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Mais de 1,3 mil são presos durante protestos contra Macron na França

Manifestantes se reúnem na Champs-Elysées, perto do Arco do Triunfo, em Paris — Foto: Lucas Barioulet / AFP

Milhares de manifestantes, chamados de “coletes amarelos”, protestaram pelas ruas de Paris neste sábado (8) pelo quarto final de semana consecutivo. Perto da Champs-Elysées, a polícia jogou gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que enfrentaram a polícia gritando “Macron renúncia!”.

Cerca de 700 pessoas foram detidas por todo o país, sendo 600 só em Paris, segundo agências internacionais que citam autoridades do governo e polícia. Os protestos deixaram cerca de 30 feridos. Segundo autoridades, cerca de 8 mil pessoas participaram dos protestos em Paris, e cerca de 31 mil em toda a França.

A polícia, que delimitou as ruas por onde os manifestantes poderiam passar, jogou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os que haviam desobedecido a determinação, em ruas próximas à Champs-Elysées, perto do Arco do Triunfo.

Além disso, usou canhões de água e cavalos contra os manifestantes, mas houve menos violência do que na semana passada, quando manifestantes incendiaram 112 carros e saquearam lojas nos piores tumultos em Paris desde maio de 1968.

Entre os manifestantes detidos em Paris, de acordo com a Reuters, 500 permaneceram sob custódia depois que a polícia encontrou armas em potencial, como martelos, bastões de beisebol e bolas de metal.

Os manifestantes conseguiram sair área altamente protegida dos Champs-Elysées para outras partes da cidade, incendiando carros, lixeiras e persianas de madeira.

Polícia atira bombas de gás lacrimogêneo em manifestantes na Champs Elysees, em Paris — Foto: Benoit Tessier/Reuters

Pequenos grupos de policiais se moveram rapidamente entre os manifestantes e reprimiram qualquer um que tentasse danificar lojas ou instalações públicas.

Uma fonte policial disse à Reuters que temia que as coisas ficassem fora de controle depois do anoitecer. Grandes grupos de pessoas estariam indo para o leste de Paris, onde uma marcha contra a mudança climática estava em andamento. Policiais armados foram vistos quebrando barricadas improvisadas no bairro de compras de luxo em torno do Boulevard Haussmann, onde os supermercados foram saqueados e vários carros foram incendiados.

Cerca de 89 mil policiais foram mobilizados em todo o país. Desses, 8 mil estão alocados em Paris, para evitar as cenas da última semana, que contou com carros incendiados e com o Arco do Triunfo pichado com frases contra o presidente francês Emmanuel Macron.

No Twitter, imagens mostram jatos de água sendo atirados contra os manifestantes. O resgate da Cruz Vermelha relatou que a ação deixou feridos.

O primeiro-ministro, Édouard Philippe, presidiu na manhã deste sábado uma reunião com os responsáveis de segurança no Ministério do Interior, entre eles o ministro da pasta, Christophe Castaner.

Pela primeira vez em mais de uma década, as forças da ordem em Paris contaram com blindados da Gendarmeria (uma das forças militares encarregada da segurança do Estado francês) que podem atravessar barricadas.

A manifestação de sábado é a quarta de uma série de protestos que ocorreram no último fim de semana nos piores tumultos que a França testemunhou durante décadas, com a ira concentrada principalmente no desempenho do presidente francês, Emmanuel Macron.

“Temos que mudar a República”, disse uma manifestante à CNN. “As pessoas aqui estão famintas. Algumas pessoas ganham apenas 500 euros por mês que não dá para viver. Queremos que o presidente vá embora”, disse.

Patrice, um pensionista de Paris, disse que estava protestando por causa do “governo, dos impostos e de todos esses problemas. Temos que sobreviver”.

O setor de varejo francês sofreu uma perda de receita de cerca de US$ 1,1 bilhão desde o início dos protestos do colete amarelo no mês passado, disse a porta-voz da federação de varejo francesa, Sophie Amoros, à CNN.

Policiais prendem manifestante durante protestos na região da Champs Elysees — Foto: Christian Hartmann/Reuters

Cidade fantasma

Grande parte de Paris parecia uma cidade fantasma, com museus e lojas de departamento fechados, no que deveria ter sido um dia festivo de compras antes do Natal.

Os turistas eram escassos e os residentes eram aconselhados a ficar em casa. Dezenas de ruas ficaram fechadas para o tráfego, enquanto a Torre Eiffel e museus como o Louvre, o Musée d’Orsay e o Centre Pompidou não abriram para o público.

Lojas de departamento também não abriram as portas por medo de saques que aconteceram em outros dias de protesto, entre elas a Galeries Lafayette, Le Bon Marché, BHV e Printemps.

As áreas mais sensíveis por serem pontos de concentração dos “coletes amarelos”, como o bairro da Champs-Elysées, as praças da República e da Bastilha, foram fechadas para o tráfego desde o início da manhã.

Diversos mercados e estabelecimentos públicos também não funcionaram, além de aproximadamente 40 estações de trem e metrô. Agências bancárias, cinemas, lojas, cafés e restaurantes cobriram suas vitrines com tapumes e placas de fibra de vidro para se proteger de atos de vandalismo dos manifestantes.

