foto da vítima escrito “vulgo Neguinho”, foi divulgada – e apagada posteriormente – nas redes sociais, como se ele fosse um criminoso.

Nesta quinta-feira, 24, a Gazeta do Cerrado entrevistou o rapaz e os advogados populares Cristian Ribas e Luz Arinda que cuidam do caso através do Movimento Estadual de Direiros Humanos (MEDH).

Na entrevista exclusiva à nossa equipe, o jovem disse que a vida está de cabeça pra baixo e tem medo e vergonha de sair na rua após o episódio. (Leia entrevistas abaixo).

Veja na íntegra

Gazeta do Cerrado – Como você se sente por ter passado por esse tipo de violência?

V. L – Eu me sinto muito humilhado, muito constrangido. Nunca esperei passar por isso, nunca me preparei pra isso, fui pego de surpresa, em uma situação que eu não sabia lidar. Saio na rua e todo mundo fica me olhando. Eu fico numa vergonha imensa e acabo voltando pra casa. Não desejo isso pra ninguém.

Gazeta do Cerrado – Quando você assistiu o vídeo no dia após a agressão, qual foi sua reação?

V. L – Eu não tive ração nenhuma, apenas chorava e ficava pensando o porquê daquela humilhação toda, o porquê daquelas agressões todas. Pisar no meu pescoço, ter chutado minha cabeça com tanta violência, Podia ter deixado sequelas. Parecia que eles estavam com ódio de mim.

Gazeta do Cerrado – Ficou com muito medo?

V. L –  Sim, aliás, hoje tenho muito medo. Medo de sair na rua, medo de ficar na minha casa, onde eu tinha que me sentir seguro. Tenho medo medo do que pode acontecer ainda comigo. Temo pela minha vida.

Gazeta do Cerrado – Acredita que as agressões foram fruto do racismo?

V. L – Eu creio que sim. Porque nada justifica o comportamento deles. Por eu ser negro, ter o cabelo encaracolado, influenciou muito pra eles.

Gazeta do Cerrado – O que muda de agora em diante na sua vida?

MInha vida tá de cabeça pra baixo. Não vu me sentir seguro. Acho que perdi a confiança com a Guarda Metropolitana. Eu tenho medo deles agora e nunca mais vou ser o mesmo. Espero passar por essa fase e espero que tudo volte ao normal.

Gazeta do Cerrado – Qual o conselho você daria aos jovens negros do Brasil, sobre tudo os de Palmas?

V. L – É que infelizmente em Palmas e no Brasil ainda existe essa doença, porque pra mim, isso é uma doença, que se chama racismo. Nunca deixem de ser vocês mesmos por conta do medo e juntos, vamos vencer essa doença, que nos ataca dia a dia. Nunca vamos desistir de ter nosso espaço na sociedade. Espero que o acontece comigo, sirva de lição e que meu caso, mude muita gente. Diga não ao racismo.

Ação no Ministério Público do Tocantins

Após a sequência de agressões, Vinícius Lucas registrou boletim de ocorrência e entrou com uma ação contra os agentes de segurança no Ministério Público do Tocantins.

Ele foi ouvido nesta quarta-feira, 23, pelo promotor de Justiça Felício de Lima Soares, que disse que a ação do guardas “foge totalmente de qualquer padrão operacional de qualquer polícia. É nítido que houve abuso ali, é nítido que houve excesso” , explicou.

Na entrevista Cristian Ribas e Luz Arinda explicaram como serão os procedimentos jurídicos a partir da representação no MPTO.

Leia na íntegra

Gazeta do Cerrado – Quais os procedimentos a partir de agora, depois que a representação foi feita no MPTO?

C.R e L . A – Iremos acompanhar os procedimentos junto ao MPTO e Inquérito Policial, assim como buscar reverberar as recomendações do MP junto ao Estado e à sociedade sobre a implantação de protocolo de uso progressivo da forca no estado e a utilização de câmeras nas fardas de agentes de segurança e viaturas, como estratégia de segurança para agentes e para a sociedade.

Gazeta do Cerrado – A vitima registrou boletim de ocorrência?

C.R e L . A – Sim, registrou na Policial Civil e fizemos uma representação junto ao MPE.

Gazeta do Cerrado – Quais serão as acusações que os agentes da Guarda Metropolitana podem responder?

C.R e L . A  – Só será possível afirmar ao certo após a finalização do Inquérito e apresentação da denúncia pelo MP, mas existe elementos que pontam agressão, abuso de autoridade, uso indevida de imagem e até prática de tortura.

Gazeta do Cerrado – A vítima deve pedir indenização?

C.R e L . A  – É possível que sim, após o fim das investigações. Violências dessa natureza geram impactos profundos na dimensão física, emocional e social, cabendo reparação.

Gazeta do Cerrado – Quanto tempo o caso pode demorar em média para ser julgando?

C.R e L . A – Depende do sistema de Justiça. Em média ações dessa natureza estão demorando mais de dois anos.

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