Político está preso desde o dia 15 de dezembro e já teve outros seis habeas corpus negados. O ex-secretário e sobrinho de Carlesse, Claudinei Quaresemin, teria ajudado o tio com a emissão de passaporte italiano e identidade uruguaia, apontam investigações.
Um novo pedido de liberdade para o ex-governador Mauro Carlesse (Agir) foi negado. Dessa vez, a rejeição do habeas corpus é do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pela suspeita de que ele estaria planejando fugir do Brasil, mesmo sendo investigado por fraudes em licitações, desvios de dinheiro e outros crimes.
O político está preso desde o dia 15 de dezembro deste ano, quando seguia para uma fazenda de sua propriedade na zona rural de São Valério e perto de Peixe, no sul do Tocantins. O mandado de prisão preventiva expedido pela 3ª Vara Criminal de Palmas foi cumprido pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPTO).
O novo pedido de liberdade foi negado na tarde desta terça-feira (24), véspera de natal, às 13h50. Após ser localizado na fazenda, ele foi levado para a unidade penal de Gurupi e transferido para o Quartel do Comando Geral, em Palmas, onde vai continuar preso.
Mauro Carlesse saiu do IML de Gurupi e seguiu para a unidade penal — Foto: Antoniel Cavalcante/Ronda Policial Tocantins
Mais pedidos negados
Carlesse já teve outros seis pedidos de habeas corpus negados pela Justiça. O primeiro apresentado pela defesa foi negado pelo desembargador João Rigo Guimarães no dia seguinte à prisão.
Outros dois pedidos de liberdade foram negados pelo desembargador Eurípedes Lamounier durante a semana. Depois, o juiz Márcio Soares da Cunha também negou um pedido de liberdade após análise. E nesta semana, mais duas solicitações foram negadas, desta vez pela desembargadora estadual Angela Issa Haonat, do Plantão de 2ª Instância.
Na decisão, ela afirmou que a retenção do passaporte como medida cautelar à prisão não seria suficiente para evitar a possível fuga de Carlesse, já que Uruguai é um integrante do Mercosul, o que permite a entrada de brasileiros no país sem o passaporte ou visto.
Investigação
Segundo investigação do Gaeco, Carlesse estaria arquitetando o plano com ajuda do sobrinho Claudinei Quaresemin, ex-secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins.
Quaresemin teria providenciado documento de identidade e autorização para residência fixa no Uruguai para ele e o tio. Carlesse, que tem cidadania e passaporte italiano, chegou a declarar residência em Marsciano (Perugia), na Itália, onde fica o vilarejo de Pieve Caina, segundo citou o juiz que deferiu a prisão cumprida no dia 15 de dezembro.
Em abril deste ano, Claudinei Quaresemin teria encaminhado uma imagem ao ex-governador que mostra um documento de identidade uruguaio no nome de Mauro Carlesse. Já em junho deste ano, o sobrinho teria enviado mensagens sobre um pedido de residência permanente Mercosul, que foi aceito.
Identidade uruguaia e passaporte italiano de Carlesse fundamentaram pedido de prisão — Foto: Reprodução
Conversas sobre plano
Conversas em aplicativo de mensagens do ex-governador do Tocantins, Mauro Carlesse (Agir), teriam indicado ao Ministério Público seu possível plano de fuga para o exterior. As mensagens são dos anos de 2023 e 2024.
Acesso exclusivo aos documentos mostram trechos de conversas de Mauro Carlesse com o ex-secretário e sobrinho, Claudinei Quaresemin. As mensagens apontam que, em julho deste ano, os dois pareciam estar esperando por uma operação policial.
Mauro Carlesse: E aí foi alguém. Por aqui, tudo normal
Claudinei 2: Boa. Nada. Só me deixou sono e fome
Mauro Carlesse: Também levantei 5:30 e fui lá na janela esperar
Claudinei 2: Também
Mauro Carlesse: To indo pra fazenda
Sobre as conversas, a defesa do ex-governador informou que nunca houve qualquer diálogo sobre fuga ou qualquer pedido de prisão e que o processo está suspenso por estar “faltando peças”. O advogado disse que Mauro Carlesse continua à disposição do Poder Judiciário e que não deixará de buscar os meios legais para “combater o abuso representado por essa prisão” (veja íntegra da nota abaixo).
