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Indígenas preservam festa tradicional Hetohoky em aldeia no Tocantins

Homens percorrem a aldeia antes da festa principal - Foto - Cecita Silva e Tom Tramis/Divulgação

O Hetohoky (lê-se Retorrokã, que significa Casa Grande), é, basicamente, um rito de passagem, uma grande festa de batizado, que envolve garotos em torno de 12 anos e suas famílias. É uma das festividades mais importantes e bonitas dentre as realizadas pelos povos Karajá e Javaé. Neste ano, porém, a cerimônia realizada no último final de semana, dias 21 e 22 de março, na Aldeia Fontoura, não contou com a presença de convidados em função da propagação do novo Coronavírus.

A decisão de restringir a festa à comunidade Karajá envolveu lideranças indígenas, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Secretaria Especial de Saúde Indígena (SesaiI). No mesmo período foi publicada a Portaria nº 419, de 17 de março de 2020, suspendendo por 30 dias a entrada em terras indígenas devido à pandemia, como forma de evitar a disseminação do vírus nas aldeias do País, uma vez que essas populações se encontram no grupo de risco de contaminação.

Os Karajá nunca interrompem a festa quando ela já está em seu rito final. Toda condução é responsabilidade do Cacique Cultural, Isaque Waxiô  Karajá, enquanto o Cacique Administrativo, Clebe Ixydeo Karajá atua na na coordenação e articulação com órgãos e entidades parceiras. São vários meses de trabalho até a chegada dos convidados – neste ano, a Fontoura recebeu grupos das aldeias Santa Isabel, JK, Watau, Werebia, Werreria, Tytemy, Krehawa, Macaúba, Kaxiwe, Ibutuna, Hawalora e Itxalá. É preciso alimentar a todos e ainda construir as duas casas centrais da festa, uma menor, representando o Norte, para abrigar os Aruanãs (espíritos protetores), e a do Sul, para receber os cinco garotos (Jyré ou Diré), que passaram duas semanas ouvindo ensinamentos sobre caça, pesca, regras de convivência social e outras orientações de um preceptor.

Rituais

No primeiro dia da festa, os garotos que entraram na Casa Grande são adornados para receber os convidados. Grande parte dos homens da aldeia passam dias preparando suas pinturas corporais e seus adornos – saias, ahetôs (cocares), colares, brincos. A festa é aberta pelo Cacique Cultural e, na sequência, o que se vê é um espetáculo de cores, cânticos e danças realizadas pelos homens, que percorrem a aldeia e fazem evoluções em dois pátios, até a recepção dos convidados das outras aldeias, que chegam pelo rio Araguaia.

Os homens passam a noite acordados. Ocorrem lutas tradicionais e a disputa para ver qual grupo conseguirá derrubar a “grande tora”, penosamente fincada no meio do pátio, próximo à Casa Grande.

No domingo, ao amanhecer, as famílias dos Diré/Jiré se reúnem no pátio, para acompanhar mais brincadeiras e receber os Aruanãs, que percorrem o pátio até os meninos, entre cantos e danças. Em seguida, toda a família segue para a Casa Grande. É o único momento em que as mulheres podem entrar no local. É o fim da festa, mas não desta história de resistência cultural Karajá.

Povo Iny

Os Karajá fazem parte do povo Iny (lê-se Inã, que significa “nós”), que inclui também os Karajá-Xambioá e os Javaé. Essencialmente coletores e pescadores, após longo período de migração e guerras com outras etnias, principalmente com os Xavante, eles se fixaram na Ilha do Bananal.

Neste período do ano, em que boa parte da Ilha está submersa, o acesso ao lado ocupado pelos Karajá se dá pelo Mato Grosso, de onde se pegam voadeiras (pequenas embarcações movidas a motor), nas cidades de São Félix do Araguaia e Luciara. Mas para entrar nas aldeias é necessária autorização prévia da Funai e das lideranças de cada aldeia.

A confecção de objetos de cerâmica, a pintura corporal e as bonecas Ritxokò (tombadas como patrimônio cultural brasileiro) são tradicionais da cultura Karajá. Outros destaques são as festas e rituais, em especial o Hetohoky , o Aruanã, a Festa do Mel, a Homenagem aos Mortos – Itxeo, a Festa da Alegria – Maarasi.

O povo Iny mantém a tradição por meio de seus rituais e celebrações. Ensinam aos descendentes a importância e a necessidade da transmissão destes conhecimentos milenares. As festas têm caráter religioso e são realizadas durante a época de fartura alimentar, quando figuras míticas dos espíritos protetores (Aruanãs) cantam e dançam para os participantes.

Para o secretário de Indústria, Comércio e Serviços e presidente da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa, Tom Lyra, que acompanhou a festa da Ilha Fontoura no ano passado, o Hetohoky é exemplo da força cultural do povo Karajá e deve ser não apenas preservado pelo seu povo, como também revelado aos não índios, por meio do etnoturismo, uma proposta amplamente apoiada pelo governador Mauro Carlesse. “Neste ano, não foi possível participar do ritual, mas o essencial é a preservação da saúde dos nossos indígenas, para que eles possam receber visitantes em um futuro próximo”, revelou.

O adorno vermelho identifica os meninos que entraram na Casa Grande – Foto – Cecita Silva e Tom Tramis/Divulgação

Fonte: Secom Governo do TO

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