Mais potente que bomba atômica, erupção de vulcão em Tonga pode aquecer temporariamente a Terra, diz Nasa
Brener Nunes
A erupção ocorrida no arquipélago de Tonga em janeiro lançou uma nuvem de vapor de água na estratosfera da Terra capaz de influenciar temporariamente no clima do planeta. O vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, localizado no Oceano Pacífico Sul, expeliu água o suficiente para encher mais de 58 mil piscinas olímpicas, e o evento foi considerado mais potente que a bomba de Hiroshima.
O vapor originado pela explosão foi detectado pelo Microwave Limb Sounder (MLS), da NASA, responsável por medir a emissão gases atmosféricos.
Segundo um estudo sobre o impacto da erupção na hidratação da atmosfera, o fenômeno pode acabar aquecendo temporariamente a superfície da Terra. Os pesquisadores não fizeram uma projeção de qual seria o impacto exato nos termômetros e nem do tempo exato dessa influência no clima.
Publicado na “Geophysical Research Letters”, a pesquisa examina a quantidade de vapor de água que o vulcão Tonga expeliu para a estratosfera, camada que fica entre 12 e 53 quilômetros acima da superfície da Terra.
“Nunca vimos nada parecido”, disse Luis Millán, cientista atmosférico do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa no sul da Califórnia e líder do estudo.
Imagens de antes e depois, captadas por um satélite, mostram o estrago. A erupção deixou mortos no Peru e foi sentida até no Alasca.
Imagem de satélite mostra erupção submarina em Tonga em 15 de janeiro de 2022 — Foto: Cortesia/Serviço Meteorológico de Tonga
Evento raro
A estimativa é de que foram lançados cerca de 146 teragramas (1 teragrama equivale a um trilhão de gramas) de vapor d’água na estratosfera. Isso representa 10% do vapor presente nessa camada.
Depois do evento, a equipe do MLS começou a ver leituras de vapor de água que estavam fora dos gráficos padrão. “Tivemos que inspecionar cuidadosamente todas as medições para garantir que fossem confiáveis”, disse Millán.
A nuvem de cinzas gerada pela erupção, fotografada no dia seguinte ao evento — Foto: NASA
Essa magnitude só foi possível devido a formação subaquática do vulcão. A estrutura, chamada de caldeira, é uma depressão em forma de bacia, geralmente formada após a erupção de magma. No caso do Tonga, fica localizada em uma profundidade no oceano que possibilitou a enorme expulsão de vapor.
Raramente uma erupção tem essa capacidade. Durante os 18 anos em que a Nasa rastreia esses dados, apenas duas outras tiveram a capacidade de expelir quantidade significativa de vapor para altitudes tão altas: o evento Kasatochi, em 2008 no Alasca; e a erupção Calbuco, em 2015, no Chile.
No entanto, o vapor de água de ambas as erupções anteriores se dissipou rapidamente, e o que foi expelido por Tonga ficará na atmosfera por vários anos.
Efeitos
A erupção submarina causou tsunamis e pôde ser ouvida até nos Estados Unidos, devido ao estrondo sônico que circulou o globo duas vezes.
Além disso, o vapor pode influenciar a química atmosférica, aumentando reações que podem acelerar a destruição da camada de ozônio temporariamente.
O fenômeno se soma aos efeitos do aumento crescente da temperatura na Terra: recentes relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostram que as temperaturas mundiais estão subindo por causa da atividade humana.
Depois de uma erupção é mais comum que ocorra um resfriamento da atmosfera, uma vez que as cinzas expelidas pelos vulcões refletem a luz solar de volta ao espaço. No caso de Tonga, cinzas tóxicas contaminaram as reservas de água, as colheitas foram destruídas e pelo menos duas aldeias foram varridas do mapa.