‘Casa é muito antiga e eu tenho coceira no corpo’
Quando fazia uma viagem para a Itália, em julho de 2023, Carlesse enviou mensagens para uma mulher sobre uma casa na Itália. Na conversa, ele diz que chegou a Madri e que iria pegar um avião para Roma, na Itália, e depois seguiria para um hotel. Em seguida, a mulher pergunta sobre uma casa e Carlesse responde:
“A casa é muito antiga e eu tenho coceira no corpo todo, aí eu falei, não, vamos pro hotel e a casa a gente usa só pra, como endereço, entendeu? Casa muito antiga e tinha umas coisas lá que eu não gostei, umas estátua véia, aquelas coisa antiga” (sic), disse o ex-governador em áudio.
Em outubro do mesmo ano, outra conversa de Carlesse e ‘Nei’ cita a cobrança de um aluguel de três meses em Pieve Caina, no valor de 1,5 mil euros, além da abertura de contas para pessoa jurídica e pessoa física.
Esquema com contratos públicos
No início de dezembro, a Polícia Federal interceptou um avião em Brasília e encontrou documentos que ligam o ex-governador Mauro Carlesse a um esquema de pagamento de propina em troca de contratos públicos com o Governo do Tocantins durante a gestão dele. Todos, segundo a PF, suspeitos de superfaturamento.
Carlesse nega plano de fuga
O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) negou o plano de fuga internacional durante entrevista. Ele afirmou ter passaporte e cidadania italiana para viagens de férias. Segundo ele, a identidade uruguaia que conseguiu está relacionada a transações comerciais.
“Por ser um cidadão italiano, eu posso ter casa lá. Tinha que ter uma casa lá, tinha não, tenho. Pra quando eu for de férias, por algum motivo, ter onde ficar. O Uruguai é comércio, negócio. Fui várias vezes, vou várias vezes se precisar. É do Mercosul, nós temos muito interesse, inclusive do estado aqui, de levar produto e trazer produto”, disse Carlesse em entrevista.
Renúncia ao governo
Mauro Carlesse assumiu o Poder Executivo do Tocantins em 2018. Ele era presidente da Assembleia Legislativa e acabou na cadeira de governador porque Marcelo Miranda (MDB) e Cláudia Lelis (PV), então governador e vice, foram cassados por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, após condenação por uso de caixa dois na campanha eleitoral de 2014.
Carlesse assumiu o mandato de forma interina e conseguiu se manter no cargo em uma eleição suplementar e depois novamente na eleição geral de 2018.
Ele ficou no cargo até outubro de 2021, quando foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça por suspeita de corrupção. Na época, a Polícia Federal apontou que Carlesse estava envolvido em um esquema de recebimento de propinas e também interferência política na Polícia Civil.
Carlesse renunciou ao cargo antes da votação pelo impeachment na Assembleia Legislativa. Com a renúncia, Wanderlei Barbosa (Republicanos), seu vice, assumiu o mandato.
Íntegra da nota de defesa de Mauro Carlesse
Primeiro, não havia e não há qualquer pedido de prisão desde julho. Segundo, se houvesse qualquer pedido, apenas a título de argumentação, não há como saber, pois, como se sabe, esses pedidos tramitam em total sigilo. Terceiro, nunca houve qualquer diálogo sobre fuga ou sobre qualquer pedido de prisão, não passando de mera ilação tais afirmações!
Registre-se que o processo está suspenso por ordem do juiz Dr. Marcio, haja vista estar faltando peças no processo, situação que impede o regular processamento dos autos. A Defesa requereu a regularidade dos autos, mas até o momento nada acontece. Não houve oitivas das testemunhas. Portanto, o processo está parado. Não por culpa dos réus. Assim, por mais esse motivo, não há como falar um plano de fuga ou qualquer outra ilação nesse sentido!
Carlesse, continua à disposição de qualquer esclarecimento ao Poder Judiciário. Ressaltando que não deixará de buscar os meios legais para combater o abuso representado por essa prisão. Reiterando sua confiança nas instituições, notadamente no Poder Judiciário!
(Fonte: g1 Tocantins)