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Exclusivo: José Dirceu diz que livro é maneira de superar prisão, critica Moro em ministério e está confiante em soltura de Lula

Entrevista Especial Gazeta do Cerrado

Texto: Rogério Tortola

Edição: Maria José Cotrim

A Gazeta do Cerrado entrevistou, com exclusividade, o ex-ministro petista José Dirceu que lança nesta terça-feira, 03, em Palmas o livro “Zé Dirceu – Memórias Volume 1”.

A conversa começou com foco no livro, mas se estendeu por outros assuntos. Como estudioso, testemunha e protagonista de alguns momentos importantes da história política do Brasil, Zé Dirceu apresenta no livro e na entrevista algumas percepções e pontos de vista.

O livro

“Zé Dirceu – Memórias Volume 1” foi lançado em 2018, pela Geração Editorial e é um sucesso de vendas, figurando como um dos mais vendidos. São 554 páginas que começaram inicialmente como memórias, mas se confundem com a história do Brasil.

“Se trata menos da minha vida e mais dos últimos 60 anos da nossa história […] Eu escrevi como memória, para deixar para minha filha e para nova geração, mas na verdade eu falo sobre o Brasil, do nosso povo, da nossa cultura, nossa economia e também os mais importantes eventos políticos dos últimos 50 anos. Sempre procurando ligar isso ao que está acontecendo no mundo, para ajudar na reflexão e a identificar os erros”, disse o ex-ministro.

Ele ressaltou a paixão que tem pelo Brasil, que o livro tem proporcionado um encontro com as pessoas e proporcionado conhecer mais de perto a situação de cada lugar, “tenho interesse em conversar com empresários, acadêmicos, políticos, jovens. Quero conhecer a situação política, financeira e puder ajudar”.

O lançamento já passou por quase todas as capitais, segundo Zé Dirceu ele é sempre muito bem recebido. Entre os leitores, uma forte presença de jovens e de pessoas que participaram de certa deste processo histórico, do que ele chamou de luta.

Ainda segundo ele, este retorno o estimula a escrever o segundo volume.

A prisão

Ele esclarece o verdadeiro objetivo do livro. O objetivo foi, eu mesmo, fazer um acerto de contas com a minha vida. Já estou com 73 anos, e também é uma maneira de superar a prisão. Sábado e domingo era muito difícil. Durante a semana eu trabalhava, mas nos finais de semana não,” revelou Dirceu.

Ele revela como superou e enfrentou estes momentos.
“Prisão é uma coisa indescritível, você sofre muito, entra em depressão, tem medo, a ausência da família doí muito. A única maneira de superar é trabalhar, eu li mais de 100 livros, aproveitei para estudar câmbio, inflação, juros. Voltei a estudar a história do Brasil, revisitei os clássicos”.

Como intelectual Zé Dirceu diz que agora está lendo os críticos dos governos do PT, procurando ver o outro lado.

Escalada da extrema direita

Questionado sobre a escalada da extrema direita no mundo, não só no Brasil, Zé Dirceu acredita que é um momento de rever alguns conceitos.

“Ela é real, houve uma transformação muito grande, não só na economia, como na cultura. Há uma forte presença de um nacionalismo de direita, da xenofobia mais que nacionalismos, dado o preconceito muito grande contra imigrantes e contra os pobres, há uma necessidade de repensar as instituições, a democracia”.

E seguiu fazendo uma autoanálise. “Nós mesmos temos que repensar o nosso programa, porque as questões colocadas hoje são outras. Não é mais um mundo unipolar, nem multipolar, são de blocos. O Brasil estava caminhando para construir um bloco, deu uma marcha ré fantástica e haverá maior agora com governo Bolsonaro”.
Ponderou que por outro lado existe uma voz forte de resistência, citando os 47 milhões de votos do Haddad, que de acordo com ele é nome do PT hoje, depois do Lula.

Alerta a Bolsonaro

Ele fez um alerta ao futuro presidente. “O que está acontecendo com Macri (Argentina) e com Macron (França), é um aviso para o Jair Bolsonaro. Porque eles tinham mais popularidade que o Jair Bolsonaro, hoje tem 23% e 26% de aceitação e estão enfrentando grandes manifestações de amplos setores da sociedade, na França, inclusive é da classe média”. Destacou o ex-ministro.

Para ele o projeto de Bolsonaro interessa a elite, “ainda que tenha base popular, o projeto dele interessa as elites e é muito em cima da questão religiosa, da família. São temas que já deram origem ao golpe de 64”.

Ele ainda citou a corrupção, “essa coisa da corrupção apareceu com Getúlio, era o Jânio, era o Collor, o golpe era contra a corrupção primeiro. É uma luta politica, cultural, nós temos que nos preparar”, concluiu.

Para ele os problemas do PT eram de financiamento eleitoral, que já foram resolvidos de certa forma e não se pode por isso, negar o importante papel do partido na distribuição de renda no país.

Habeas Corpus do Lula

Sobre a votação do Habeas Corpus de Lula que acontece amanhã, está esperançoso. “O Lula já teve cinco votos pelo habeas corpus e agora é um novo pedido e uma nova base”. Zé Dirceu voltou a dizer que se trata de uma prisão política.

Sérgio Moro

Criticou a posição do Juiz Sérgio Moro de assumir um cargo de Ministro no futuro governo. “Acho que é uma confissão de que ele desempenhou um papel de perseguição na lava jato contra o Lula. Para bom entendedor meia palavra basta”, concluiu Dirceu.

Sinopse do livro

O livro será lançado nesta terça-feira, 04, às 19h no SEET – Sindicato dos Eletricitários do Tocantins, na quadra 103 norte, Rua NO 9 Nº 35, em Palmas.

Confira a sinopse:

Muitos escreveram sobre José Dirceu, com mais erros do que acertos. Com tempo, na prisão, ele mesmo escreveu a fascinante história de sua vida. Os bastidores inéditos de sua militância estudantil nos anos 1960, o exílio e o treinamento para ser guerrilheiro em Cuba, a cirurgia plástica que mudou seu rosto, a vida clandestina no Brasil nos anos 1970, a volta à legalidade com a anistia, em 1979, e sua ascensão no Partido dos Trabalhadores, onde se tornou presidente e maior responsável pela eleição de Lula à presidência da República.
Pela primeira vez ele revela segredos dos bastidores da luta política dentro do PT e do próprio governo, onde foi chefe da Casa Civil e provável sucessor de Lula, até ser abatido pelas denúncias do chamado “Mensalão”. No primeiro volume de suas “Memórias” – outro virá, com novas revelações – ele expõe o que jamais foi dito sobre sua vida e sobre os principais líderes da política brasileira nos últimos 50 anos. Um livro imprescindível para se entender como foi a luta contra a ditadura miliar, a redemocratização, a derrubada do presidente Fernando Collor, a oposição aos governos de Fernando Henrique Cardoso, a eleição de Lula e Dilma e o atual momento político do país.

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