Criado em 1988, o mais jovem estado do país chama a atenção dos brasileiros por ter sido o último a registrar morte e por ter o menor número de casos confirmados de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
De acordo com o boletim divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, são 26 casos confirmados da doença no Tocantins. A Secretaria de Estado da Saúde já atualizou para 29 casos, sendo 19 deles na capital Palmas.
Para entender o que faz do Tocantins um estado com curva baixa de contaminação, segundo os dados oficiais divulgados pelo Ministério da Saúde, a reportagem do UOL conversou com o professor de doenças infecciosas da UFT (Universidade Federal do Tocantins), Flavio Augusto de Pádua Milagres, que integra os comitês de gestão de crise da UFT e do governo estadual.
Ele faz a ressalva de que há quase 1.700 casos suspeitos de coronavírus no estado e aponta uma deficiência para realizar os exames.
“Nós temos uma limitação muito grande de testagem. Até o dia de hoje foram 29 confirmações, dentro de uma realidade de quase 1.700 suspeitos no estado. Isso acaba gerando uma falsa impressão de tranquilidade, que na realidade não existe. Nós temos um maior número de casos, numa população mais jovem, consequentemente com menos a gravidade”, pondera Milagres.
O professor da UFT lista alguns fatores que considera importantes para o combate ao coronavírus no estado. “Sem dúvida nossa posição geográfica, a nossa baixa densidade populacional e o fato de termos uma população com predomínio de idade jovem são fatores que ajudam. Além disso, outro fator é que aderimos ao isolamento domiciliar muito precocemente, acompanhando o Distrito Federal. Ou seja, já no início, quando aqui ainda não havia casos confirmados, foram adotadas as medidas de isolamento”, comenta.
O Tocantins fica na região Norte. Entre as 27 unidades federativas do Brasil, tem a 24ª densidade populacional do país, com 4,9 moradores por km². Para se ter uma ideia, o Distrito Federal lidera esse ranking, com 444 moradores por km², seguido pelo Rio de Janeiro, como 365, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019.
Além disso, Palmas tem a menor população entre capitais do país (299 mil habitantes, segundo o IBGE em 2019). O estado também não recebe grande número de turistas, especialmente estrangeiros. Esse também foi um fator que contribuiu para evitar a chegada precoce do coronavírus.
Isolamento pode perder força
Ao mesmo tempo em que protegeu Tocantins de uma contaminação acentuada, o isolamento precoce se tornou um argumento contra as medidas de afastamento. Anteontem, o governo do estado revogou parte do decreto de calamidade pública e permitiu a retomada gradativa dos trabalhos de alguns setores econômicos, dando o direito às cidades de adotarem suas próprias regras. Foi permitida, por exemplo, a abertura do comércio.
A decisão, informou o governo, seguiu orientação do Ministério da Saúde de que “as unidades federativas que se mantinham em Distanciamento Social Ampliado (DAS), em que o número de casos não tenha impactado em mais de 50% da capacidade instalada existente antes da pandemia, devem iniciar a transição para o Distanciamento Social Seletivo (DSS).”
A medida não agradou a prefeitura de Palmas. No mesmo dia, a prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) anunciou que vai manter o decreto de isolamento social, sem permitir flexibilização. Ela também anunciou que a primeira morte confirmada por covid-19 ocorreu na terça-feira e vitimou a servidora Francisca Romana Sousa Chaves, 47.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, o estado vai ter uma oferta de 355 leitos clínicos e UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) para tratar pacientes diagnosticados com covid-19.
“Dos 18 hospitais públicos estaduais, localizados em 15 municípios, 14 unidades estão com a taxa de ocupação hospitalar abaixo de 50%. O HGP [Hospital Geral de Palmas], por exemplo, tem o menor número de ocupação da sua história. O número mostra que as unidades estão preparadas para receber e oferecer um tratamento de qualidade aos pacientes com a covid-19”, informou o governo, em nota.
Risco de aumento de casos
Segundo o professor Milagres, a medida do governo contrariou orientações técnicas. “Os serviços de saúde e as secretarias — tanto estadual, como municipais — mantêm as recomendações de isolamento. Isso é unânime”, afirma.
A única exceção admitida por ele é a flexibilização dos órgãos e atividades que sejam considerados essenciais, mantendo a indicação para que o restante dos serviços não esteja aberto.
“Nós conseguimos, sim, achatar a curva. A preocupação é se [a população] voltar [às ruas] de uma forma muito imediata, se houver um abandono das medidas de precaução”, explica o membro dos comitês de gestão de crise da UFT e do governo estadual.
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