Veja alguns dos locais que estão fechados neste sábado:

  • Louvre
  • Musée d’Orsay
  • Museu de Arte Moderna
  • Grand Palais
  • Petit Palais
  • Museu do Homem
  • Palácio de Chaillot
  • Cidade da Arquitetura e do Patrimônio
  • Torre Eiffel
  • Duas sedes da Ópera de Paris
  • Palácio Garnier
  • Praça da Bastilha
  • Praça da República

O ministro do Interior, Christophe Castaner, disse que “o governo estendeu a mão” com a disponibilidade para o diálogo e medidas como a suspensão do aumentos dos impostos sobre o combustível que estava programado para janeiro: “Agora é preciso sentar à mesa e discutir”.

Manifestantes carregam a bandeira francesa com as datas que marcaram a história do país acrescentando 2018 por causa dos protestos contra o governo Macron durante manifestação na Champs Elysees, perto do Arco do Triunfo — Foto: Benoit Tessier/Reuters

Protestos na Bélgica

Houve protestos também em Bruxelas, capital da Bélgica, e cerca de 70 pessoas foram presas preventivamente, segundo Ilse Van De Keere, porta-voz da área de Bruxelas-Capital-Ixelles. Dezenas de pessoas se reuniram em dois lugares da capital belga, Arts-Lois e Porte de Namur, mas sem atos violentos.

As autoridades implantaram cordões policiais onde estão concentradas as instituições do bloco europeu (Comissão, Conselho e Parlamento Europeu), impedindo o acesso a veículos e pedestres.

Os “coletes amarelos” também bloquearam a auto-estrada E17 em direção a Rekkem, cidade localizada perto da fronteira francesa. Outra estrada que leva à fronteira francesa também foi bloqueada por manifestantes.

O movimento foi exportado para a Bélgica, particularmente para a região francófona. Em 30 de novembro, uma manifestação de 300 pessoas também terminou em tumultos em Bruxelas, onde eles queimaram dois veículos da polícia.

Confrontos

No sábado (1º), houve confronto dos manifestantes com a polícia na Avenida Champs-Elysées, em Paris, que deixou 130 feridos e mais de 400 detidos. Cerca de 36 mil saíram às ruas por toda a França naquele dia.

Aumento cancelado

Os protestos foram mantidos apesar de o governo ter anunciado na quarta-feira (5) que desistiu de aumentar os impostos de combustíveis. Inicialmente, a medida seria suspensa por seis meses, mas depois o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, disse que o aumento não entraria no projeto orçamentário de 2019.

Segundo a imprensa francesa, o presidente Emmanuel Macron tomou a decisão após perceber que a primeira proposta não foi bem recebida pelos “coletes amarelos”.

Apesar da desistência do aumento no imposto do combustível, os “coletes amarelos” continuam exigindo mais concessões, incluindo impostos mais baixos, salário mínimo mais alto, custos de energia mais baixos, melhores benefícios de aposentadoria e até a demissão de Macron.

As autoridades dizem que os protestos estão sendo usados pela extrema-direita e anarquistas empenhados na violência e na agitação social.

O movimento

Os protestos começaram em 17 de novembro em oposição ao aumento dos impostos sobre os combustíveis, mas, desde então, se tornaram um amplo movimento contra a política econômica e social do presidente Emmanuel Macron.

O governo, encurralado pelas ruas, suspendeu o imposto sobre combustíveis e congelou os preços da eletricidade e do gás durante o inverno.

No entanto, para os “coletes amarelos”, que ampliaram suas reivindicações, essas concessões foram insuficientes. Contam também com o apoio da maioria dos franceses (68%, segundo a última pesquisa).

Muitos dos “coletes amarelos”, chamados assim pelo adereço fluorescente de segurança que usam, se manifestam pacificamente, mas alguns se radicalizaram. Membros de grupos de extrema direita e de extrema esquerda aproveitam os protestos para enfrentar a polícia, às vezes de forma brutal.

Alguns membros do coletivo fizeram um chamado a não participar de manifestações em Paris para evitar mortes. Até o momento, não foram registradas vítimas diretas, mas quatro pessoas perderam a vida em acidentes relacionados com os protestos.

Algumas embaixadas, como a de Estados Unidos, Bélgica e Portugal, aconselharam seus cidadãos a adiar suas viagens e pediram aos residentes na França a aumentar as precauções.

Futuro da Europa na balança

Dominique Moisi, especialista em política externa do Institut Montaigne, de Paris, e ex-assessor de campanha da Macron, disse à CNN que a presidência da França não está apenas em crise, mas que o futuro da Europa também está na balança. “Dentro de alguns meses, haverá eleições europeias, e a França deveria ser portadora de esperança e progresso europeu. O que acontecerá se não for mais? Se o presidente está incapacitado de levar essa mensagem?”, questionou.

“É sobre o futuro da democracia também; democracias não-liberais estão crescendo em todo o mundo. E se Macron falhar, o futuro da França corre o risco de parecer a presidência da Itália hoje. E é muito mais sério porque temos um Estado centralizado, que desempenha um papel importante no equilíbrio de poder dentro da Europa. Mas não se engane, é uma versão francesa de um fenômeno muito mais global”.

O movimento CGT da extrema esquerda da França prometeu apoio ao movimento, que também é apoiado pelo líder da extrema direita, Marine Le Pen.

Fonte: G1

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